São Paulo, Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 1999
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MÁFIA DOS FISCAIS
Outros dois policiais militares são presos, mas sob acusação de arrecadar propina na região central de SP
PM é acusado de participar de atentado

SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local

A Polícia Civil prendeu ontem três policiais militares acusados de fazerem parte da máfia dos fiscais -uma rede de corrupção e extorsão que age nas administrações regionais da Prefeitura de São Paulo.
Um dos policiais é apontado também como integrante do grupo que organizou e executou um atentado contra um dos denunciantes do esquema.
Estão presos o capitão Carlos Alberto Paulino, o sargento Solon Rodrigues e o soldado João Alexandre Passos Fernandes. Todos pertenciam à 3ª Companhia do 11º Batalhão, responsável pelo policiamento na região do largo da Concórdia, no Brás.
Os três são acusados de concussão (exigir favor para deixar de cumprir função pública) e formação de quadrilha e estão com prisão temporária decretada. Passos foi indiciado também por tentativa de homicídio.
Os policiais começaram a ser investigados na sexta-feira passada, quando o ambulante Afonso José da Silva, 29, procurou o Ministério Público dizendo que estava sendo ameaçado pelos PMs. Na ocasião, os três foram citados pelos nomes.
Às 18h30 do sábado, Silva foi baleado em casa por dois homens que ainda não foram identificados.
Por volta das 21h30 do mesmo dia, quatro homens ocupando um Santana azul dispararam dois tiros contra o camelô Fernando Rodrigues da Silva, 21, em frente à casa do ambulante, em Guarulhos (Grande São Paulo).
Ontem, vizinhos de Silva, cujos nomes são mantidos em sigilo, reconheceram o Santana de Passos, placas CEP 8398, como sendo o carro usado na ação.
Silva é filho da ambulante Ana Maria Gasque Silva, 50, que foi à televisão há três semanas denunciar o esquema de corrupção no largo da Concórdia.
De acordo com a denúncia, o presidente da Associação dos Comerciantes do Brás, Wehbe Dawalibi, conhecido como Jô, recolhia propina de comerciantes locais, alegando que o dinheiro seria usado para retirar os camelôs da área.
Parte da arrecadação do dinheiro era feita pelos PMs, segundo os denunciantes. Eles também exigiriam propina dos camelôs para deixá-los trabalhar no local.
Durante as investigações da máfia dos fiscais, a denúncia foi confirmada por outros ambulantes e pela secretária de Dawalibi, S.L.O., 23. Aos camelôs, no entanto, ainda segundo os depoimentos, Dawalibi teria dito que o dinheiro arrecadado seria destinado à campanha do vereador Hanna Garib (PPB) à Assembléia Legislativa.
Garib controla politicamente a Sé e nega qualquer envolvimento com o esquema, dizendo que as acusações têm fundo político. Dawalibi, que foi sócio da mulher de Garib em uma loja de roupas, teve prisão preventiva decretada e está foragido. Seu advogado tem negado que o comerciante tenha relação com a rede de corrupção.

Ligações perigosas
A secretária de Dawalibi confirmou que os policiais acusados teriam conversado com o comerciante no dia em que as denúncias de corrupção foram feitas à televisão, em 5 de fevereiro, e um dia antes do atentado de Guarulhos.
De acordo com o delegado Américo Santos Neto, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), o carro do policial Passos foi reconhecido por quatro características básicas: faróis mais luminosos que o normal, escapamento solto provocando muito ruído, massa plástica cinza em uma das laterais traseiras e polainas soltas no pará-choque.
O PM Passos nega as acusações e diz que não saiu de casa naquela noite. Ele chegou a indicar duas pessoas que poderiam testemunhar que seu carro não saiu da garagem (nem foi emprestado), mas os supostos álibis disseram ao delegado não ter reparado se o veículo estava recolhido.
Ele não foi reconhecido pelas testemunhas, que viram apenas dois dos quatro homens que estavam no carro, segundo a polícia.
O sargento Rodrigues se limitou a negar as acusações e o capitão Paulino não quis dar declarações. Ambos seriam ouvidos na noite de ontem, antes de serem conduzidos ao presídio militar Romão Gomes, onde já estava o soldado Passos.


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