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FOCO
Estudante vai de colégio precário da periferia de SP a faculdade top
Sara Nishimura, 18, estudou no Bandeirantes, está na Poli e já sonha com vaga no MIT
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
Com os três salários mínimos ganhos pelo pai, a única
opção de estudo de Sara Izumi Nishimura, 18, era a escola pública do bairro, que sofria com a falta de laboratórios, de biblioteca adequada
e até de papel higiênico.
Ela era a caçula de cinco irmãos numa família que vivia
da venda de ovos que o pai
fazia de porta em porta, a
bordo de uma Kombi.
Nascida no Jardim Raposo
Tavares, região pobre na zona oeste de São Paulo, ela sabia desde criança o que queria fazer na vida: estudar.
Mas logo percebeu que a tarefa não seria assim tão fácil.
Na escola que frequentava, os enunciados das provas
tinham que ser anotados pelos alunos em folhas próprias
de caderno, pois a verba para
o xerox também faltava.
A lição passada pelos professores nunca era suficiente
para o apetite da aluna.
A menina recorria, então,
aos livros dos primos mais
velhos, com os quais podia
estudar conteúdos que ainda
não tinha aprendido. A mãe,
Kiyoko Hashimoto, 58, tinha
de lembrá-la até de comer.
Foi na oitava série que a
sorte de Sara começou a mudar. Percebendo o talento da
aluna, uma professora a indicou para o processo seletivo
da fundação Ismart -organização que oferece bolsas em
escolas particulares para jovens pobres. Dos 1.430 inscritos, apenas 56 chegariam ao
final das quatro fases.
Meses antes da prova, ela
estudou como nunca. Não tinha final de semana nem
noites de descanso. Foi aprovada. "Minha mãe chorou
mais do que eu."
Poderia, agora, escolher
onde estudar. Tinha à disposição um rol de colégios de
elite, com mensalidades médias que superavam de longe
os rendimentos da família.
Optou pelo Bandeirantes,
mensalidade de R$ 1.700, 18
laboratórios e segundo colocado entre as particulares
paulistas no Enem. Após ser
aprovada em um vestibulinho do colégio, entrou no 1º
ano do ensino médio.
ESTUDO NO INTERVALO
Para chegar ao Paraíso,
onde fica o Bandeirantes, Sara tomava um ônibus e um
metrô e acordava às 4h45 todos os dias. Faltou só cinco
vezes, quando ficou hospitalizada por uma infecção.
"Era uma excelente aluna", afirma o professor Osmar Antônio Ferraz. Nas salas divididas por desempenho, cursou o 1º ano na sala
"B", onde era a melhor estudante. Nos dois anos seguintes, pulou para a turma "A",
sempre entre os 15 melhores.
Logo fez amigos, tão estudiosos quanto ela. O grupo
escondia-se embaixo das carteiras na hora do intervalo
para que o bedel não os visse
estudando na sala de aula, o
que era proibido no recreio.
Os amigos de bairros nobres tinham casas no litoral.
"Pouco vaidosa", afirma que
não estranhou o desfile de
roupas de marca que via nas
horas do intervalo.
Certa vez, uma amiga cochichou: "Olha, aquela menina tá com roupa da Daslu".
"Só pensei: "Nossa, como ela
percebeu isso?"."
Sara prestou vestibular para engenharia elétrica. Entrou na Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo,
onde cursa o 1º ano, na posição 170, dentre 2.606 candidatos. Também foi aprovada
em primeiro lugar no mesmo
curso na Unicamp.
VIDA UNIVERSITÁRIA
Universitária, diz que agora tem outros interesses além
do estudo. Entrou no time de
beisebol feminino da USP e
quer um namorado que seja
tão ocupado quanto ela.
Afinal, Sara pretende continuar estudando. Já planeja
mestrado e doutorado no
MIT (Massachusetts Institute
of Technology), nos Estados
Unidos. O que a preocupa
não é se será aprovada. Mas
qual será a bolsa de estudos
que a ajudará a chegar lá.
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