São Paulo, Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 1999
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O ACUSADO
Garib vê motivação política em denúncias
"Sou acusado porque sou a bola da vez"

ROGÉRIO GENTILE
da Reportagem Local

Acossado por denúncias que atingem com gravidade cada vez maior pessoas próximas, o vereador e deputado estadual eleito Hanna Garib (PPB), 49, diz ser "a bola da vez".
Em entrevista exclusiva à Folha ontem, acompanhado por seu advogado, o parlamentar sustenta que é inocente e que as acusações têm fundo político. "Querem que eu chegue derrubado na Assembléia Legislativa."
Garib disse que defende a aprovação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso e que já ofereceu a quebra de seu sigilo bancário e de sua família para provar que não tem nada a temer.

Folha - Alguma vez o senhor recebeu propina de camelôs ou comerciantes?
Hanna Garib -
De jeito nenhum. Repudio essas acusações. Não participo disso e tenho raiva de quem participa.
Folha - A que o senhor atribui esse tipo de acusação?
Garib -
Não sei de onde surgiu isso. Sei que há um fundo político. A minha secretária, antes de tudo isso começar, recebeu um alerta de um empresário. Ele disse que estavam tentando me pegar. Querem que eu chegue derrubado na Assembléia.
Folha - O senhor teme ser cassado na Assembléia Legislativa?
Garib -
Não tem prova nenhuma contra mim.
Folha - O senhor é suspeito de ter mandado matar o camelô Afonso José da Silva.
Garib -
Eu? Pelo amor de Deus. Quero que ele viva bem para que vá perante a Justiça repetir as acusações de que recolheram R$ 442 mil. Rezo diariamente para que ele recupere a saúde. Quero ele na Justiça.
Folha - O senhor conhece Pierre Salloun El Nanhoum, acusado de coordenar a cobrança das propinas na Regional Sé, que o senhor controla? Qual a relação que o senhor tem com ele?
Garib -
Ainda garoto, conheci ele na igreja. Não era e nunca foi assessor do meu gabinete.
Folha - Nunca intermediou qualquer tipo de atividade ilícita para o senhor?
Garib -
Pelo amor de Deus!
Folha - O senhor teme a quebra de seu sigilo bancário?
Garib -
Ao contrário. Oferecemos isso, abrimos sem problema. O meu e o de todos os membros de minha família.
Folha - Wehbe Dawalibi, o Jô, presidente da Associação dos Comerciantes do Brás, fez doações para a sua campanha eleitoral?
Garib -
Não. Em 1996 (na campanha a vereador), ele me ajudou. Não me lembro em quanto, não tenho de cabeça. Desta vez (na campanha a deputado estadual, em 98), não.
Folha - Quais suas relações?
Garib -
Minha relação com ele é de amizade há muito tempo. É da colônia. Tinha uma loja de confecções com minha mulher, que fechou logo depois do Natal.
Folha - A polícia suspeita que ele arrecadou recursos com lojistas, garantindo que, se eleito, o senhor tiraria os camelôs da frente dos estabelecimentos.
Garib -
Quem tira camelôs: o vereador ou a prefeitura? A competência está com a Secretaria das Administrações Regionais. A Regional da Sé não tem autoridade para isso, depende de ordem da secretaria.
Folha - O senhor é contra a CPI?
Garib -
Sou a favor da investigação.
Folha - Por que não votou?
Garib -
Estava impossibilitado no dia de comparecer ao plenário (para a Câmara, alegou problemas de saúde). Só que quero que investiguem a época da Erundina. Quando era administrador da Sé, a região tinha 827 ambulantes. Quando voltamos após a Erundina, tinha 12 mil na Sé. É só pegar os jornais da época.
Folha - Como sua família está reagindo?
Garib -
Só tenho dó dos meus filhos e da minha mulher. Na escola, dizem: teu pai é isso, teu pai é aquilo. Atualmente, se um cara dá um grito no Rio Grande do Sul, todo mundo fala que foi o Garib. Se uma rua afunda no interior do Goiás, foi o Garib. Sou a bola da vez.


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