São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Estradas paulistas têm só 1 bafômetro a cada 290 km

Nas rodovias federais, há um equipamento disponível a cada 150 quilômetros

Para especialistas, número é insuficiente e dificultará a fiscalização da nova lei, que tornou mais rígido o veto a dirigir sob efeito do álcool

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para fiscalizar os 24 mil quilômetros de estradas estaduais em São Paulo, a Polícia Rodoviária Estadual conta com apenas 82 bafômetros. Isso significa um aparelho em funcionamento a cada 290 quilômetros.
Até sexta, no entanto, eram apenas 20 os aparelhos disponíveis nas estradas. Nessa data, o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) forneceu 62 novos bafômetros à polícia. Cada bafômetro custa, em média, R$ 7.000, segundo a Polícia Militar de São Paulo.
Na opinião de dois especialistas em trânsito ouvidos pela Folha, esse número é insuficiente para a fiscalização da nova lei, em vigor justamente desde a última sexta, que tornou ilegal dirigir com concentração a partir de dois decigramas de álcool por litro de sangue (ou 0,1 mg de álcool por litro de ar), o equivalente a um chope (veja quadro nesta página).
Eles defendem uma ação concentrada. Para isso, dizem, seriam necessários de 200 a 250 aparelhos.
O professor da Escola Politécnica da USP Jaime Waisman defende um esforço parecido com o feito quando o cinto de segurança se tornou obrigatório, no início dos anos 90.
"A prefeitura encheu a cidade de marronzinhos para aplicar multas", afirma o professor. "Infelizmente, essa é a forma de educar as pessoas. Tem que ser na base do tranco."
Diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), José Montal tem opinião parecida. "Se a população não perceber que a lei está viva, há grandes chances de ela virar letra morta", diz Montal.
De acordo com ele, há uma média de 1.200 policiais a cada momento fiscalizando as estradas. Contando cinco homens por posto, seriam necessários de 240 a 250 bafômetros para que todos tivessem condição de utilizá-los nas blitze.
"Pela prevalência do uso do álcool nas estradas brasileiras, os atuais 82 bafômetros me parecem pouco", afirma Montal.
A Polícia Rodoviária Estadual está testando 30 bafômetros "passivos", que apontam a concentração de álcool quando alguém se aproxima -sem a necessidade de soprar.
Na capital, a Polícia Militar usa 14 bafômetros em seus comandos de fiscalização. Até o fim do mês, outros 45 aparelhos devem passar a ser usados.

Estradas federais
Nas estradas federais do país, a situação é um pouco menos pior. Para fiscalizar 61 mil quilômetros de rodovias, a Polícia Rodoviária Federal conta com 500 bafômetros, que ficam nos 400 postos. Descontados os aparelhos que vão para manutenção, isso significa um aparelho a cada 150 km.
Como, às vezes, a distância entre um posto e outro é maior do que 150 km, alguns motoristas têm de ser conduzidos por até 100 km para serem submetidos ao teste, diz Alexandre Castilho, diretor do departamento de comunicação social da Polícia Rodoviária Federal.
Segundo ele, dos 500 bafômetros, entre 10% e 15% costumam estar em manutenção. O ideal, diz, é que existisse um para cada veículo (2.000), o que deve ocorrer em dois anos.
Apesar da dificuldade, o número de flagrantes de motoristas alcoolizados em rodovias federais aumentou mesmo antes da nova lei. Em 2007, 6.950 motoristas foram autuados por embriaguez. Neste ano, até o fim de maio, foram 4.199.
Mônica Melo, presidente da Associação Nacional de Detrans (Departamentos Estaduais de Trânsito), afirma que os governos têm, sim, condição de fiscalizar. "Ela [a fiscalização] não é onipresente, mas existe e pode ser uma grande inibidora de atos infracionais."


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