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Estudante fica 5 meses sem aula no Bumba
Após desabamento de morro em Niterói, em abril, escola municipal foi fechada e reaberta apenas neste mês
Secretaria afirma que demora para reabrir colégio foi resultado da necessidade de compra e adequação de imóvel
FÁBIO GRELLET
DO RIO
Quando ela, o marido e as
três filhas escaparam ilesos
do desabamento do morro
do Bumba, em Niterói (região metropolitana do Rio),
em abril, Roberta Fernandes,
24, respirou aliviada.
Quase seis meses depois, a
vida não voltou ao normal.
Roberta não perdeu a casa,
como muitos vizinhos, mas o
fechamento da escola municipal Sebastiana Gonçalves
Pinho, interditada desde o
desabamento, fez a rotina da
família desmoronar.
As três filhas de Roberta
estavam entre os 297 alunos
da unidade-que oferece vagas de ensino infantil e fundamental até o 5º ano.
Roberta deixou o emprego, de doméstica, para cuidar das duas filhas menores
-Yasmin, 3, e Milena, 4.
A mais velha, Eduarda, 9,
só conseguiu vaga em uma
escola de outro bairro. Teve
que se mudar para a casa da
avó, para ficar mais perto daquela unidade, onde cursa o
2º ano do ensino fundamental. As duas mais novas foram para outra escola.
"Mas fica muito longe e eu
gasto um tempão para levá-las e buscá-las, a pé. Por isso
ainda não pude voltar a trabalhar", afirma Roberta.
No caminho, elas e as filhas passam pelos destroços
do morro do Bumba.
Com um terço da renda familiar perdida -o marido ganha dois salários mínimos,
ela ganhava um-, a família
não consegue mais pagar as
contas. O telefone foi cortado
há duas semanas. "Ou a gente compra comida ou paga as
outras despesas", diz.
A escola onde suas filhas
estudavam só reabriu, em
outro prédio, em 8 de setembro, após cinco meses sem
aulas. Segundo a Secretaria
da Educação de Niterói, a demora foi resultado dos trâmites para compra e à necessidade de reformas no imóvel.
PERÍODO INTEGRAL
Para o ano letivo não ser perdido, as aulas são em horário integral e aos sábados.
Como o novo prédio é distante do antigo, às 7h30, um
ônibus espera as crianças na
porta da antiga escola. Leva
o grupo e traz de volta às 17h.
"Meu filho estava começando a ser alfabetizado e
passou cinco meses fora da
escola. Não vai perder o ano
letivo, porque é esforçado,
mas poderia ter aprendido
muito mais se a escola não ficasse tanto tempo fechada",
diz Josenil Moraes, 39.
Ele foi demitido dias antes
da interdição da escola. "Como eu estava em casa, pude
cuidar do Hugo [Moraes, 7]
sem mudar minha rotina,
mas se estivesse empregado
teria problemas", diz ele.
O outro filho de Moraes,
Hudson, 8, cursa o 2º ano do
ensino fundamental e esperou dois meses até conseguir
vaga em outra escola.
Mesmo com dificuldade financeira, os pais procuraram escolas particulares. O
colégio Anchieta, perto do
morro do Bumba, reduziu a
mensalidade para atender
alunos de famílias carentes.
"Uma senhora veio à escola e contou que não poderia
pagar a mensalidade integral, mas queria que o neto
[Kauã Menezes, 5] continuasse estudando. Então reduzimos a mensalidade de
R$ 318 para R$ 160 e ele está
conosco desde maio, cursando a educação infantil", diz a
diretora pedagógica do Anchieta, Márcia Barbosa, 50.
A Secretaria da Educação
contabiliza 127 alunos como
transferidos de escola, mas
vários desistiram de estudar,
segundo familiares.
A dona de casa Michele de
Oliveira, 24, conta o que
aconteceu com sua prima
que perdeu a casa e foi obrigada a mudar de bairro.
"A filha dela tem seis anos
e não conseguiu vaga em outra escola, então desistiu."
"Agora, as irmãs, de 16 e 17
anos, cuidam da menina enquanto a mãe vai trabalhar."
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