São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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SAÚDE

Terapia com imunomoduladores tópicos provoca menos efeitos colaterais que as pomadas e cremes de corticóide

Dermatite atópica tem novo tratamento

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O tratamento da dermatite atópica -inflamação da pele que atinge 20% das crianças até cinco anos e 5% dos adultos- conta com novas drogas chamadas imunomoduladores tópicos, que atuam seletivamente sobre as substâncias que desencadeiam a doença, sem provocar os efeitos colaterais verificados com o uso do corticóide tópico.
Embora sejam reconhecidamente eficazes nas crises de dermatite, as pomadas e os cremes de corticóide, quando usados a longo prazo, penetram na pele, causando diversos danos, como atrofia (afinamento) e estrias. Esses antiinflamatórios também podem espalhar a doença para outras regiões do corpo por absorção sistêmica.
Segundo a médica Regina Carneiro, coordenadora do departamento de dermatologia pediátrica da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), os imunomoduladores tópicos conseguem a mesma eficácia dos corticóides no controle das crises de dermatite, porém, por não provocar efeitos colaterais, são mais seguros, especialmente para as crianças.
As novas drogas, que incluem o tacrolimo e a pimecrolimo, inibem a liberação de certas citocinas (substâncias que regulam a resposta imunológica) nas células inflamatórias, agindo diretamente na "fonte" da inflamação.
No Brasil, apenas o pimecrolimo (Novartis) está à venda, ao preço médio de R$ 80 o tubo de 15 gramas (com desconto). O tacrolimo (Roche), aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), está sendo lançada no congresso brasileiro de dermatologia, que começa amanhã em Natal, e chega às farmácias brasileiras no próximo ano.
Carneiro diz que, além da dermatite atópica, essas drogas também estão se mostrando eficazes no tratamento de outras doenças inflamatórias da pele, como o lupus e a psoríase.
Para o dermatologista Roberto Takaoka, os imunomoduladores tópicos já utilizados no Brasil são mais eficazes em casos de dermatites leves e moderadas. "Nos casos graves e durante as crises, ainda temos de lançar mão dos corticóides. A resposta é mais rápida."
Embora tenha uma ação antiinflamatória em dois ou três dias, os corticóides tópicos podem provocar o "efeito rebote", ou seja, logo depois da utilização, as lesões podem reaparecer mais intensas.
A professora de biologia Mirian Vasconcellos, 40, que tem dermatite atópica no rosto desde a idade de três meses, já perdeu as contas dos episódios de efeito rebote que enfrentou com o uso dos corticóides. "O rosto ficava inchado e vermelho", conta. Ela afirma que não voltou a ter esse tipo de reação com os imunomoduladores.
Além do efeito rebote, a recidiva das lesões pode ser em razão da taquifilaxia, ou seja, tolerância a determinada potência do corticóide. Por exemplo, o médico indica um tipo de corticóide de média potência, mas seu uso repetido pode deixar de surtir efeito e é preciso partir para um de alta potência, aumentando as chances de danos à pele e absorção sistêmica.
De acordo com a pediatra Aline Buerger, gerente médica da Roche, estudos envolvendo mais de 13 mil crianças e adultos mostraram que a tacrolimo é eficaz também em casos de dermatites graves, ou seja, poderia substituir, com muito mais segurança, os corticóides. Ela estima que a droga, quando chegar ao Brasil, deva custar em torno de R$ 110.
Médicos dizem que nas últimas três décadas a prevalência da dermatite atópica vem aumentando, chegando até mesmo a triplicar em algumas regiões do mundo.
A explicação, afirma Carneiro, estaria no crescimento de agentes tóxicos desencadeadores de alergias, como a poluição ambiental e o uso de corantes e conservantes.


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