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"Dizem que sou besta porque só leio"
da Reportagem Local
Luiz Augusto Pereira da Silva,
12, tinha tudo para dar errado na
vida. Seu pai era alcoólatra e batia
nele com frequência. Desde que a
mãe, Josemilda Peres de Carvalho, expulsou o marido de casa,
há quatro anos, eles sobrevivem
com a ajuda de uma associação,
que dá R$ 50 por mês a Luiz e alimentos e remédios para a mãe,
que doente não pode trabalhar.
A casa onde moram, no Jardim
Lídia, Santo Amaro (zona sul de
SP) corre o risco de cair e técnicos
da prefeitura já aconselharam o
menino e a mãe a sair do local.
Como não têm para onde ir, os
dois continuam no local.
Por causa das surras que o pai
lhe dava e da tentativa de esconder da mãe o que havia acontecido, Luiz começou a sofrer, aos 10
anos, de úlceras que frequentemente o obrigam a faltar às aulas.
Apesar de todos esses fatores
contra, o garoto desenvolveu uma
paixão pela leitura e pelos estudos
que impressionou os assistentes
sociais que o atendem.
"Ele chegou aqui com um comportamento diferente dos demais
garotos. Enquanto todos queriam
jogar futebol e brincar, o Luiz ficava sozinho na biblioteca lendo e
desenhando", diz Denise Robles,
presidente da Associação Gotas
de Amor, no Brooklin, que atende
cerca de 240 crianças carentes.
O vocabulário com menos gírias e com menos erros de Luiz fez
com que ele se destacasse na Associação Gotas de Amor, assim
como seus desenhos. "Ao contrário dos demais garotos, os desenhos dele eram mais sensíveis,
menos agressivos, além de muitos
criativos", afirma Denise.
Quase todo o tempo livre do
menino é gasto na leitura e nos estudos em casa. "Meus colegas dizem que eu sou besta porque só fico lendo. Mas é o que eu mais gosto de fazer, além de estudar", diz.
O mais dramático na situação
de Luiz é que ele corre o risco de
perder o pouco que conquistou.
Sua mãe tem câncer e ela diz que
já foi "desenganada" pelos médicos. Além disso, a associação que
o atende já foi intimada pela prefeitura a deixar o casarão onde está instalada, no Brooklin.
"Não sei o que vai ocorrer com
o Luiz quando eu morrer. Como
sou órfã, não temos parentes para
ampará-lo. Minha única esperança é que a associação continue
cuidando dele", diz Josemilda.
"Se a associação fechar, vamos
ter que encaminhá-lo para um
abrigo para crianças. Nosso sonho, no entanto, é encontrar uma
família que o adote e dê todas as
condições para que ele se desenvolva. Se ele conseguiu chegar até
aqui com o que lhe foi oferecido, é
porque ele pode ir muito mais
longe", afirma Denise.
Apesar das dificuldades, Luiz
alimenta o sonho de chegar à faculdade. "Quero ser advogado e
ajudar as pessoas."
(AG)
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