São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

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Isolados, líderes do PCC impõem o terror

De dentro da prisão de Presidente Venceslau, no oeste do Estado, homens da facção prometem nova onda de violência

Medo de ataques pessoais e contra familiares obriga os funcionários do presídio, apesar de não autorizados, a andarem armados na cidade

ANDRÉ CARAMANTE
ENVIADO ESPECIAL A PRESIDENTE VENCESLAU

Dentro das muralhas da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (620 km de SP), 400 líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) vivem um regime de confinamento próximo ao imposto aos prisioneiros de guerra: o monitoramento ininterrupto por parte de um grupo de homens fortemente armados e treinados para evitar rebeliões.
Nas galerias da P2, formada por seis raios (pavilhões), a todo instante, presos como Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola (braço direito de Marcola, líder máximo do PCC), Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior (irmão de Marcola), Orlando Mota Júnior, o Macarrão, Paulo Cesar Souza Nascimento Júnior, o Paulinho Neblina, além de Colorido, Moringa e Birosca prometem reação violenta aos métodos usados para contê-los.
O receio de uma revanche do PCC é tão grande que, hoje, o secretário da Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, proíbe seus assessores de divulgar sua agenda de compromissos.

Sob a mira de armas
À noite, na P2 de Venceslau, se não fossem a presença constante dos homens do GIR (Grupo de Intervenção Rápida), do GAR (Grupo de Atuação Regional) e dos Aevps (Agentes de Escolta e da Vigilância Penitenciária), seriam apenas 20 os agentes penitenciários responsáveis por todos os líderes do PCC que, até para tomar banho de sol, só saem das celas sob a mira de escopetas calibre 12 e pistolas automáticas.
As visitas também só entram no presídio sob a mira destas mesmas armas e, como nunca aconteceu antes, são obrigadas a ficar trancadas nas celas com os detentos, durante apenas duas horas (no sábado ou no domingo).
Segundo os agentes do presídio, o governo vai usar isso como "moeda de troca" para voltar a ter o controle total da prisão sem a necessidade dos grupos especiais.
"O secretário [Ferreira Pinto] endurece agora e, mais na frente, volta a negociar com o PCC e passa a estender as regalias. Aí, aparentemente, o sistema prisional volta a ficar na paz", diz um agente da P2, que não quis se identificar.
Como forma de pressão psicológica pelo que chamam de "repressão", os líderes do PCC passaram a prometer uma nova onda de ataques nas ruas e, segundo nove funcionários do presídio entrevistados pela Folha, sob a condição de anonimato, isso começaria pelas ruas de Presidente Venceslau -e os próprios guardas e seus parentes seriam os principais alvos.
"Hoje, a P2 só não é tomada pelos presos porque existe essa pressão feita pelo nosso pessoal armado. O dia em que eles forem embora, os presos vão arrancar as cabeças de todos os funcionários. Estamos à beira de uma nova matança", diz um funcionário que trabalha há oito anos no sistema prisional e afirma nunca ter passado tanto medo como agora.

Agentes armados
Enquanto o secretário Ferreira Pinto cria um "bunker" e deixa apenas a sede da SAP, no Carandiru, sempre cercado por seguranças armados, muitos agentes penitenciários das prisões do oeste paulista, sob a alegação da necessidade de garantir a segurança particular e de seus familiares, passaram a andar armados, mesmo sem ter o direito de portar arma.
"Apesar de pagos para custodiar quem cometeu crimes, hoje, nós precisamos driblar a lei e andar com arma irregular, mesmo sob o risco de também passar a ser um detento amanhã", diz outro agente.

Rebelião branca
Em solidariedade aos líderes do PCC presos na P2 de Venceslau, presos de outras cadeias têm feito o que ficou conhecido como "rebelião branca" -uma interrupção nas atividades dos presídios onde estão, principalmente depois da exigência feita pelo comando do PCC para que todos se recusem a se apresentar em audiências na Justiça.
Desde a tarde de sexta-feira, a Folha procurou o secretário Ferreira Pinto, por meio de sua assessoria de imprensa, mas não teve sucesso. A resposta dada foi sempre a mesma: "Ele não foi encontrado no celular".


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