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Garoto faz desafio para vender sorvete
do enviado especial
a São João D'Aliança
"Moço, se o senhor me perguntar uma pergunta de matemática,
e se eu responder certo, o senhor
compra um dindim?"
É com essa frase na ponta da
língua que Pedro dos Santos, 10
anos, aborda os passageiros e turistas que param para abastecer
ou se alimentar no posto Ipiranga
de São João D'Aliança.
O dindim a que Pedro se refere
é o picolé em saquinho que sua
mãe faz. Dependendo do dia, Pedro traz R$ 10 ou R$ 1 para casa.
O menino conta, no entanto,
que em três ocasiões, já conseguiu trazer para casa notas de R$
50 de motoristas que pararam no
posto para abastecer.
Quando há trabalho para os
pais de Pedro, eles ganham em
média R$ 15 por dia para colher
feijão. Nos melhores meses, a família junta R$ 400 por mês.
Antônia Dão da Silva, 53, e José
Serafim dos Santos, 53, tiveram
14 filhos (Pedro é o 13º). Dez deles
ainda vivem com os pais.
A família do garoto não chega a
passar fome, mas há dias em que
não tem café da manhã em casa.
"Passar fome a gente não passa.
Sempre tem feijão e arroz em casa
e, quando dá, a gente compra ovo
ou carne", afirma Antônia.
Toda a esperança da família em
sair da pobreza está depositada
no menino. "Meus outros filhos
não gostam de estudar e nasceram para ser pobres. O Pedro pode chegar à faculdade e nos ajudar", diz a mãe.
Ela tem esperança de que alguém dê uma bolsa para Pedro
estudar em escolas melhores. No
entanto não quer que seu filho seja afastado dos familiares. "Já teve
gente oferecendo levar o Pedro
para Brasília, mas eu não quero
ele longe de mim."
Ninguém da família sabe explicar como Pedro aprendeu a fazer
contas. "Quando ele tinha 5 anos,
ofereceram R$ 0,10 para que ele
trocasse uma nota de R$ 100. Ele
nunca tinha ido à escola, mas fez
a conta certa de quanto sobraria",
afirma a mãe.
A reportagem da Folha perguntou, por exemplo, qual seria a raiz
cúbica de 15.625. A resposta, imediata, foi a correta: 25. Calcular a
raiz cúbica de 9.261 levou mais
tempo, mas a resposta também
foi correta: 21. Pedro só errou, por
pouco, quando lhe foi perguntado a raiz quadrada de 56.169.
"Não é 238? Então é 237, né?",
perguntou. Ele estava correto.
"Há dias que o Pedro está inspirado e acerta até as vírgulas", afirma um dos donos do posto onde
o menino passa as manhãs, Constante Tobio Portela.
Apesar da facilidade para cálculos, o comportamento do engraxate e sorveteiro é o mesmo de
um garoto de sua idade. "A gente
tem que obrigar ele a estudar, senão, ele fica jogando futebol o dia
inteiro", diz a mãe.
(AG)
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