São Paulo, domingo, 26 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EPIDEMIA 2
Veto em alguns países reduziria 60% do consumo
Especialistas querem proibir as fórmulas

do enviado especial

Especialistas e autoridades da área da saúde presentes em Santiago pediram a proibição das associações contendo anoréticos preparadas em farmácias de manipulação. As fórmulas magistrais, como são chamadas, são receitas prescritas por médicos que definem as substâncias, suas quantidades e associações.
Na farmacologia em geral, as fórmulas manipuladas têm a vantagem de oferecer ao paciente uma medicação personalizada. No caso dos inibidores de apetite, elas vêm sendo utilizadas para fazer associações que apressariam o tratamento, mas que na verdade trazem sérios riscos à saúde.
No Chile, 95% de todos os anoréticos são prescritos através das fórmulas magistrais. No Brasil, segundo Elisaldo Carlini, as fórmulas representam dois terços das drogas inibidoras de apetite.
As associações de anoréticos com qualquer outra substância estão proibidas no Brasil por decisão da Conselho Federal de Medicina. Os médicos, no entanto, passaram a usar mais de uma receita: na primeira, prescrevem um anorético; na segunda, juntam benzodiazepínico com diurético, laxante, antidepressivo e outras drogas.
Especialistas afirmam ser muito difícil receitar apenas drogas anfetamínicas, já que a substância cria um estado intenso de ansiedade e de agitação. Na maioria dos casos, os médicos acabam receitando um benzodiazepínico como forma de tranquilizar o paciente.
Segundo técnicos presentes em Santiago, a proibição dos anoréticos em fórmulas magistrais poderia reduzir mais de 60% o uso dessas drogas em alguns países.
Outra proposta aprovada em Santiago foi a revisão da literatura existente sobre os anoréticos para se definir com clareza se têm ou não efeito terapêutico na obesidade. Alberto Cormillot, diretor do Instituto Argentino de Nutrição, disse que até agora nenhum estudo clínico sério provou que essas drogas trazem algum benefício ao paciente. "Sendo assim, temos que pedir que sejam banidas."
A equipe também propôs que grupos sejam criados para estabelecer o que é obesidade e como deve ser tratada. Para a maioria dos participantes, o uso de anoréticos deve ser cuidadosamente definido pelo médico, e o tratamento com drogas terá de ser apenas auxiliar a outras terapias, como já determinaram entidades médicas do Canadá e da União Européia.
A partir do encontro de Santiago, OMS, Opas e Nações Unidas vão sugerir a introdução de matérias sobre nutrição em todos os cursos, do primário às escolas de medicina. Também serão propostos cursos específicos para médicos e profissionais de saúde.
(AURELIANO BIANCARELLI)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.