São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2007

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Defesa manda apurar atrasos em Cumbica

Ministro da pasta determinou à Infraero que investigue a demora no conserto de equipamento no aeroporto em Guarulhos

Em carta enviada ao comando da estatal que administra os aeroportos do país, Waldir Pires pediu a punição dos responsáveis

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

O ministro da Defesa, Waldir Pires, determinou ontem à Infraero a abertura de uma sindicância para apurar a demora no conserto e na liberação de um equipamento necessário no auxílio a aeronaves em pousos e decolagens que resultou no fechamento do aeroporto internacional de Cumbica nas manhãs de ontem e anteontem.
Guarulhos fechou por seis horas e meia na manhã de sábado e por três horas na de ontem, o que provocou a transferência de ao menos 20 pousos e atrasos em cerca de cem chegadas e partidas. Houve confusão e tumulto entre passageiros e funcionários das empresas aéreas.
"Os responsáveis, identificados, deverão ser afastados de função e logo substituídos interinamente e submetidos ao processo administrativo, legal, que os exclua, se for o caso, do gerenciamento, ou da direção, e até mesmo, sejam demitidos, exemplarmente, da empresa", diz trecho de carta enviada por Pires ao comando da Infraero.
A supervisão da estatal em Cumbica manteve ontem a versão de que o fechamento foi provocado por uma neblina e não por problemas de equipamento. Até o começo da noite, funcionários da Infraero desconheciam a solicitação de sindicância. Sem ser identificado, um deles disse que nenhum comunicado da presidência da Infraero havia chegado a Cumbica até ontem à noite.
O tom duro da carta ocorre em um momento em que Pires tenta demonstrar força: ele deverá ser substituído na reforma ministerial tocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A sindicância pretende identificar se funcionários da Infraero falharam ao deixar impedido de uso, nos últimos dez dias, o instrumento ILS Cat 2 -que ajuda nas operações de pouso e decolagem em dias chuvosos ou com nevoeiro -o que é comum em Guarulhos.
"O ministro me encaminhou um documento determinando a apuração rigorosa, rápida e, havendo culpados, a punição", disse o presidente da Infraero, José Carlos Pereira. As demissões, segundo ele, "evidentemente vão depender das apurações". "Se tiver que demitir, vou demitir. A ordem do ministro tem que ser cumprida."
Segundo a Infraero, o Cat 2 está fora de operação há dez dias, quando foi atingido por um raio. No dia seguinte, foi reparado, mas dependia de testes práticos -no caso, operações de pouso e decolagem de jatos-laboratórios da FAB.
Nesse intervalo de dez dias, uma aeronave da FAB foi enviada a Cumbica justamente para isso, mas sofreu uma avaria logo ao pousar na pista. Segundo o presidente da Infraero, que conversou ontem com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, um outro jato deve ser enviado hoje a Cumbica para iniciar os testes.
A sindicância, em princípio, terá prazo máximo de 30 dias.
O presidente da Infraero comentou reportagem da Folha de ontem segundo a qual um levantamento do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificou movimentações atípicas em contas de dirigentes e ex-dirigentes da estatal. "Esse [levantamento] é um problema pessoal de cada um. Tem Código Penal, tem polícia, tem Ministério Público, tem penitenciária. Está tudo aí à disposição. Cada um que resolva o seu problema."

Conexão perdida
O funcionário público Giscard Stephanou, 32, foi um dos 30 passageiros que procuraram a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), anteontem, para reclamar. Ele veio de Brasília num vôo previsto para sair às 5h40, mas que só decolou às 6h15. O avião foi obrigado a pousar em Campinas, às 8h40. Saiu de lá às 12h30, chegando em Guarulhos às 12h50. Por causa dos atrasos, ele perdeu um vôo para o Panamá.
Seu embarque foi transferido para as 4h30 de ontem. "Quem pagará as minhas despesas de hotel e alimentação em São Paulo?" Para ele, voar no Brasil virou um imenso transtorno.


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