São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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Petróleo cria emprego e favela em Macaé

Base da Petrobras gera trabalhos qualificados e eleva padrão em parte da cidade, mas impulsiona favelização

Migrantes sem emprego vivem sob condições precárias; apesar disso, município é o mais bem colocado do Rio no IFDM

PEDRO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A MACAÉ

O rio que dá nome a Macaé (norte fluminense) e a corta ao meio também a divide em duas realidades. Ao norte avolumam-se os problemas: falta saneamento, a favelização impera, o comércio é quase todo informal e o tráfico domina algumas áreas.
Os problemas são agravados pelo inchaço populacional provocado pelo "boom" do petróleo -o município concentra a maior base logística de apoio à produção, estocagem e distribuição de óleo e gás da Petrobras.
Ao sul do rio, a cidade cresce com a expansão de empresas fornecedoras da Petrobras e com a oferta de novos serviços. A rede hoteleira, por exemplo, triplicou em cinco anos (só perde, no Estado, para a da capital).
O município de 200 mil habitantes ganhou ainda imóveis de alto padrão (como um condomínio da franquia Alphaville), shopping center e cidade universitária -com as federais UFF e UFRJ.

FAVELAS
Boa parte da população, porém, não tem acesso a tal infraestrutura. A prefeitura estima que cerca de 35% dela viva em condições precárias e sem saneamento básico.
A favelização veio com a promessa de emprego fácil no setor petroleiro, diz a prefeita interina, Marilena Garcia (PT). "Eles vêm do Nordeste, do Espírito Santo e de cidades vizinhas", afirma.
Romeu Silva, doutor em engenharia de produção pela PUC-Rio, diz que a favelização iniciou nos anos 90 com a expectativa de emprego na cadeia do petróleo. "Mas o setor exige alta qualificação e muitos migrantes não arrumaram emprego. Só restou morar em áreas invadidas."
Outro problema é a violência: a cidade tem taxas de homicídio acima da média do RJ. Em 2004, a Organização dos Estados Ibero-Americanos a apontou como a 10ª cidade mais violenta do país.
Apesar dos problemas, o salto na área de saúde de 2006 para 2007 e a situação de quase pleno emprego asseguraram à cidade o 11º lugar no ranking do IFDM -é a única do Estado entre as 15 mais bem colocadas.
O secretário de Saúde, Eduardo Cardoso, diz que a previsão é gastar R$ 250 milhões neste ano no setor. O salário do médico de família chega a R$ 9.900 mensais.
"É fácil marcar consulta e receber atendimento. O problema é moradia. Eles [governantes] prometem, mas não fazem nada", diz Andréa Jones, 31 . Ela vive na favela da Fronteira, em um barraco à beira da praia, invadido pela água em períodos de ressaca.
Para Cliton Silva Santos, secretário de Desenvolvimento Econômico, a falta de qualificação da mão de obra local é a maior restrição, o que obriga as empresas a recrutarem fora de Macaé.
Outro gargalo, diz, é a infraestrutura, saturada com o crescimento desordenado. A Petrobras responde por 98% do movimento do aeroporto. O trânsito é caótico com o fluxo intenso de caminhões.


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