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Escolas não se adaptam a aluno de 6 anos
No primeiro ano do ensino fundamental, colégios estaduais e municipais não têm estrutura ou projeto pedagógico adequado
Proposta era mesclar o início da alfabetização com atividades lúdicas, mas professores não foram preparados para isso
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sentada em uma carteira de
adulto, Isabela, 6, não consegue
colocar o pé no chão. Suas sandalinhas balançam dois palmos
acima do solo. Também com os
pés no ar, colegas de sala dela
sentam com a mochila nas costas, para ficarem próximas à
mesa. Outras estão em pé, para
alcançar lápis e papel.
"Elas são pequenas para ficar
cinco horas aqui. Estão sempre
inquietas, incomodadas. Depois do lanche, coçam o olho de
sono. Umas dormem apoiadas
na mesa", observa Maria, professora da turma.
A cena, passada em uma escola municipal em Cidade Dutra (zona sul), exemplifica a má
notícia da volta às aulas na rede
pública de São Paulo, segundo
docentes: não houve preparação para receber crianças de
seis anos nas escolas de ensino
fundamental, norma implementada neste ano na cidade.
Até o ano passado, o antigo
primário recebia alunos a partir dos sete. Lei federal determinou a antecipação da entrada para que os estudantes pobres tivessem mais um ano de
escolarização (crianças na faixa
do fundamental devem, obrigatoriamente, estar na escola).
A ideia era que houvesse
adaptação para receber as
crianças mais novas, com carteiras adequadas, espaços como brinquedotecas e a criação
de projeto pedagógico que mesclasse o início da alfabetização
com atividades lúdicas.
Nada disso ocorreu na rede
pública de São Paulo, segundo
professores e diretores ouvidos
pela Folha, presidentes das entidades que representam diretores dos colégios, educadores
e um membro do Conselho Nacional de Educação. A lei, de
2005, havia dado cinco anos
para implementação.
Tanto o governo José Serra
(PSDB) quanto a gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM)
dizem que a adaptação do novo
fundamental já começou, mas
admitem que não foi finalizada.
"As crianças reclamam que
não têm parquinho, que têm de
ficar cinco horas na sala de aula. As carteiras que atendem
aos alunos da EJA [antigo supletivo] são as mesmas das dos
de seis anos", diz João Alberto
Rodrigues de Souza, do Sinesp
(sindicato dos dirigentes da rede municipal).
"Não houve capacitação dos
professores. É para alfabetizar?
É para focar na parte lúdica?
Ninguém sabe", diz o presidente da Udemo (sindicato dos dirigentes da rede estadual), Luiz
Gonzaga de Oliveira Pinto.
Professor de escola estadual
na zona sul, Batista conta que
precisa levantar as crianças no
colo para elas alcançarem os bebedouros. Elas também têm dificuldades para usar o banheiro.
"Verificamos a falta de adaptação em São Paulo e em boa
parte do país", diz o presidente
da Câmara de Educação Básica
do Conselho Nacional de Educação, Cesar Callegari. "Muitas
redes apenas transferiram a antiga primeira série [alunos de
sete anos] para o primeiro ano".
A gestão Kassab diz que a
adequação do mobiliário iniciou
em 2007, não foi concluída, mas
todas escolas serão atendidas.
Já o governo estadual afirma
que "à medida das diferentes
demandas da diretorias de ensino serão encaminhados equipamentos para as escolas".
A prefeitura possui 55,5 mil
alunos no novo primeiro ano. O
Estado não informou o dado.
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