São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2008

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Detran apreende Corsa 96 com R$ 3,4 mi em multas

Dono foi surpreendido ao chegar em casa, na zona sul de SP; veículo irá a leilão

Corsa 96, comprado por um comerciante em 2001, está com licenciamento vencido há sete anos; documento do carro não foi transferido

Danilo Verpa/Folha Imagem
Veículo apreendido pelo Detran; entre 2002 e 2008, motorista acumulou multas de trânsito que totalizam mais de R$ 3,4 mi

DA REPORTAGEM LOCAL

O Detran de São Paulo apreendeu anteontem um Corsa 96 que acumula R$ 3,4 milhões em multas de trânsito desde 2001. Com o valor das multas, é possível comprar 270 carros iguais ao apreendido, avaliado em R$ 12.600. Ou então 23 veículos do tipo BMW 120i, por R$ 145 mil cada.
O licenciamento do carro está vencido há sete anos, desde que, segundo o Detran, foi adquirido pelo comerciante Armando Clemente da Silva, 35, que nunca o transferiu para seu nome -oficialmente, o carro ainda pertence à AGF Seguros, antiga proprietária. Por isso, Silva jamais pagou multas ou recebeu pontos na carteira.
Para especialistas, embora chame atenção pelo valor das multas -885 até julho, segundo a Secretaria dos Transportes-, o caso é só um entre "tantos que devem existir na cidade".
"Os maus pagadores não são punidos, e quem cumpre a lei se sente ludibriado", diz o consultor de trânsito e professor da USP Jaime Waisman.
Dados de 2007 do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) mostram que 1.428 veículos no país tinham mais de 50 multas não-pagas e uma dívida que, somada, ultrapassava os R$ 15 milhões. O Detran diz não ter idéia de quantos sejam os veículos em situação irregular na capital paulista.
O caso foi descoberto há cinco dias por policiais do setor de fiscalização do Detran, durante investigação de outra denúncia. Eles montaram vigilância em frente à casa do comerciante, no Campo Limpo (zona sul), onde o carro foi apreendido.
"Estamos fazendo levantamento dos veículos irregulares para elaborar um novo modelo de cadastramento de veículos", disse Ruy Estanislau, diretor do Detran, que reconheceu a vulnerabilidade do atual sistema.
Mais da metade das multas do Corsa referem-se a infrações comuns, a maioria por excesso de velocidade.
Entretanto, 99,8% dos R$ 3,4 milhões correspondem a multas por "não identificar o condutor" responsável pela infração, penalidade aplicada somente a veículos de empresas.
Funciona assim: a cada vez que não indica a pessoa que dirigia o carro no momento da infração, a empresa recebe nova multa, cujo valor é multiplicado pela quantidade de infrações iguais cometidas anteriormente. No caso do Corsa, foram 431 dessas penalidades.
O carro irá a leilão em 90 dias. A prefeitura, credora dos R$ 3,4 milhões, afirma que irá acionar judicialmente a AGF.
A empresa, por sua vez, diz não ser responsável pela dívida. Alega que solicitou ao Detran o bloqueio do registro do veículo em 2004, após receber as primeiras cobranças.
O comerciante, por telefone, disse que "não há nada" contra ele e que "não tem do que se defender". Ele questionou: "O carro está em nome de quem?", antes de desligar o telefone.


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