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Isolados, líderes do PCC impõem o terror
De dentro da prisão de Presidente Venceslau, no oeste do Estado, homens da facção prometem nova onda de violência
Medo de ataques pessoais e contra familiares obriga os funcionários do presídio, apesar de não autorizados, a andarem armados na cidade
ANDRÉ CARAMANTE
ENVIADO ESPECIAL A PRESIDENTE VENCESLAU
Dentro das muralhas da Penitenciária 2 de Presidente
Venceslau (620 km de SP), 400
líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) vivem um
regime de confinamento próximo ao imposto aos prisioneiros
de guerra: o monitoramento
ininterrupto por parte de um
grupo de homens fortemente
armados e treinados para evitar
rebeliões.
Nas galerias da P2, formada
por seis raios (pavilhões), a todo instante, presos como Júlio
César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola (braço direito
de Marcola, líder máximo do
PCC), Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior (irmão de
Marcola), Orlando Mota Júnior, o Macarrão, Paulo Cesar
Souza Nascimento Júnior, o
Paulinho Neblina, além de Colorido, Moringa e Birosca prometem reação violenta aos métodos usados para contê-los.
O receio de uma revanche do
PCC é tão grande que, hoje, o
secretário da Administração
Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, proíbe seus assessores
de divulgar sua agenda de compromissos.
Sob a mira de armas
À noite, na P2 de Venceslau,
se não fossem a presença constante dos homens do GIR (Grupo de Intervenção Rápida), do
GAR (Grupo de Atuação Regional) e dos Aevps (Agentes de
Escolta e da Vigilância Penitenciária), seriam apenas 20 os
agentes penitenciários responsáveis por todos os líderes do
PCC que, até para tomar banho
de sol, só saem das celas sob a
mira de escopetas calibre 12 e
pistolas automáticas.
As visitas também só entram
no presídio sob a mira destas
mesmas armas e, como nunca
aconteceu antes, são obrigadas
a ficar trancadas nas celas com
os detentos, durante apenas
duas horas (no sábado ou no
domingo).
Segundo os agentes do presídio, o governo vai usar isso como "moeda de troca" para voltar a ter o controle total da prisão sem a necessidade dos grupos especiais.
"O secretário [Ferreira Pinto] endurece agora e, mais na
frente, volta a negociar com o
PCC e passa a estender as regalias. Aí, aparentemente, o sistema prisional volta a ficar na
paz", diz um agente da P2, que
não quis se identificar.
Como forma de pressão psicológica pelo que chamam de
"repressão", os líderes do PCC
passaram a prometer uma nova
onda de ataques nas ruas e, segundo nove funcionários do
presídio entrevistados pela Folha, sob a condição de anonimato, isso começaria pelas ruas
de Presidente Venceslau -e os
próprios guardas e seus parentes seriam os principais alvos.
"Hoje, a P2 só não é tomada
pelos presos porque existe essa
pressão feita pelo nosso pessoal
armado. O dia em que eles forem embora, os presos vão arrancar as cabeças de todos os
funcionários. Estamos à beira
de uma nova matança", diz um
funcionário que trabalha há oito anos no sistema prisional e
afirma nunca ter passado tanto
medo como agora.
Agentes armados
Enquanto o secretário Ferreira Pinto cria um "bunker" e
deixa apenas a sede da SAP, no
Carandiru, sempre cercado por
seguranças armados, muitos
agentes penitenciários das prisões do oeste paulista, sob a alegação da necessidade de garantir a segurança particular e de
seus familiares, passaram a andar armados, mesmo sem ter o
direito de portar arma.
"Apesar de pagos para custodiar quem cometeu crimes, hoje, nós precisamos driblar a lei e
andar com arma irregular,
mesmo sob o risco de também
passar a ser um detento amanhã", diz outro agente.
Rebelião branca
Em solidariedade aos líderes
do PCC presos na P2 de Venceslau, presos de outras cadeias
têm feito o que ficou conhecido
como "rebelião branca" -uma
interrupção nas atividades dos
presídios onde estão, principalmente depois da exigência feita
pelo comando do PCC para que
todos se recusem a se apresentar em audiências na Justiça.
Desde a tarde de sexta-feira,
a Folha procurou o secretário
Ferreira Pinto, por meio de sua
assessoria de imprensa, mas
não teve sucesso. A resposta
dada foi sempre a mesma: "Ele
não foi encontrado no celular".
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