São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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VIDA EM GUETOS

Classe média e pobres de SP ficaram mais próximos geograficamente, segundo pesquisadoras da PUC e da USP

Condomínios crescem e marcam segregação

ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)

Na década de 90, a classe média e a população mais pobre de São Paulo ficaram mais próximas geograficamente, mas ainda mais distantes do ponto de vista social. Isso porque a segregação social na capital e na região metropolitana ganhou novos padrões: enquanto as classes média e alta procuraram imóveis em condomínios fechados, os mais pobres intensificaram o processo de favelização.
É o que mostra um estudo feito pelas pesquisadoras Lúcia Maria Bogus, da PUC-SP, e Suzana Pasternak, da USP. O trabalho foi divulgado no 14º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos Populacionais.
O crescimento dos condomínios horizontais fechados, com oferta de serviços e áreas de lazer dentro de um espaço restrito apenas aos moradores, é evidenciado pelos dados coletados pelas pesquisadoras na Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio.
Em 1992 (primeiro ano desse levantamento), foram lançados em São Paulo apenas quatro desses condomínios. Em 2000, esse número chegou a 55 na capital, além de outros 15 nas demais cidades da região metropolitana.
Outro dado que indica essa expansão é o aumento no número de unidades habitacionais oferecidas nesses condomínios.
Em 1992, foram 168. Em 2000, foram 2.535, sendo 1.545 dessas unidades oferecidas em outros municípios da região metropolitana de São Paulo.
Na mesma década de 90, os dados dos censos do IBGE mostram que houve uma expansão do número de paulistanos vivendo em favelas. Segundo o IBGE, essa população era de 711 mil em 1991 e representava 7,5% da população. Em 2000, os moradores de favelas passaram a ser 930 mil e a representar 8,9% da população.
O crescimento dos condomínios e das favelas altera um padrão de segregação consolidado na segunda metade do século 20 em São Paulo. Enquanto as classes mais altas ficavam nos bairros ao redor do centro, as mais pobres migravam para a periferia.
Como o crescimento dos condomínios não está acontecendo apenas nas áreas mais nobres da cidade, esse novo padrão de moradia volta a colocar em alguns bairros -como já aconteceu no início do século 20-, num espaço físico muito próximo, pobres e a classe média ou alta.
A diferença, no entanto, é que, apesar de favelas e condomínios estarem próximos geograficamente, os espaços de convivência são bem delimitados e não são divididos pelas duas classes.
A tendência da classe média e alta de se fechar em condomínios fechados é explicada pelas pesquisadoras pela busca de status e pela apropriação de marcas de distinção de poder. O argumento de mais impacto e mais usado pelo mercado imobiliário, no entanto, é o da segurança.


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