|
Próximo Texto | Índice
Parada Gay perde em glitter e ganha em diversidade
Com menos go-go boys, drag queens e fantasias, evento tem decoração contida e abre espaço para popularização
Além de música eletrônica, trios tocavam samba e bossa nova; organizadores e PM não quiseram estimar público que foi à parada
Danilo Verpa/Folha Imagem
|
|
O prefeito de SP, Gilberto Kassab, cumprimenta drag queen
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
Nada de Marina Lima, Bruno
Gagliasso ou Christiane Torloni: as maiores celebridades a
dar as caras na 12ª Parada do
Orgulho Gay, realizada ontem
em São Paulo, desta vez foram
mesmo o travesti Andréa Albertino, aquele que acabou com
o jogador Ronaldo em uma delegacia carioca, e a atriz-pornô-lésbica Thammy Miranda, filha
de Gretchen. Os go-go boys,
aqueles modelos musculosos
das festas gays, contavam-se
nos dedos. A decoração dos
trios elétricos limitou-se a balões coloridos. Havia pouca
gente fantasiada. As drag
queens eram escassas. Quanto
ao som, o techno, ritmo de bate-estacas típico das baladas,
cedeu espaço até para o sambão
e a bossa nova.
"A parada de São Paulo perdeu o glamour, ficou popular
demais", reclamou o "diabinho" Maurício Rosendo da Silva, 21, cozinheiro, vestido com
uma fantasia justíssima de lantejoulas vermelhas, chifres e
tridente. "Mas ganhou em diversidade", contemporizou
Maria das Graças Dias, 45, professora, de mãos dadas com a
namorada de gravata preta, cabelos curtos arrepiados à força
de gel. "Antes, a gente nem podia sonhar em ter um trio tocando samba. Era tudo um som
só, um estilo só, um tipo ideal
de bicha, outro de drag", analisou. O cozinheiro preferia como era antes, "menos popular".
O performista Thiago Augusto Gomes, 21, viajou de Franca
(SP) para a capital com um grupo de dez "amigas". "Nossa, eu
esperava um pouco mais de brilho", disse, observando o movimento em frente ao Masp, área
de concentração. Sem maquiagem, ele reclamava do pequeno
número de participantes que
foi "montado" à parada. Também Kimberlyn, 22, drag carioca com fantasia de Princesa
Submarina, disse ter ficado desapontada com a falta de criatividade das "bichas paulistas".
"Falta fantasia, meu bem."
O que se viu na avenida Paulista e na rua da Consolação foram as logomarcas dos patrocinadores. A Caixa Econômica
Federal, por exemplo, distribuiu bandeirinhas com dois bonequinhos homens de mãos
dadas e idem com duas bonequinhas mulheres: "Caixa, o
banco que acredita nas pessoas". Sobrevoando a avenida
Paulista, via-se um minizepelim da marca de cuecas Surrender. Slogan (inspirado?): "A
cueca que faz as cabeças".
Eu bebo, sim
Hits do "Show da Xuxa" dos
tempos em que ela descia de
uma nave espacial tocavam no
trio de Kaká di Polly, 48, que se
diz a primeira drag das paradas.
O Trio da Visibilidade Lésbica,
lotado de mulheres, a maioria
com latinha de cerveja na mão,
tocava o hino dos bebedores
"Eu bebo, sim, e estou vivendo.
Tem gente que não bebe e está
morrendo". Bossa nova também se ouviu.
Nem a polícia nem os organizadores da parada arriscaram-se a avaliar o número de pessoas que fizeram a festa, neste
ano organizada sob o tema
"Homofobia Mata! Por um Estado Laico de Fato".
Antes da saída do primeiro
trio, a drag Silvetty Montilla,
que comandava o carro, brincou: "Alcançamos 5 milhões
(risos)". O site oficial da parada
divulgou esse número. Mas, no
final do evento, recuou. A organização disse que só hoje apresentará um balanço, com base
em imagens terrestres e aéreas.
No ano passado, houve divergências sobre o número de participantes -a organização disse
terem sido 3,5 milhões.
Apesar dos cerca de 20 furtos
registrados pela polícia, foi
uma festa até comportada. Uns
beijinhos gays aqui e outros ali,
a temperatura só subiu mesmo
quando surgiram dois travestis
de peitos de fora, diante do cemitério da Consolação. Uma
gritaria. Mas quem vibrou foi
um grupo de 15 jovens lésbicas,
que fizeram questão de posar
para fotos abraçadas aos implantes de silicone. "Que delícia de peitos", disse uma.
Próximo Texto: No país, combate à homofobia tem pouco apoio legal Índice
|