|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DIA DE FÚRIA
Bar de homem que matou pelo menos 14 pessoas havia fechado; polícia acha que ele vendia maconha
Falência pode ter detonado chacina no RN
FÁBIO GUIBU
PAULO MOTA
em São Gonçalo do Amarante
A falência do bar e mercearia do
comerciante Genildo Ferreira de
França, 27, pode ter sido o estopim
dos assassinatos em série cometidos por ele na semana passada, em
São Gonçalo do Amarante, região
metropolitana de Natal (RN).
França matou pelo menos 14
pessoas entre a tarde de quarta e a
noite de quinta-feira. Ele foi morto
durante troca de tiros com a polícia. O bar, que funcionava havia
quatro anos e era a principal fonte
de renda do comerciante, fechou
há dois meses.
Segundo o soldador Francisco
Ezequiel da Silva, 21, amigo e vizinho de França, o comerciante lhe
confidenciou que atribuía a falência do bar à fama de que o local se
tornara reduto de homossexuais.
"Ele ficou deprimido, reclamava do desaparecimento dos fregueses e disse que a vida não tinha
mais sentido, que estava muito
chata e precisava dar um jeito nisso", afirmou o soldador.
Silva disse que o comerciante tinha um carinho especial pelo "bar
do Iuri", que levava o nome do filho, atropelado e morto há dois
anos em frente ao local.
"O bar vivia cheio, era um ponto
de encontro de seus amigos. Ele tinha o maior prazer em receber as
pessoas, às vezes dava tira-gosto e
não deixava o pessoal pagar."
Nos últimos dias, com a redução
da freguesia, França vendeu os
principais equipamentos do bar,
como o freezer.
Segundo a polícia, o dinheiro da
venda foi utilizado na compra da
pistola 7.65, do revólver calibre 38
e da munição usada por França para matar suas vítimas.
O irmão de França, Genilson,
acha que a crise financeira pode ter
sido a "gota d'água" para a explosão da revolta que ele acumulava
havia cerca de dois anos, desde a
morte do filho e do aumento dos
comentários na cidade sobre sua
suposta homossexualidade.
"Às vezes ele chegava em casa e
dizia que precisava dar uma virada
na vida, calar a boca do povo. A
gente mandava ele esquecer e ele
falava que não tinha mais nada a
perder", disse Genilson.
Segundo Francisco de Assis Ramos dos Santos, preso sob acusação de participar dos crimes, França afirmou que mataria todas as
pessoas que questionavam sua sexualidade ou lhe deviam dinheiro.
A adolescente V.R.S., 16, também acusada de participar dos crimes, disse que o comerciante, após
matar suas vítimas, se ajoelhava,
pedia perdão e dizia estar "vingado" e com a "alma descansada".
O delegado da Polícia Civil Sérgio Leocádio, que coordena as investigações, acredita que parte do
dinheiro cobrado por França se referisse a dívidas contraídas por supostos consumidores de drogas.
A polícia suspeita que o comerciante vendia maconha no bar. A
informação foi confirmada por vizinhos dele e pelo estudante
J.F.P.S., 9. O menino disse à Agência Folha que entregava pacotinhos com a droga.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|