São Paulo, segunda, 26 de maio de 1997.



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DIA DE FÚRIA
Bar de homem que matou pelo menos 14 pessoas havia fechado; polícia acha que ele vendia maconha
Falência pode ter detonado chacina no RN

FÁBIO GUIBU
PAULO MOTA
em São Gonçalo do Amarante

A falência do bar e mercearia do comerciante Genildo Ferreira de França, 27, pode ter sido o estopim dos assassinatos em série cometidos por ele na semana passada, em São Gonçalo do Amarante, região metropolitana de Natal (RN).
França matou pelo menos 14 pessoas entre a tarde de quarta e a noite de quinta-feira. Ele foi morto durante troca de tiros com a polícia. O bar, que funcionava havia quatro anos e era a principal fonte de renda do comerciante, fechou há dois meses.
Segundo o soldador Francisco Ezequiel da Silva, 21, amigo e vizinho de França, o comerciante lhe confidenciou que atribuía a falência do bar à fama de que o local se tornara reduto de homossexuais.
"Ele ficou deprimido, reclamava do desaparecimento dos fregueses e disse que a vida não tinha mais sentido, que estava muito chata e precisava dar um jeito nisso", afirmou o soldador.
Silva disse que o comerciante tinha um carinho especial pelo "bar do Iuri", que levava o nome do filho, atropelado e morto há dois anos em frente ao local.
"O bar vivia cheio, era um ponto de encontro de seus amigos. Ele tinha o maior prazer em receber as pessoas, às vezes dava tira-gosto e não deixava o pessoal pagar."
Nos últimos dias, com a redução da freguesia, França vendeu os principais equipamentos do bar, como o freezer.
Segundo a polícia, o dinheiro da venda foi utilizado na compra da pistola 7.65, do revólver calibre 38 e da munição usada por França para matar suas vítimas.
O irmão de França, Genilson, acha que a crise financeira pode ter sido a "gota d'água" para a explosão da revolta que ele acumulava havia cerca de dois anos, desde a morte do filho e do aumento dos comentários na cidade sobre sua suposta homossexualidade.
"Às vezes ele chegava em casa e dizia que precisava dar uma virada na vida, calar a boca do povo. A gente mandava ele esquecer e ele falava que não tinha mais nada a perder", disse Genilson.
Segundo Francisco de Assis Ramos dos Santos, preso sob acusação de participar dos crimes, França afirmou que mataria todas as pessoas que questionavam sua sexualidade ou lhe deviam dinheiro.
A adolescente V.R.S., 16, também acusada de participar dos crimes, disse que o comerciante, após matar suas vítimas, se ajoelhava, pedia perdão e dizia estar "vingado" e com a "alma descansada".
O delegado da Polícia Civil Sérgio Leocádio, que coordena as investigações, acredita que parte do dinheiro cobrado por França se referisse a dívidas contraídas por supostos consumidores de drogas.
A polícia suspeita que o comerciante vendia maconha no bar. A informação foi confirmada por vizinhos dele e pelo estudante J.F.P.S., 9. O menino disse à Agência Folha que entregava pacotinhos com a droga.



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