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Solitário paga R$ 300 para ter "amigo"
Não há cunho psicológico ou sexual, dizem os "personal friends" que anunciam serviços na internet
Especialista em amizade profissional cobra por hora para conversar com você e acompanhá-lo no shopping ou, se for no Rio, no calçadão
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Atenção você, leitor, que sofre com a falta de "amigos, desses que olham nos olhos e falam
com sinceridade", não fique assim pra baixo: seu problema
pode estar resolvido.
O mercado de babás de luxo
acaba de acrescentar a seu crescente leque de ofertas o assim
chamado "personal friend".
Trata-se de um especialista em
amizade profissional, que cobra por hora para ser seu amigo, conversar e acompanhá-lo
em voltinhas pelo shopping ou,
se for no Rio, pelo calçadão, tomando uma água de coco.
Os psicólogos não precisam
se sentir ameaçados. O novo
profissional faz questão de esclarecer que não tem a menor
intenção de ser terapeuta. Disponibiliza apenas a amizade.
A profissão é nova mesmo.
Os entrevistados começaram
no ramo há menos de um ano e,
segundo dizem, estão com a
agenda tomada. Ah, importante: o serviço acaba na amizade,
descartando-se, portanto, qualquer proposta de cunho sexual.
Que tal? Sorriu? Então aí vão os
detalhes: o amigo pessoal por
dinheiro cobra uma taxa que
pode variar de R$ 50 a R$ 300;
em geral prefere trabalhar em
lugares públicos e não tem restrições quanto à faixa etária.
Já há pelo menos três precursores no ramo oferecendo
seus serviços na internet. Um
em São Paulo, dois no Rio. Apenas um não quis conversar com
a reportagem, alegando que se
considera muito novo na área
para dar depoimentos.
Em experiências pregressas,
o profissional da amizade em
geral teve "contato com gente"
e descobriu um talento inato
para "falar". Seria, traduzindo
livremente o termo do inglês,
um conversador. Tomemos o
caso do estudante de direito Ivo
Matos, 31. Até chegar à conclusão de que poderia cobrar para
ser amigo de pessoas com dificuldade de relacionamento, ele
acumulou um currículo bastante razoável: foi motoboy,
manobrista, auxiliar de lava-rápido e garoto McDonald's.
Matos descobriu que poderia
desenvolver sua aptidão ao fazer um trabalho para a faculdade no qual "abordava o Brasil
como um país bastante tolerante". "Aqui vivem pessoas de
todos os povos, raças, credos,
mas nem sempre esses grupos
se relacionam bem. Trabalhei
com marketing multinível e
precisei fazer palestras, convencer pessoas a comprar determinados produtos. Aquilo
não era nada mais que uma lavagem cerebral. Descobri em
mim um talento especial nessa
área", conta ele, que cobra R$
50 pela hora de amizade.
Outro profissional é o palestrante Silvério Veloso, 42, que
atua desde março no Rio e se
surpreendeu quando soube da
existência de Matos: "Não sabia
que havia mais gente desenvolvendo a atividade", diz Veloso,
com forte sotaque carioca.
"Nunca pretendi patentear o
termo, não me considero seu
criador. Apenas percebi uma
lacuna no mercado e fui atrás."
Ele diz cobrar R$ 300 a hora
("preço de Rio de Janeiro") e
ter cerca de 50 clientes cadastrados, "por volta de metade
disso ainda ativos".
Como Matos, Veloso também tem currículo variado: ele
se apresenta como "ex-empresário da área de mineração em
um negócio familiar e também
professor formado em educação física". "Quando nossa família vendeu a empresa, resolvi
transmitir meu conhecimento
dando palestras [em uma faculdade de Barra Mansa, interior
do Rio]. Percebi que havia uma
demanda grande na área de associativismo e empreendedorismo como sustentabilidade
para empresas", explica.
Diz ele que o que mais o interessa são as palestras, "até pelo
lado financeiro, que é muito
mais vantajoso". "A palestra e o
acompanhamento como "personal friend" funcionam em dobradinha. Ao fim da apresentação, quem assiste me procura para conversar e acaba desabafando sobre suas dificuldades
no trabalho." Acima de tudo,
acredita Veloso, "as pessoas
precisam ser ouvidas": "A gente
vê diversos livros abordando o
tema de forma técnica, mas é
comportamental", ensina.
Um de seus clientes é o Volta
Redonda Futebol Clube, onde
ele aplica o que chama de "personal friend corporativo": "Como tenho o curso de educação
física e acumulei experiência
em gestão corporativa, falo a
língua dos jogadores de futebol
e também a da diretoria do clube. Costumo dizer que funciono como um ouvido que percorre a empresa e informa as necessidades dos funcionários
a seus dirigentes", explica.
O "personal friend" de número três, Welington Alves, 47,
que também usa o termo para
se classificar no Orkut, respondeu à reportagem que ainda
não tem cabedal suficiente na
área para dar entrevistas. Diz
ele no Orkut: "Se você é do Rio,
capital, se sente só e não possui
pessoas que possam ser classificadas de verdadeiros(as) amigos(as) e precisa de um ombro
amigo, um confidente ou um
acompanhante para conversar
ou desabafar, veio ao lugar certo. O serviço não é gratuito e é
pré-agendado". Ele não informa o preço.
Antes que alguém "confunda
tudo", Alves faz questão de esclarecer: "Não procuro relacionamentos amorosos ou sexo.
Nem sou homosexual (sic).
Portanto, se não precisa do serviço oferecido aqui, não insista
nem me incomode".
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