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GUERRA URBANA
Laudos apontam indícios de abuso policial
FABIANE LEITE
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Rascunhos de laudos necroscópicos feitos pelo IML (Instituição Médico Legal) de São
Paulo revelam indícios de abuso policial em supostos confrontos que resultaram na morte de civis durante a onda de
atentados promovidos pela facção criminosa PCC (Primeiro
Comando da Capital).
Em pelo menos seis documentos assinados por médicos
legistas a que a Folha teve
acesso, a trajetória dos tiros
-de cima para baixo- e a parte
do corpo atingida pelos projéteis podem indicar que as pessoas foram mortas quando já
estavam rendidas.
Os rascunhos de 132 laudos
necroscópicos de pessoas mortas com arma de fogo entre os
dias 12 e 20 deste mês, feitos
pelo IML central, estão sendo
analisados por um grupo especial da Defensoria Pública. Eles
contêm as anotações feitas pelo legista, que ainda serão digitadas para a confecção de um
laudo oficial.
"Até o momento, não é possível extrair qualquer conclusão
a respeito de eventual abuso
nos casos de mortes apontadas
como resultantes de resistência à ação policial. Não obstante, uma análise preliminar desses casos indica que prevalecem lesões decorrentes de disparos de arma de fogo na região
da cabeça e do tórax, alguns deles de trás para a frente", afirmou o subdefensor público,
Pedro Giberti.
A Folha cruzou a lista dos
nomes do IML central -que
reúne também homicídios e
até suicídios- com dados de
boletins de ocorrência de supostos confrontos com a polícia acontecidos na cidade de
São Paulo. O resultado disso foram nove casos -ainda não há
informações sobre as mortes
com armas de fogo de outros 11
IMLs na capital e da Grande
São Paulo.
Desses, seis casos apresentam indícios de abuso que ainda precisam ser confirmados
com outras investigações, como a perícia do local do crime e
o depoimento de testemunhas
do suposto confronto.
Casos
Entre os casos, está o de Daniel Scorza, 24, morto no último dia 15, em São Mateus (zona
leste de SP). Segundo a versão
da polícia, ele e um comparsa
foram baleados depois de fugir
em um carro roubado. Os policiais afirmam que a dupla atirou contra um carro da PM antes de ser atingida.
Segundo os rascunhos do
IML, Scorza levou um tiro no
pescoço e dois no peito, todos
de cima para baixo.
Em outro caso, o servente
Antonio Ailton Morais Batista,
29, acusado de roubar um posto
de gasolina, recebeu tiros de cima para baixo no pescoço e no
abdômen. Ele também teria,
segundo a versão da PM, atirado contra os policiais.
Alexander Augusto Lopes,
acusado de participar de um incêndio a um veículo e de atirar
em policiais no último dia 15,
em Campo Grande (zona sul de
SP), levou um tiro, também de
cima para baixo, no coração.
Também foi atingido na parte
posterior do antebraço, que pode indicar que ele tentou se defender dos disparos.
Jonathan Roberto Farias,
apontado pela PM como autor
de um dos atentados, levou tiros de cima para baixo no tórax
e na parte externa do antebraço
esquerdo.
Carlos Alberto Pereira, também morto em suposto confronto com a polícia, apresentava, segundo os documentos
do IML, um tiro de cima para
baixo no lado direito do tórax e
outro. Ele também recebeu um
tiro na perna, na região abaixo
do joelho.
O projétil saiu na região acima do joelho. Um das possibilidades para justificar essa trajetória é que Pereira estivesse
deitado, com a perna flexionada, quando recebeu o tiro.
Em outro caso, Wesley Rodriguero Cabral, acusado de
participar do roubo de um caminhão e de atirar na polícia,
recebeu um tiro nas costas e
outro atrás da coxa esquerda.
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