São Paulo, domingo, 26 de março de 2000 |
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TALENTO EM RISCO Potencial surpreende comunidades carentes; 3% da população tem traços de superdotados País desperdiça pequenos "gênios"
ANTÔNIO GOIS da Reportagem Local Para o pequeno Pedro Dão dos Santos, 10, tudo é muito simples: "Eu faço as contas na parede da minha cabeça". As contas a que ele se refere são cálculos matemáticos que a maioria das pessoas só se atreve a fazer se tiver uma calculadora eletrônica, como raízes quadradas, cúbicas e potenciações de até sete dígitos. O raciocínio e a precisão de Pedro para os cálculos matemáticos chamam a atenção dos cerca de 5.000 habitantes da cidade de São João D'Aliança, no interior de Goiás (a 160 km de Brasília). Ele divide seu tempo entre a escola e o trabalho no único posto de gasolina da cidade. Lá, vende geladinhos (picolés caseiros vendidos em pequenos sacos plásticos) e engraxa sapatos. Se, pela manhã, Pedro calcula de cabeça raízes quadradas de números como 56.169, à tarde, na escola, "aprende" junto com os colegas a somar dezenas e unidades. A história de Pedro não é a única de talentos que o Brasil desperdiça ou subaproveita. Mesmo nas mais pobres comunidades é possível encontrar crianças que, apesar do apoio quase inexistente do meio em que vivem, superam as dificuldades e chamam a atenção de professores e assistentes sociais. Alguns deles apresentam características de superdotados. "O Brasil está desperdiçando muitos de seus talentos. Um país que queira preservar sua inteligência não pode se dar ao luxo de ignorar as potencialidades de suas crianças", afirma a presidente da Associação Brasileira para Superdotados, Marsyl Bulkool Mettrau. É o caso de Flávio Tadeu de Oliveira Gonçalves, 13, que mora com os pais em um barraco na favela São Marcos, uma das mais violentas de Campinas (99 km de São Paulo). Um dos assuntos preferidos de Flávio é falar sobre mitologia grega e história da arte. "Ele domina esses assuntos com uma facilidade incomum em relação às demais crianças", relata Elvira de Souza, assistente social da Associação Beneficente Direito de Ser, que atende crianças de bairros pobres de Campinas. Como Flávio, há também a história de Luiz Augusto Pereira da Silva, 12. Morador de um casa situada em área de risco de desabamento no Jardim Lídia, em Santo Amaro (zona sul de São Paulo), Luiz desenvolveu um interesse pela leitura e pela pintura que ninguém sabe explicar de onde veio. Sua mãe está com câncer terminal e o pai, que ele não vê há quatro anos, era alcoólatra e o mandava roubar. Para Mettrau, os relatos da vida de Pedro, Luiz e Flávio são impressionantes, mas estão longe de ser casos isolados. "Cerca de 3% (4.800.000) dos brasileiros apresentam características de superdotados. Outros são extremamente talentosos e criativos. Esses meninos e meninas podem nascer em qualquer meio, em famílias ricas ou nas mais miseráveis." Próximo Texto: Só capacidade não assegura o sucesso Índice |
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