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BARBARA GANCIA
Lula não é Chávez
Este canto da página dois
do caderno de Cotidiano
saiu perdendo. Ficou com
cara de bula de remédio
"DIPIRONA sódica: formas
farmacêuticas". Começo
minha primeira coluna
sob os auspícios da nova reforma
gráfica desta Folha com as quatro
palavras que constam da introdução da bula da Novalgina.
O jornal como um todo está mais
formoso e ganhou em agilidade
com a reforma. Mas, na minha modestíssima opinião, este canto específico da página dois do caderno de
Cotidiano saiu perdendo. Ficou
com cara de bula de remédio. Daí a
singela homenagem. E, como ninguém normal gosta de ler bula de
remédio, conto com o leitor fiel
(alô, mamãe!) para continuar ao
meu lado nesta nova empreitada.
Dá-lhe dipirona sódica!
É tiro para todo o lado
Por falar em pessoas normais,
onde é que ficamos nós, meu querido leitor, que não apoiamos a direita nem temos afinidade com a esquerda? Refiro-me à imputação de
culpas pelo caos que acometeu São
Paulo com a onda de ataques do
PCC. Nós, que não reagimos de forma histérica aos atentados nem
pretendemos colocar debaixo do
tapete os nomes dos 31 mortos inocentes na retaliação policial, onde
nos encaixamos?
Quatro dias depois de iniciados
os ataques, começaram a circular
na internet e-mails acusando o governo Lula de estar por trás das
ações do PCC. A lógica usada nessa
correspondência é rudimentar e
falaciosa. Um dos e-mails, que acusava o PT de "instrumentalizar o
terrorismo do crime organizado
para fins político-eleitorais", era
assinado por um rapaz que dizia
ser vice-presidente financeiro de
um banco. Liguei ao banco para
confirmar se ele havia mesmo
lançado teorias conspiratórias
na internet e descobri que o dito-cujo fora demitido por usar em
sua mensagem o nome da
instituição bancária.
Além dos e-mails relacionando,
entre outros, as ações do PCC com
o MST, começaram a pipocar na
minha caixa-postal eletrônica
mensagens de paulistanos indignados convocando a população a
protestar em praça pública contra
a insegurança. Imagino que, depois
de escrever os e-mails, os autores
tenham ido passar o fim de semana
no Guarujá, pois, que eu saiba, a
única manifestação ocorrida de lá
para cá foi a que juntou 800 gatos
pingados na av. Paulista para reclamar da corrupção.
Na Venezuela, Hugo Chávez domina com maestria a arte de incitar ricos contra pobres e esquerdistas contra capitalistas. O negócio dele é servir-se do nacionalismo para se fortalecer internamente e do antiimperialismo para provocar os EUA. Nesse jogo, vale até o
uso de retórica anti-semita e a
aliança com o medieval presidente
do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
Mas, vem cá: não somos a Venezuela, e Lula não é Chavez. Ou será
que, no episódio da nacionalização
do gás da Bolívia, Lula não foi tratado pelo colega Evo Morales como se fosse o ianque predador?
Em meio à instabilidade gerada
pela falta de segurança, só o que
nos falta para completar o quadro
de ruína é a população de São Paulo ficar dividida na guerra contra a
bandidagem.
@ - barbara uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
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