São Paulo, domingo, 26 de julho de 1998

Próximo Texto | Índice

EPIDEMIA
Obesidade provoca uso indiscriminado de remédios criados para combatê-la
América Latina quer evitar o efeito "estufa" dos EUA

AURELIANO BIANCARELLI
enviado especial a Santiago do Chile
LUCIA MARTINS
da Reportagem Local


A OMS (Organização Mundial da Saúde) tenta evitar nos países da América Latina o avanço de uma epidemia que já castiga 40% da população norte-americana -a obesidade.
Representantes de países latino-americanos, entre eles o Brasil, foram convocados pela organização mundial para discutir em Santiago, no Chile, uma ofensiva contra a doença, que já é considerada o grande desafio do século 21.
Nos EUA, onde mais da metade das pessoas acima de 20 anos está acima do peso, a epidemia mata mais do que a Aids. São 300 mil pessoas por ano, contra 100 mil vítimas do HIV.
Os males do excesso de peso consomem ainda cerca de 10% dos recursos da Saúde. Entre as doenças agravadas pela obesidade estão as complicações cardiovasculares, o câncer e a diabetes.
Segundo estimativas da Opas (Organização Panamericana da Saúde), braço latino-americano da OMS, o número de obesos nos países latino-americanos já gira em torno de 30% da população.
No Brasil, esse número dobrou nos últimos dez anos. Em São Paulo, pesquisa mostra que os obesos superam os desnutridos adultos.
"Muitos países, como o Brasil, estão conseguindo erradicar a miséria total de algumas regiões. Com isso, essas pessoas estão podendo comer mais, mas estão comendo errado e engordando", diz Walmir Coutinho, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade.
Para estabelecer o que é obesidade, a OMS criou o índice de massa corpórea (IMC), um cálculo baseado na relação entre a altura e o peso de cada um. Quando o resultado da conta ultrapassa 30 (veja como fazer o cálculo ao lado), a pessoa está doente e precisa de tratamento.

Reverso da medalha

Além de agravar os riscos de doenças, a obesidade criou outra ameaça, tão ou mais grave -a do uso indiscriminado de remédios criados para combatê-la.
O medo de engordar -causado por um padrão de beleza calcado na magreza excessiva- vem provocando uma corrida desenfreada aos anoréticos, drogas do tipo anfetaminas que inibem o apetite, mas podem criar dependência e causar danos ao organismo.
Há dois anos, o OICE, órgão das Nações Unidas que controla o uso internacional de entorpecentes, vem assinalando um consumo exagerado no Cone Sul.
De 1993 a 1995, três dos quatro maiores consumidores de anoréticos do mundo eram latino-americanos: Chile, Argentina e Brasil. Não há novos números disponíveis, mas sabe-se que os EUA, que então ocupavam o terceiro lugar, saltaram para primeiro nos últimos dois anos.
Prevenção é justamente a política que a OMS quer adotar diante da epidemia emergente de obesidade. "É preciso encontrar outras formas de atacar o problema que não sejam por meio das drogas", afirma Itzhak Levav, da Divisão de Promoção à Saúde da OMS.
A solução proposta pela OMS e por todos não traz novidades: mudança de hábitos alimentares e exercícios. Um cenário possível consiste em multidões que se juntam em parques de todo o mundo exercitando-se. Outro são cadeias globais de restaurantes onde as pessoas aprenderiam a comer.
Em outubro, acontece no Rio de Janeiro um encontro para discutir o problema.


O jornalista Aureliano Biancarelli viajou a convite da OMS/Opas




Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.