São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

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Hospitais poupam R$ 4,5 mi com lei seca

Cálculo é da Secretaria da Saúde de SP, com base em levantamento feito nos 30 hospitais estaduais da região metropolitan

O valor economizado por ano, cerca de R$ 54 milhões, possibilitaria a construção de um hospital público de médio porte, com 200 leitos


RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 30 hospitais públicos estaduais da região metropolitana de São Paulo contabilizaram uma economia de aproximadamente R$ 4,5 milhões no primeiro mês de vigência da lei seca, de acordo com cálculos feitos pela Secretaria de Estado da Saúde a pedido da Folha. Em um ano, a economia seria de R$ 54 milhões, o que equivale ao custo anual de um hospital estadual de médio porte (cerca de 200 leitos), como o de Taipas e o da Vila Penteado, ambos na zona norte de São Paulo. Com R$ 54 milhões, também seria possível construir um hospital do mesmo porte. O Orçamento anual da secretaria é de R$ 9 bilhões. A economia se deveu à redução do número de vítimas de acidentes graves de trânsito provocados por motoristas alcoolizados. A quantidade desse tipo de paciente, um mês após o início da lei seca, caiu à metade nos hospitais estaduais. De 19 de maio a 18 de junho, as emergências daqueles 30 hospitais, entre eles o Hospital das Clínicas (o maior da América Latina), atenderam 9.102 pessoas envolvidas em colisões, atropelamentos e quedas de moto. De 19 de junho (data em que a lei foi sancionada) a 20 de julho, atenderam 4.449. "Essa é uma economia que não dá para ser desprezada. Os hospitais estão sempre precisando de dinheiro", diz o secretário estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata. "Com a redução nas emergências, será possível aumentar as internações de pacientes que aguardam por uma cirurgia." A Secretaria da Saúde chegou à cifra considerando que uma vítima internada custa R$ 3.000 (custo de remédios, exames, cirurgias e todos os gastos da hospitalização) e que um acidentado em estado menos grave que é liberado em seguida custa em média R$ 500 (com remédios e exames). A lei seca aumentou o rigor contra as pessoas que dirigem depois de beber. Prevê multa, perda do direito de dirigir, prisão do motorista e retenção do carro. O máximo permitido são dois decigramas de álcool por litro de sangue, o que equivale, em média, a um copo de chope. Para garantir o cumprimento da norma, policiais têm feito blitze nas cidades e submetido os motoristas ao teste do bafômetro. A lei seca entrou em vigor no dia 20 de junho, um dia após ser sancionada, e vale em todo o território nacional.

Ceará
Fazendo um cálculo semelhante, o IJF (Instituto José Frota), em Fortaleza, maior hospital de urgência do Ceará, estima que a queda nos acidentes após a lei seca irá proporcionar uma economia de R$ 5 milhões à instituição neste ano. Apenas neste primeiro mês de fiscalização, em relação à média dos meses anteriores, houve redução de 26% no número de atendimentos a feridos em acidentes de moto, 13% em atropelamentos e 12% em batidas de carro. Houve ainda redução de 20% nos atendimentos a vítimas de acidentes registrados de 20 de junho a 21 de julho deste ano, ante o mesmo período de 2007 -foram 1.029 atendimentos no ano passado e 819 neste ano. O hospital, que é municipal, gasta R$ 40,5 milhões anuais com acidentes de trânsito.

Fiscalização
Mais que o rigor da lei, a redução de acidentes também está ligada ao aumento da fiscalização. Até 18 de junho, a média diária era de 48 abordagens e 19 testes do bafômetro. No primeiro mês da lei, passou para 163 abordagens e 70 testes. Em contrapartida, o número de prisões caiu para um terço, de 1.134 no primeiro período (ou 6,7 por dia) para 65 (2 por dia). A explicação é a mesma: os acidentes caíram. Antes, mesmo realizando menos operações para flagrar motoristas embriagados, a polícia acabava enquadrando, também por embriaguez, pessoas que se envolviam em acidentes no trânsito.


Colaboraram CINTHIA RODRIGUES e a Agência Folha, em Fortaleza


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