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"Para reformar, tem de ter ajuda de empresário amigo"
Em entrevista a repórter da Folha, delegado dá detalhes da obra no Denarc
Everardo Tanganelli Jr. diz como polícia recorre a "jeitinho" para sanar deficiências; "não acho que estimule corrupção"
DE SÃO PAULO
Leia o depoimento do delegado Everardo Tanganelli
Jr., da Polícia Civil paulista,
feito ao repórter especial da
Folha Mario Cesar Carvalho:
"No meio de 2008, veio a
ordem de mudança. O delegado-geral, Maurício [Lemos], disse que a gente tinha
de achar um prédio. Respondi que isso era dever do Estado, não meu.
Quando mostraram o prédio do Bom Retiro, que era
da Secretaria da Educação,
falei: "Fica do lado de um lixão, cheira mal, tem rato para tudo quanto é lado".
Não tem estacionamento
suficiente: cabem 150 viaturas e o Denarc tem 280.
Tinha sujeirada nos corredores, não tinha divisória
para delegacias, o teto estava caindo e só havia três banheiros para 500 pessoas.
O Maurício começou a encher o saco: "Tem de mudar,
tem de mudar!" [procurado,
o ex-delegado-geral não quis
dar entrevista].
Eu dizia: "Não dá, o prédio
tá um lixo". Diziam para fazer
a reforma com verba de adesão. Fui ao Tribunal de Contas e o conselheiro Fulvio
Biazzi falou que não dá para
fazer reforma com verba de
adesão. Queriam que a gente
mudasse em um mês e uma
licitação demora oito meses,
no mínimo. O projeto inicial
ficava em R$ 2 milhões.
Numa reunião do conselho da Polícia Civil, falei que
não ia assinar nada se não
houvesse licitação. O Maurício bateu na mesa e gritou
"quem pode manda, quem
tem juízo obedece" e saiu da
sala. Falei que precisava de
licitação e ele disse depois:
"Você tem de mudar nem que
seja para barraca de campanha do Exército".
Aí apareceu a figura do
Wandir [Falsetti, empreiteiro
que fez a reforma]. Ele disse
que fazia obras para a Secretaria da Segurança e que daria um jeito. Não tem papel
formal nenhum sobre a reforma. Nada. Ele fez 15 banheiros, fez as divisórias, colocou o piso, o teto.
Para reformar você tem de
bater canequinha, pedir ajuda aos empresários que são
amigos. Para as viaturas, ou
você vai no desmanche ou
não tem carro. Não acho que
esse tipo de coisa estimule a
corrupção. Eu não tinha saída. O delegado-geral pôs a
faca no meu pescoço.
Mudar do jeito que mudamos é afronta. Não tinha dinheiro para contratar faxineira. Cada tira dava R$ 5, R$
10 para pagar faxineira. O
Denarc não tinha CNPJ com
aquele endereço para fazer
um contrato emergencial.
Eu não fiz nada de errado.
Tive de colocar dinheiro do
bolso para trabalhar. Não
criei ônus para o Estado.
Dei R$ 20 mil para o empreiteiro porque ele falou
que estava acostumado a receber. Depois ia me devolver.
Fiquei no prejuízo."
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