São Paulo, domingo, 26 de julho de 1998

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CIVILIZAÇÃO
Pesquisador está estudando motivo que levava colonizadores a procurar o 'paraíso perdido' no Brasil
Historiador 'visita' cidades imaginárias

ROGER MODKOVSKI
da Agência Folha, em Curitiba


O historiador Johnni Langer, 30, está visitando as origens das "cidades imaginárias" brasileiras para explicar por que os colonizadores do nosso território tinham de acreditar no mito do "paraíso perdido" para seguir em frente com sua empreitada civilizatória no Brasil.
Segundo Langer, em seu livro "As Cidades Imaginárias do Brasil", os colonizadores portugueses sentiam a necessidade de pensar que havia na América civilizações desaparecidas ou escondidas, lugares utópicos, onde iriam encontrar fortuna, fama, conhecimento e uma sociedade perfeita -mas sempre nos moldes da civilização européia.
As cidades imaginárias são divididas em duas categorias: as petrificadas (formações geológicas semelhantes a obras humanas) e as perdidas (conhecidas apenas por meio de relatos fantasiosos).
O Brasil tem três cidades petrificadas conhecidas: Vila Velha (PR), Sete Cidades (PI) e Paraúna (GO), todas esculpidas na rocha pela erosão. A geologia e a arqueologia derrubaram a hipótese de que sejam obra de civilização.
As demais cidades, "construídas" em ouro, prata e pedras preciosas, existiram apenas na imaginação dos exploradores e do povo -e, academicamente, são tratadas como mitos.
Langer pesquisa o tema desde 1982, quando leu "A Expedição Fawcett", do coronel inglês Percy Harrison Fawcett, que desbravou o Brasil no início do século à procura de civilizações perdidas. Em 1996, defendeu como tese de mestrado suas cidades imaginárias.
No ano seguinte, Langer foi um dos vencedores do Concurso Nacional de Ensaios, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná e pela Xerox do Brasil.
O historiador diz ter se limitado à leitura do material bibliográfico erudito para escrever a tese. Mas, segundo ele, a literatura oral também dá grande contribuição ao estudo dessas lendas. "Cada lugar, ainda hoje, tem sua denominação própria de cidade imaginária."
Langer pesquisou em relatos de conquistadores espanhóis e portugueses, bandeirantes, arqueólogos, geógrafos e viajantes do Brasil Colônia até os dias de hoje.
Segundo o historiador, os exploradores eram pessoas "imaginativas", que vinham à América com uma idéia preconcebida de que aqui haveria algo mais que apenas civilizações rudimentares.
Como diz, eles precisavam reformular "as situações inusitadas vivenciadas no remoto, para que se adaptassem a parâmetros conhecidos, podendo desta forma ser dominadas e controladas."


"As Cidades Imaginárias do Brasil" (Johnni Langer, 242 págs, R$ 8). Informações: (041) 224-0575



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