São Paulo, domingo, 26 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EPIDEMIA 4
Cerca de 40% dos 200 pacientes do ambulatório do HC sofrem do "transtorno de comer compulsivo"
António Gaudério/Folha Imagem
Priscila, que costumava comer meio quilo de chocolate por semana


Compulsivo troca shopping por padaria

da Reportagem Local

Uma compulsão por comer que faz com que algumas pessoas devorem barras de chocolate de 1/2 kg em alguns minutos, comam pacotes de biscoito e salgadinhos no intervalo de grandes refeições e que outras troquem vitrines de shoppings pelas de padarias.
Essa "vontade de comer" exagerada é um transtorno que, em grande parte dos obesos, se concentra em um período do dia, principalmente se a pessoa passa algumas horas sem se alimentar.
"Eu fico fascinada em uma vitrine de uma boa padaria. Quando começava a comer um bom pãozinho, não parava mais. E sempre com presunto, salame, queijo, iogurte, café. Eu tenho prazer em comer", afirma Edna, 50, que chegou a pesar 150 kg e hoje, após um tratamento, está com 94 kg.
Dos cerca de 200 pacientes que se tratam no Ambeso, ambulatório de obesos do Hospital das Clínicas, 40% sofrem do "transtorno do comer compulsivo". Segundo o coordenador do Ambeso, Adriano Segal, a síndrome faz com que o obeso coma compulsivamente em pouco tempo sem prestar atenção no que está ingerindo.
As causas desse tipo de transtorno são uma mistura de algum desvio psiquiátrico (ansiedade, depressão etc.) com hábitos alimentares inadequados.
A orientadora familiar Priscila Arap, 29, não comia muito à noite, mas sofria com uma vontade de comer compulsiva. "Meu problema sempre foi beliscar."
Beliscar para ela significa comer barras inteiras de 1/2 kg de chocolate pelo menos duas vezes por semana, sacos de biscoito, pão e tudo que aparecia, principalmente se estava nervosa no intervalo das refeições. Seu restaurante preferido era o McDonald's, onde ela comia só um sanduíche, mas quatro porções grandes de batata frita.
Essa receita fez com que Priscila, 1,63 m, atingisse 98 kg no ano passado. Hoje, depois de uma dieta associada ao uso de um inibidor de apetite, ela perdeu 18 kg. Hoje, ela diz não sentir fome, apesar de calcular que sua dieta representa apenas 5% do que ela comia antes.
O mesmo problema atormenta a professora Cleusa Graziano Modé, 49, 1,78 m e 117 kg. Mesmo fazendo regime, ela diz que ainda se engana algumas vezes e belisca.
Cleusa afirma que o que faz com que ela coma ainda mais são as crises depressivas. "O problema é que entro em depressão e a fome aumenta."
(LUCIA MARTINS)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.