São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2006

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GUERRA URBANA

Laudos apontam indícios de abuso policial

FABIANE LEITE
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Rascunhos de laudos necroscópicos feitos pelo IML (Instituição Médico Legal) de São Paulo revelam indícios de abuso policial em supostos confrontos que resultaram na morte de civis durante a onda de atentados promovidos pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Em pelo menos seis documentos assinados por médicos legistas a que a Folha teve acesso, a trajetória dos tiros -de cima para baixo- e a parte do corpo atingida pelos projéteis podem indicar que as pessoas foram mortas quando já estavam rendidas.
Os rascunhos de 132 laudos necroscópicos de pessoas mortas com arma de fogo entre os dias 12 e 20 deste mês, feitos pelo IML central, estão sendo analisados por um grupo especial da Defensoria Pública. Eles contêm as anotações feitas pelo legista, que ainda serão digitadas para a confecção de um laudo oficial.
"Até o momento, não é possível extrair qualquer conclusão a respeito de eventual abuso nos casos de mortes apontadas como resultantes de resistência à ação policial. Não obstante, uma análise preliminar desses casos indica que prevalecem lesões decorrentes de disparos de arma de fogo na região da cabeça e do tórax, alguns deles de trás para a frente", afirmou o subdefensor público, Pedro Giberti.
A Folha cruzou a lista dos nomes do IML central -que reúne também homicídios e até suicídios- com dados de boletins de ocorrência de supostos confrontos com a polícia acontecidos na cidade de São Paulo. O resultado disso foram nove casos -ainda não há informações sobre as mortes com armas de fogo de outros 11 IMLs na capital e da Grande São Paulo.
Desses, seis casos apresentam indícios de abuso que ainda precisam ser confirmados com outras investigações, como a perícia do local do crime e o depoimento de testemunhas do suposto confronto.

Casos
Entre os casos, está o de Daniel Scorza, 24, morto no último dia 15, em São Mateus (zona leste de SP). Segundo a versão da polícia, ele e um comparsa foram baleados depois de fugir em um carro roubado. Os policiais afirmam que a dupla atirou contra um carro da PM antes de ser atingida.
Segundo os rascunhos do IML, Scorza levou um tiro no pescoço e dois no peito, todos de cima para baixo.
Em outro caso, o servente Antonio Ailton Morais Batista, 29, acusado de roubar um posto de gasolina, recebeu tiros de cima para baixo no pescoço e no abdômen. Ele também teria, segundo a versão da PM, atirado contra os policiais.
Alexander Augusto Lopes, acusado de participar de um incêndio a um veículo e de atirar em policiais no último dia 15, em Campo Grande (zona sul de SP), levou um tiro, também de cima para baixo, no coração. Também foi atingido na parte posterior do antebraço, que pode indicar que ele tentou se defender dos disparos.
Jonathan Roberto Farias, apontado pela PM como autor de um dos atentados, levou tiros de cima para baixo no tórax e na parte externa do antebraço esquerdo.
Carlos Alberto Pereira, também morto em suposto confronto com a polícia, apresentava, segundo os documentos do IML, um tiro de cima para baixo no lado direito do tórax e outro. Ele também recebeu um tiro na perna, na região abaixo do joelho.
O projétil saiu na região acima do joelho. Um das possibilidades para justificar essa trajetória é que Pereira estivesse deitado, com a perna flexionada, quando recebeu o tiro.
Em outro caso, Wesley Rodriguero Cabral, acusado de participar do roubo de um caminhão e de atirar na polícia, recebeu um tiro nas costas e outro atrás da coxa esquerda.


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