São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2010

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FOCO

Estudante vai de colégio precário da periferia de SP a faculdade top

Sara Nishimura, 18, estudou no Bandeirantes, está na Poli e já sonha com vaga no MIT

TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

Com os três salários mínimos ganhos pelo pai, a única opção de estudo de Sara Izumi Nishimura, 18, era a escola pública do bairro, que sofria com a falta de laboratórios, de biblioteca adequada e até de papel higiênico.
Ela era a caçula de cinco irmãos numa família que vivia da venda de ovos que o pai fazia de porta em porta, a bordo de uma Kombi.
Nascida no Jardim Raposo Tavares, região pobre na zona oeste de São Paulo, ela sabia desde criança o que queria fazer na vida: estudar. Mas logo percebeu que a tarefa não seria assim tão fácil.
Na escola que frequentava, os enunciados das provas tinham que ser anotados pelos alunos em folhas próprias de caderno, pois a verba para o xerox também faltava.
A lição passada pelos professores nunca era suficiente para o apetite da aluna.
A menina recorria, então, aos livros dos primos mais velhos, com os quais podia estudar conteúdos que ainda não tinha aprendido. A mãe, Kiyoko Hashimoto, 58, tinha de lembrá-la até de comer.
Foi na oitava série que a sorte de Sara começou a mudar. Percebendo o talento da aluna, uma professora a indicou para o processo seletivo da fundação Ismart -organização que oferece bolsas em escolas particulares para jovens pobres. Dos 1.430 inscritos, apenas 56 chegariam ao final das quatro fases.
Meses antes da prova, ela estudou como nunca. Não tinha final de semana nem noites de descanso. Foi aprovada. "Minha mãe chorou mais do que eu."
Poderia, agora, escolher onde estudar. Tinha à disposição um rol de colégios de elite, com mensalidades médias que superavam de longe os rendimentos da família.
Optou pelo Bandeirantes, mensalidade de R$ 1.700, 18 laboratórios e segundo colocado entre as particulares paulistas no Enem. Após ser aprovada em um vestibulinho do colégio, entrou no 1º ano do ensino médio.

ESTUDO NO INTERVALO
Para chegar ao Paraíso, onde fica o Bandeirantes, Sara tomava um ônibus e um metrô e acordava às 4h45 todos os dias. Faltou só cinco vezes, quando ficou hospitalizada por uma infecção.
"Era uma excelente aluna", afirma o professor Osmar Antônio Ferraz. Nas salas divididas por desempenho, cursou o 1º ano na sala "B", onde era a melhor estudante. Nos dois anos seguintes, pulou para a turma "A", sempre entre os 15 melhores.
Logo fez amigos, tão estudiosos quanto ela. O grupo escondia-se embaixo das carteiras na hora do intervalo para que o bedel não os visse estudando na sala de aula, o que era proibido no recreio.
Os amigos de bairros nobres tinham casas no litoral. "Pouco vaidosa", afirma que não estranhou o desfile de roupas de marca que via nas horas do intervalo.
Certa vez, uma amiga cochichou: "Olha, aquela menina tá com roupa da Daslu". "Só pensei: "Nossa, como ela percebeu isso?"."
Sara prestou vestibular para engenharia elétrica. Entrou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde cursa o 1º ano, na posição 170, dentre 2.606 candidatos. Também foi aprovada em primeiro lugar no mesmo curso na Unicamp.

VIDA UNIVERSITÁRIA
Universitária, diz que agora tem outros interesses além do estudo. Entrou no time de beisebol feminino da USP e quer um namorado que seja tão ocupado quanto ela.
Afinal, Sara pretende continuar estudando. Já planeja mestrado e doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos. O que a preocupa não é se será aprovada. Mas qual será a bolsa de estudos que a ajudará a chegar lá.


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