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Antibióticos sem registro estão à venda
Medicamentos similares a remédios de marca não comprovaram a mesma eficácia destes; para especialistas, há risco
Anvisa não obriga laboratórios a retirar do mercado produtos que não têm mais a validação dada pelo governo federal
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Estão à venda nas farmácias
de todo o país antibióticos que
perderam os seus registros, garantia de que estão de acordo
com as normas da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os produtos, todos similares de remédios de
marca, não foram submetidos a
um teste obrigatório de qualidade, que verificaria se eles têm
a mesma eficácia dos medicamentos que imitam.
Para especialistas, nessa situação o uso desses antibióticos não é confiável, ou seja, poderá acabar prejudicando o tratamento dos pacientes.
A própria Anvisa, no entanto,
não exige que remédios que
perdem o registro sejam retirados do mercado até que vença a
data da validade dos produtos.
A agência não informou o total
de remédios nessas condições.
Laboratórios afirmam que
decidiram não realizar o teste
porque não tinham mais interesse de manter os remédios
nas farmácias.
A reportagem encontrou 16
remédios que não passaram
por esses testes de qualidade
nas listagens de medicamentos
à venda das principais revistas
do setor farmacêutico.
Em consultas aleatórias a
mais de uma dezena de farmácias na cidade de São Paulo, nove antibióticos que já perderam
o registro foram encontrados.
Os produtos são todos medicamentos similares, ou seja,
têm o mesmo princípio ativo e
indicação terapêutica dos chamados remédios de marca. Mas
a maioria deles não apresentou
provas de que têm a mesma eficácia dessas drogas por meio do
teste de bioequivalência, o que
deveria ser feito a partir de 1º
de dezembro de 2004, quando
pedissem a primeira renovação
do registro.
Outros entregaram documentos, mas ainda não foram
validados pela Anvisa.
Para serem colocados à venda, foram apresentados testes
dos medicamentos indicando
que eles, por exemplo, não prejudicam a saúde, mas não foi
necessário comprovar que possuem a mesma eficácia das drogas que tentam imitar.
Fiscalização
Para a Anvisa, não há irregularidade no fato de não terem
feito o teste, perdido o registro
e continuado no mercado. "Temos aqui um trabalho de auditagem, fiscalização e inspeção.
Se por acaso verificarmos desvio de qualidade, poderá ser decretada interdição", diz Cristina Marinho, técnica da gerência de medicamentos similares
da Anvisa.
O coordenador-executivo da
Sobravime (Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos), José Ruben de Alcântara
Bonfim discorda. Para ele, se as
empresas "não tiveram interesse em obedecer a disposição legal [o teste de bioequivalência],
é porque o produto dela está
sob suspeita". "Eu não recomendaria que médicos prescrevessem, farmacêuticos dispensassem e usuários consumissem", continuou.
Bonfim defende que a Anvisa
retire os remédios do mercado
por meio de uma medida administrativa, como uma portaria.
"A situação mostra a fraqueza
técnico-política da Anvisa", diz.
Raquel Rizzi Grecchi, presidente do Conselho Regional de
Farmácia do Estado de São
Paulo, afirma que o correto seria a Anvisa fazer, por meio de
amostragem, novos testes de
qualidade nos produtos que
perderam o registro mas continuam à venda.
Cabe às vigilâncias de cada
Estado notificar a agência nacional sobre problemas com
medicamentos.
Para Paulo Olzon Monteiro
da Silva, chefe da disciplina de
Clínica Médica da Unifesp, não
há problema na manutenção
dos remédios. "Presume-se que
o que está na prateleira é de
qualidade", afirmou.
Registro sem análise
Quatro dos 16 remédios sem
registro encontrados pela reportagem receberam o benefício da renovação automática.
Isto é, não tiveram analisada a
documentação de renovação,
incluindo o teste que comprovaria ou não que são iguais a remédios de marca.
A renovação automática
acontece quando a Anvisa não
cumpre o prazo da análise do
registro. De acordo com a lei
6.360/76, todas as vezes em
que o prazo de exame da agência estoura o do vencimento do
produto, o registro continua a
valer, mesmo que a empresa
não tenha apresentado a documentação devida.
"A qualquer momento a Anvisa poderá avaliar e cancelar o
registro", justificou Marinho.
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