São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011

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Motos matam 1 pedestre a cada 3 dias

Dez anos após acidente com guitarrista dos Titãs, atropelamentos por motocicletas matam mais que por ônibus

Balanço da CET mostra que, entre 2009 e 2010, 603 pessoas morreram em acidente com motos, sendo 139 pedestres


Eduardo Knapp/Folhapress
Entre carros, motos e ônibus, pedestres se arriscam para atravessar a avenida Eusébio Matoso, na zona oeste de São Paulo

ROGÉRIO PAGNAN
ALENCAR IZIDORO

DE SÃO PAULO

O guitarrista dos Titãs Marcelo Fromer morreu, em junho de 2001, após ser atropelado por uma moto quando corria na avenida Europa -na zona oeste de São Paulo.
O acidente foi só um prenúncio do convívio litigioso entre motos e pedestres.
Dez anos depois, números inéditos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) obtidos pela Folha revelam que, num intervalo de 12 meses, 139 pessoas morreram numa condição um tanto similar à do músico dos Titãs.
Ou seja: a cada três dias, um pedestre morre em acidente com motos na capital.
Os números correspondem ao período de agosto de 2009 a julho de 2010 e foram enviados à Promotoria devido a uma investigação sobre os motociclistas no trânsito.
Eles mostram que as motos não matam apenas quem está em cima dela: de 603 mortes envolvendo esses veículos nesse período, 399 eram os condutores, mas 139 estavam a pé na via pública. Num ano, há mais de 1.300 mortes no trânsito da cidade.
Outro balanço da CET já mostrou que, em 2009, os atropelamentos fatais por motos (123) superaram até os por ônibus (117). Só perderam para os carros (258).
O especialista em trânsito Jaime Waisman, professor da USP, avalia que a responsabilidade é compartilhada.
De um lado, há motociclistas que transitam em alta velocidade nos estreitos corredores entre os carros. De outro, é comum a displicência de pedestres fora da faixa.
"A moto pode parecer frágil em relação a um caminhão ou ônibus. Mas é muito potente em relação a quem está a pé. E a preocupação é sempre com a parte mais frágil, ou seja, os pedestres."
O presidente do sindicato dos motoboys, Gilberto Almeida Santos, diz que a situação mais frequente é quando há congestionamentos e os pedestres tentam atravessar sem observar motos que passam pelo espaço apertado entre os carros.
O problema é que, além da alta velocidade desses veículos, a utilização desses corredores pelas motos é reprovada pela maioria dos técnicos.
Por outro lado, dados da CET mostram que, em dois terços dos atropelamentos fatais, as vítimas estavam fora da faixa. Embora haja sinal de imprudência do pedestre, há também responsabilidade do poder público -afinal, muitas vias não têm nem a demarcação da travessia.


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