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Antropólogo defende no Rio tese de "globalização alimentar"
CRISTINA GRILLO
ENVIADA ESPECIAL A PETRÓPOLIS
Há uma grande "globalização
alimentar" em curso, na qual países supostamente menos poderosos também acham seu espaço.
Basta ver que, enquanto muito
se fala na invasão das redes de fast
food em países asiáticos, alterando seus hábitos alimentares, famílias asiáticas tomam o rumo oposto e invadem a Europa e a América com seus restaurantes -modificando, da mesma maneira, a
alimentação nesses países.
A tese da "globalização alimentar" foi apresentada ontem pelo
antropólogo Sidney Mintz, autor
de "Tasting Food, Tasting Freedom" e professor do Departamento de Antropologia da Johns
Hopkins University (Estados
Unidos), no 24º Encontro Anual
da Anpocs (Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisa em
Ciências Sociais).
De acordo com Mintz, no mundo de hoje as pessoas já não consomem o que produzem, fazendo
com que os elos entre produção e
consumo se rompam. Mas, na visão do antropólogo, é um erro
imaginar que a transição da auto-suficiência para a interdependência global aconteceu agora.
"A difusão por todo o mundo
de alimentos como cana de açúcar, batata, tomate, pimenta e
muitos outros não precisou de
cientistas, de McDonald's, ou de
engenharia genética. Ela começou
há 500 anos", disse.
A comida teve, então, um papel
vital na história do capitalismo e
ajudou a tornar o mundo global
muito antes do período em que
vivemos, afirma o antropólogo.
Mintz também discorreu sobre
as formas de percepção da "globalização alimentar". Na China,
disse o antropólogo citando um
estudo de James Watson, ir a um
McDonald's é um sinal de ascensão social -e também de amor
pelos filhos.
Seus frequentadores afirmam
admirar mais os letreiros coloridos, os banheiros limpos, a rapidez no atendimento do que a comida.
"O fato de que pessoas de sociedades descritas como conservadoras, principalmente do ponto
de vista alimentar, estejam prontas a experimentar comidas tão
radicalmente diferentes mostra
que os comportamentos relacionados com a alimentação podem
ser os mais flexíveis e ao mesmo
tempo os mais arraigados", disse.
Mintz apresentou dados que
exemplificam as mudanças nos
hábitos alimentares em tempos
de "globalização alimentar". Citando um estudo publicado em
1997 pelos pesquisadores D. O.
Mitchell, M. D. Ingco e R. C. Duncan ("The World Food Outlook",
Cambridge University Press),
mostrou que desde 1961 o consumo de arroz per capita no Japão
caiu de 107 kg para menos de 65
kg por ano. No mesmo período, o
consumo de carne per capita saltou de cerca de 5 kg/ano para perto de 40 kg/ano.
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