São Paulo, sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

É preciso respeitar o desenvolvimento próprio da criança

EMILIA CIPRIANO
CLAUDIO CASTRO SANCHES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A educação escolar no Brasil não tem considerado os tempos do desenvolvimento humano como fator fundamental para a construção de um projeto educativo de qualidade. Assistimos a uma visão fragmentada da educação, cristalizada em espaços e tempos, como se fossem processos diferentes, organizados pelo currículo/conteúdo, em detrimento do contexto de vida e do tempo do aprender.
A inclusão das crianças de seis anos no ensino fundamental tem como objetivo, segundo o MEC, melhorar as condições da equidade e de qualidade da educação básica, estruturar um novo ensino fundamental para que as crianças prossigam nos estudos alcançando maior nível de escolaridade.
A implantação do ensino de nove anos implica a elaboração de uma proposta pedagógica que crie um espaço de interlocução entre a educação infantil e o ensino fundamental.
Na prática, esse diálogo não vem acontecendo. As crianças de seis anos adormeceram participando de um contexto pedagógico e amanheceram numa primeira série, sem que fossem tomadas as medidas necessárias para a construção de uma escola que respeite o direito da infância e os tempos próprios de seu desenvolvimento. A entrada das crianças aos seis anos na educação fundamental não pode representar negação e ruptura do contexto socioafetivo e de aprendizagem. É preciso assegurar a construção da cultura infantil.
Não se pode antecipar a escolaridade, transferindo para as crianças de seis anos os conteúdos e as atividades da antiga primeira série. Antes deveria ser um momento privilegiado para responder: o que se aprende na escola atual transforma a vida? Ela é espaço de interlocução dialógica, troca de experiências, histórias de vida, marca da educação infantil, ou mero espaço de aprendizagem individual, descontextualizado e desvinculado da vida?

EMILIA CIPRIANO, doutora em educação (PUC/ SP), e CLAUDIO CASTRO SANCHES, mestre em educação (PUC/SP), são consultores da Aprender a Ser Consultoria e Assessoria Educacional



Texto Anterior: Escolas não se adaptam a aluno de 6 anos
Próximo Texto: Outro lado: Mudança será concluída neste ano, dizem pastas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.