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SAÚDE
Convênio entre Tocantins e Cuba trouxe 258 profissionais da área; governo diz que faltam especialistas brasileiros
Médico cubano ganha até R$ 10 mil no TO
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um convênio firmado em janeiro do ano passado entre o governo do Tocantins e o Ministério da
Saúde de Cuba para a contratação
de 210 médicos, 40 enfermeiros e
8 técnicos cubanos para hospitais
públicos da região causa alvoroço
e expõe um problema que o governo Lula vai ter de enfrentar:
como lidar com o empregado estrangeiro, considerando o elevado índice de desemprego no país.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Tocantins informa que há 53 médicos cubanos
com registro no conselho, mas estima que 150 trabalham no Estado
sem registro, o que desrespeita o
convênio que os trouxe ao Brasil.
O contrato estabelece que os cubanos estão sujeitos à legislação
brasileira (diplomas reconhecidos e registro no CRM).
A ausência de inscrição no conselho e o fato de os cubanos -que
chegam a ganhar R$ 10 mil/
mês- não terem prestado concurso público para trabalhar no
Estado levaram o Ministério Público do Trabalho do Tocantins a
investigar as contratações.
"O Estado tem de realizar concurso público, como estabelece o
artigo 37, inciso II da Constituição", afirma Antônio Carlos Cavalcante Rodrigues, procurador
do trabalho do Tocantins.
Henrique Furtado, secretário da
Saúde do Estado do Tocantins,
diz que o convênio com Cuba foi
feito porque faltam profissionais
brasileiros para trabalhar no interior. Segundo ele, há na região 134
médicos e 19 enfermeiros cubanos, que estão em processo de revalidação de diploma e registro
no CRM. O Estado prepara a realização de concurso público, diz.
"Os médicos brasileiros querem
morar em Copacabana [no Rio de
Janeiro]. Se os cubanos saírem
daqui, teremos dificuldade para
substituí-los", diz Furtado. Quase
metade dos 139 municípios do
Tocantins possui menos de 5.000
habitantes, que vivem em áreas
com saneamento básico precário.
Os médicos cubanos já estavam
instalados no Tocantins antes de
o convênio ter sido firmado. Desde 98, o Estado optou pela contratação desses profissionais. Alguns
médicos foram transferidos da
Fundap (Fundação de Apoio à
Pesquisa da Universidade Federal
do Amapá) para o Tocantins.
O Ministério do Trabalho foi informado recentemente pelo Ministério Público do Trabalho do
Tocantins e pelo Conselho Regional de Medicina do Estado sobre
esse convênio. O ministério pediu
à DRT (Delegacia Regional do
Trabalho) do Estado para fiscalizar e relatar o caso na região.
O que chama a atenção do ministério -além do grande número de cubanos na região- é a renda mensal dos profissionais. Pelo
convênio, os médicos recebem
um salário mensal de R$ 2.880, o
mesmo pago aos brasileiros.
Os cubanos ainda têm direito a
R$ 2.500 mensais por participarem do Programa Saúde da Família, além de verbas do SUS e de
convênios. Os médicos recebem
uma parte dessa verba por atendimento feito. Isso não vale para os
brasileiros, segundo o ministério.
Cálculos de técnicos do Ministério do Trabalho mostram que os
salários dos médicos cubanos podem chegar a R$ 10 mil por mês. O
secretário da Saúde do Tocantins
confirma que, em alguns municípios, os médicos chegam a receber até R$ 10 mil por mês, pois,
para manter os profissionais, as
prefeituras oferecem vantagens
como moradia e alimentação.
"O estranho é que sei de muito
médico brasileiro que tem salário
de R$ 500 a R$ 800 e que gostaria
de trabalhar por esse salário que
está sendo oferecido", diz o procurador-geral do Trabalho, Guilherme Mastrichi Basso.
Em fevereiro deste ano, o CRM
do Tocantins encaminhou ao Ministério da Justiça um relatório
para informar sobre a ausência de
registro dos médicos cubanos.
"O ministro [Jaques Wagner]
pediu para verificarmos o que
acontece no Tocantins. Não estamos aqui para defender o CRM,
mas, se o ministério constatar irregularidade trabalhista, os vistos
dos cubanos serão indeferidos",
afirma Hebe Romano, coordenadora-geral de imigração do Ministério do Trabalho.
Para o presidente da Associação
Médica Brasileira (AMB), Eleuses
Vieira de Paiva, o Brasil tem "excesso" de médicos. Segundo dados da AMB, dos 285 mil médicos
brasileiros cerca de 60% atuam na
capital e 40%, no interior.
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