São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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RETRATO DO BRASIL

Chefes de casa com 60 anos ou mais moram principalmente em áreas de urbanização antiga, de classe média e alta

Em SP, concentração é em áreas tradicionais

EDNEY CIELICI DIAS
DA REDAÇÃO

Os responsáveis pelo domicílio com 60 anos de idade ou mais se concentram em distritos mais consolidados e tradicionais do município de São Paulo.
A Folha mapeou, com base nos dados do Censo 2000, as áreas em que há maior percentual desse grupo da população. O resultado refletiu uma tendência apontada por estudiosos do tema.
As pessoas idosas estão estabelecidas com maior intensidade em áreas de urbanização mais antiga, de classe média e alta, servidas universalmente -ou quase- pelas redes de água e esgoto.
O percentual de chefes de domicílio idosos era, em 1991, de 17,13% (65,39% homens e 34,61% mulheres). Esse indicador chegou a 19,18% em 2000 (58,50% homens e 41,50% mulheres), ou 572.834 pessoas.

Chefes de casa
Segundo o Censo 2000, São Paulo tem 972.199 pessoas com 60 anos ou mais (9,3% da população da cidade) e 59% dos idosos da capital são chefes de casa.
Eles se concentram mais nos distritos da Lapa (34,89% em relação ao total de domicílios da área), do Pari (34,87%), da Mooca (34,65%), do Belém (33,97%), do Cambuci (33,56%) e do Jardim Paulista (33,54%).
Os menores percentuais são verificados em distritos de urbanização mais recente. De modo geral, eles apresentam infra-estrutura deficiente e indicadores de violência mais elevados. Os destaques são Anhanguera (6,67%), Cidade Tiradentes (7,25%), Grajaú (8,07%), Jardim Ângela (8,22%), Vila Andrade (8,46%) e Parelheiros (8,78%).

Tradicionais
"As áreas centrais tradicionais, de classe média -mesmo se decadentes-, concentram mais idosos", diz Luiz Antonio Pinto de Oliveira, 55, chefe do Departamento de População e Indicadores Sociais do IBGE.
É o caso, por exemplo, da Lapa, distrito da capital que tem a maior proporção de idosos responsáveis pelo domicílio.
"A Lapa é um bairro de imigrantes italianos, de operários que dominavam técnicas e que subiram na vida. Não é à toa que as Indústrias Matarazzo [marco da industrialização" se estabeleceram por lá", diz a secretaria municipal da Assistência Social, Aldaíza Sposati, coordenadora da pesquisa Mapa da Exclusão Social.
"Os idosos responsáveis pelo domicílio se concentram em bairros consolidados, formados por imigrantes. É o caso do Pari, com forte participação de portugueses, da Mooca e do Belém, redutos da imigração italiana."
Trata-se de comunidades com forte tradição familiar, em que há tradição cultural comum e laços de vizinhança. "Não há somente a rede de esgoto, mas também a rede afetiva", diz Sposati.
Em geral, esses idosos vivenciaram uma realidade social mais estável e sofreram menos estresse.
A secretária aponta também a influência da chamada dieta mediterrânea (composta de carboidratos, alimentos frescos, vinho e azeite), indicada por pesquisadores como fator de longevidade.

Novos
Os distritos com menos idosos chefes de família costumam apresentar renda média mais baixa (ver quadro nesta página). Mas esse é um fator que merece ser ponderado ao analisar a questão. "Ocupações urbanas recentes, de ricos ou de pobres, têm menos idosos", diz Oliveira. Um exemplo é a Vila Andrade (zona sul), de ocupação recente e com contrastes sociais. A região possui baixa concentração de idosos, mas tem alta renda média mensal, R$ 3.383 (a média de São Paulo é R$ 1.480).



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