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COMPORTAMENTO
Pesquisa da Universidade Federal Fluminense detalha discriminação racial decorrente da aparência
Brasileiro tem preconceito "à primeira vista"
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Se ainda havia alguma dúvida,
uma pesquisa piloto realizada no
Rio de Janeiro deixa claro: o brasileiro é, sim, preconceituoso, e esse
preconceito não se manifesta apenas em relação à raça ou à cor.
Pela aparência, julga-se a capacitação profissional de um homem e até mesmo o seu caráter.
Ou seja: olha-se rapidamente um
rosto e se avalia se aquele cidadão
é trabalhador ou preguiçoso, honesto ou criminoso.
Essa é a conclusão de um estudo
piloto coordenado por professores da Universidade Federal Fluminense e patrocinado pela Fundação Ford.
Trata-se de uma experiência
bem-sucedida e que está, neste
momento, sendo estendida para
todo o Brasil, envolvendo dezenas
de pesquisadores e 2.000 entrevistados. Quando ficar pronta, no final do ano, apresentará um grande panorama qualitativo do preconceito e da discriminação, de
acordo com as especificidades de
cada região do país.
Personagens reais
A particularidade da atual pesquisa, realizada com 200 entrevistados da cidade do Rio, reside no
fato de ela ter levado em conta
personagens reais. São homens
que emprestaram sua imagem em
fotos para que os pesquisadores
fluminenses as mostrasse aos entrevistados e, então, coletassem as
impressões que os retratos deixaram nos observadores.
Os entrevistados, por sua vez,
viam a fotografia (as mesmas que
aparecem no quadro explicativo
desta reportagem) e emitiam um
juízo de valor sobre a pessoa ali
retratada.
Segundo um dos coordenadores do trabalho, o professor de
ciências políticas Alberto Carlos
Almeida, o objetivo foi dimensionar, a partir das designações clássicas do IBGE para a cor da população (preta, banca, parda), a relação que os indivíduos fazem entre
aparência física e qualificação.
As pessoas eram instadas a dar
respostas cuja simples formulação indicaria a existência de discriminação.
"Detectamos dois tipos de preconceito", afirma o pesquisador
Almeida. "Um deles é, digamos,
mais "fraco", e reside no fato de se
classificar erradamente uma pessoa como parda ou preta, ou a
parda e a preta como pobres. Isso
pode ser classificado como uma
espécie de preconceito estatístico,
em que se repete aquilo que se vê
com frequência; a maioria dos
pardos são pobres, então esse pardo é pobre. O outro tipo de preconceito, mais "forte", é alguém
achar que pode dizer que uma
pessoa é ou não é inteligente apenas pela aparência."
Para os pesquisadores, essa é
uma atitude que revela preconceito tanto quanto o revela o fato de
alguém dizer, também a partir da
aparência, que um cidadão é criminoso ou honesto.
"A única resposta possível nesses casos é dizer que não dá para
responder", afirma Almeida.
Qualquer outra resposta, a partir
unicamente da aparência, pode
ser considerada preconceituosa.
E é justamente isso que a pesquisa mostra: seria impossível fazer essa relação, mas 37% dos entrevistados afirmam que o branco
é inteligente, enquanto apenas 7%
dizem que o preto o é.
Advogado x taxista
Outro dado de caráter que não é
possível identificar apenas pelo
aspecto visual das pessoas, mas
que encontrou receptividade por
parte dos entrevistados, refere-se
à profissão das pessoas retratadas.
Apresentando ocupações profissionais em escala de prestígio
supostamente descendente (advogado, professor e motorista de
táxi), chegou-se ao seguinte: a
maioria dos entrevistados relaciona o homem branco à ocupação
considerada mais nobre; o pardo
e o preto são vinculados à profissão que agrega menor status.
A pesquisa traz ainda um outro
aspecto, que também revela o
preconceito arraigado ao imaginário da população: o pesquisador perguntou qual dos homens
das fotos parece ser um nordestino. De todos os entrevistados,
88% classificaram o homem da
foto número dois de nordestino.
Embora ele se encontre no grupo de brancos estabelecido pelos
próprios entrevistados, esse indivíduo recebeu, a seguir, votação
expressiva como sendo pobre e
motorista de táxi.
"Os preconceitos são variados",
afirma Almeida, "mas é brutal
quando diz respeito a pardos, pretos e ao branco nordestino."
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