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MÁFIA DOS FISCAIS
Outros dois policiais militares são presos, mas sob acusação de arrecadar propina na região central de SP
PM é acusado de participar de atentado
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
A Polícia Civil prendeu ontem
três policiais militares acusados de
fazerem parte da máfia dos fiscais
-uma rede de corrupção e extorsão que age nas administrações regionais da Prefeitura de São Paulo.
Um dos policiais é apontado
também como integrante do grupo que organizou e executou um
atentado contra um dos denunciantes do esquema.
Estão presos o capitão Carlos Alberto Paulino, o sargento Solon
Rodrigues e o soldado João Alexandre Passos Fernandes. Todos
pertenciam à 3ª Companhia do 11º
Batalhão, responsável pelo policiamento na região do largo da Concórdia, no Brás.
Os três são acusados de concussão (exigir favor para deixar de
cumprir função pública) e formação de quadrilha e estão com prisão temporária decretada. Passos
foi indiciado também por tentativa
de homicídio.
Os policiais começaram a ser investigados na sexta-feira passada,
quando o ambulante Afonso José
da Silva, 29, procurou o Ministério
Público dizendo que estava sendo
ameaçado pelos PMs. Na ocasião,
os três foram citados pelos nomes.
Às 18h30 do sábado, Silva foi baleado em casa por dois homens
que ainda não foram identificados.
Por volta das 21h30 do mesmo
dia, quatro homens ocupando um
Santana azul dispararam dois tiros
contra o camelô Fernando Rodrigues da Silva, 21, em frente à casa
do ambulante, em Guarulhos
(Grande São Paulo).
Ontem, vizinhos de Silva, cujos
nomes são mantidos em sigilo, reconheceram o Santana de Passos,
placas CEP 8398, como sendo o
carro usado na ação.
Silva é filho da ambulante Ana
Maria Gasque Silva, 50, que foi à
televisão há três semanas denunciar o esquema de corrupção no
largo da Concórdia.
De acordo com a denúncia, o
presidente da Associação dos Comerciantes do Brás, Wehbe Dawalibi, conhecido como Jô, recolhia
propina de comerciantes locais,
alegando que o dinheiro seria usado para retirar os camelôs da área.
Parte da arrecadação do dinheiro
era feita pelos PMs, segundo os denunciantes. Eles também exigiriam propina dos camelôs para
deixá-los trabalhar no local.
Durante as investigações da máfia dos fiscais, a denúncia foi confirmada por outros ambulantes e
pela secretária de Dawalibi, S.L.O.,
23. Aos camelôs, no entanto, ainda
segundo os depoimentos, Dawalibi teria dito que o dinheiro arrecadado seria destinado à campanha
do vereador Hanna Garib (PPB) à
Assembléia Legislativa.
Garib controla politicamente a
Sé e nega qualquer envolvimento
com o esquema, dizendo que as
acusações têm fundo político. Dawalibi, que foi sócio da mulher de
Garib em uma loja de roupas, teve
prisão preventiva decretada e está
foragido. Seu advogado tem negado que o comerciante tenha relação com a rede de corrupção.
Ligações perigosas
A secretária de Dawalibi confirmou que os policiais acusados teriam conversado com o comerciante no dia em que as denúncias
de corrupção foram feitas à televisão, em 5 de fevereiro, e um dia antes do atentado de Guarulhos.
De acordo com o delegado Américo Santos Neto, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), o carro do policial
Passos foi reconhecido por quatro
características básicas: faróis mais
luminosos que o normal, escapamento solto provocando muito
ruído, massa plástica cinza em
uma das laterais traseiras e polainas soltas no pará-choque.
O PM Passos nega as acusações e
diz que não saiu de casa naquela
noite. Ele chegou a indicar duas
pessoas que poderiam testemunhar que seu carro não saiu da garagem (nem foi emprestado), mas
os supostos álibis disseram ao delegado não ter reparado se o veículo estava recolhido.
Ele não foi reconhecido pelas testemunhas, que viram apenas dois
dos quatro homens que estavam
no carro, segundo a polícia.
O sargento Rodrigues se limitou
a negar as acusações e o capitão
Paulino não quis dar declarações.
Ambos seriam ouvidos na noite de
ontem, antes de serem conduzidos
ao presídio militar Romão Gomes,
onde já estava o soldado Passos.
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