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EPIDEMIA
Obesidade provoca uso indiscriminado de remédios criados para combatê-la
América Latina quer evitar o efeito "estufa" dos EUA
AURELIANO BIANCARELLI
enviado especial a Santiago do Chile
LUCIA MARTINS
da Reportagem Local
A OMS (Organização Mundial
da Saúde) tenta evitar nos países
da América Latina o avanço de
uma epidemia que já castiga 40%
da população norte-americana
-a obesidade.
Representantes de países latino-americanos, entre eles o Brasil,
foram convocados pela organização mundial para discutir em Santiago, no Chile, uma ofensiva contra a doença, que já é considerada
o grande desafio do século 21.
Nos EUA, onde mais da metade
das pessoas acima de 20 anos está
acima do peso, a epidemia mata
mais do que a Aids. São 300 mil
pessoas por ano, contra 100 mil vítimas do HIV.
Os males do excesso de peso consomem ainda cerca de 10% dos recursos da Saúde. Entre as doenças
agravadas pela obesidade estão as
complicações cardiovasculares, o
câncer e a diabetes.
Segundo estimativas da Opas
(Organização Panamericana da
Saúde), braço latino-americano da
OMS, o número de obesos nos países latino-americanos já gira em
torno de 30% da população.
No Brasil, esse número dobrou
nos últimos dez anos. Em São Paulo, pesquisa mostra que os obesos
superam os desnutridos adultos.
"Muitos países, como o Brasil,
estão conseguindo erradicar a miséria total de algumas regiões.
Com isso, essas pessoas estão podendo comer mais, mas estão comendo errado e engordando", diz
Walmir Coutinho, vice-presidente
da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade.
Para estabelecer o que é obesidade, a OMS criou o índice de massa
corpórea (IMC), um cálculo baseado na relação entre a altura e o
peso de cada um. Quando o resultado da conta ultrapassa 30 (veja
como fazer o cálculo ao lado), a
pessoa está doente e precisa de tratamento.
Reverso da medalha
Além de agravar os riscos de
doenças, a obesidade criou outra
ameaça, tão ou mais grave -a do
uso indiscriminado de remédios
criados para combatê-la.
O medo de engordar -causado
por um padrão de beleza calcado
na magreza excessiva- vem provocando uma corrida desenfreada
aos anoréticos, drogas do tipo anfetaminas que inibem o apetite,
mas podem criar dependência e
causar danos ao organismo.
Há dois anos, o OICE, órgão das
Nações Unidas que controla o uso
internacional de entorpecentes,
vem assinalando um consumo
exagerado no Cone Sul.
De 1993 a 1995, três dos quatro
maiores consumidores de anoréticos do mundo eram latino-americanos: Chile, Argentina e Brasil.
Não há novos números disponíveis, mas sabe-se que os EUA, que
então ocupavam o terceiro lugar,
saltaram para primeiro nos últimos dois anos.
Prevenção é justamente a política que a OMS quer adotar diante
da epidemia emergente de obesidade. "É preciso encontrar outras
formas de atacar o problema que
não sejam por meio das drogas",
afirma Itzhak Levav, da Divisão de
Promoção à Saúde da OMS.
A solução proposta pela OMS e
por todos não traz novidades: mudança de hábitos alimentares e
exercícios. Um cenário possível
consiste em multidões que se juntam em parques de todo o mundo
exercitando-se. Outro são cadeias
globais de restaurantes onde as
pessoas aprenderiam a comer.
Em outubro, acontece no Rio de
Janeiro um encontro para discutir
o problema.
O jornalista
Aureliano Biancarelli viajou a convite da OMS/Opas
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