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PLANO DIRETOR
Emenda autoriza venda antecipada de direito de construir sem que obra tenha sido aprovada pela prefeitura
Nova mudança pode permitir especulação
MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma emenda incorporada ao
texto do Plano Diretor, aprovado
na sexta-feira pela Câmara Municipal de São Paulo, permite a empreendedores comprar o direito
de construir na cidade sem necessidade de ter o projeto aprovado
pela prefeitura. Para especialistas
ouvidos pela Folha, o mecanismo
favorece a especulação no mercado imobiliário.
Pelo texto do artigo 195, inserido no projeto por sugestão da vereadora Myryam Athiê (PMDB),
a prefeitura poderá conceder aos
donos de terrenos uma certidão
de outorga onerosa de potencial
construtivo adicional, vinculada a
um ou mais lotes.
A outorga é uma taxa que será
cobrada de quem quiser construir
acima do coeficiente básico -índice que determina o tamanho
dos imóveis que poderão ser erguidos gratuitamente nos terrenos. Os limites das construções
serão regulados por coeficientes
máximos. Com a emenda, é possível pagar adiantado -com taxas mais baixas- para garantir o
direito de construir no futuro,
quando os terrenos poderão estar
mais valorizados.
O plano também permite que
esse direito seja vendido a terceiros ou transferido para outros terrenos, exceto para áreas de operações urbanas. Para especialistas, o
mecanismo deve promover uma
corrida das construtoras em busca de metros quadrados que no
futuro podem ter um maior valor
de mercado.
"É um fator de especulação e
mantém o poder público à mercê
do empreendedor", afirma o urbanista e professor de planejamento urbano da Universidade
de São Paulo, Luiz Carlos Costa.
Segundo Costa, a venda de potencial construtivo adicional para
obras que só serão realizadas no
futuro torna imprevisível o cálculo da demanda por serviços públicos e deve gerar congestionamentos na cidade.
"Isso significa uma mera concessão aos interesses econômicos.
É uma pressão do setor imobiliário que deve piorar a situação dos
bairros", afirma o professor.
Para o urbanista, apenas a fixação dos coeficientes não é suficiente para regular a capacidade
das regiões de receber novos empreendimentos. "Se todos construírem o máximo, é evidente que
isso vai sobrecarregar a capacidade desse lugar. É preciso calcular
essa capacidade", disse.
De acordo com a arquiteta e diretora do movimento Defenda
São Paulo, Regina Monteiro, o
mecanismo permite à prefeitura
arrecadar recursos de maneira
mais fácil e rápida.
"Quem tem dinheiro vai poder
fazer estoque de potencial construtivo. É preciso tomar cuidado,
pois o mercado passará a mandar
na cidade e ninguém vai conseguir controlar isso", disse.
Para Regina, a mudança mostra
que a base do projeto de desenvolver um planejamento urbano
para a cidade foi destruída pelas
concessões ao mercado.
"Não tenho dúvida de que esse é
mais um motivo para solidificar a
ação que pretendemos mover
contra o plano no Ministério Público", afirmou.
O relator do projeto, Nabil Bonduki (PT), disse que não houve
nenhuma recomendação do mercado para que a mudança fosse
feita. "Esse mecanismo não deve
começar a funcionar antes que sejam estabelecidos os estoques de
metros quadrados disponíveis em
cada região", disse. Segundo Bonduki, os estoques serão fixados
pela lei de zoneamento, que será
votada até abril do ano que vem.
"A certidão permite um ganho,
se houver valorização dos terrenos. Além disso, a prefeitura poderá conseguir antecipadamente
recursos que serão investidos em
obras para a melhoria da cidade",
disse o vereador petista.
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