São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2000

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Antropólogo defende no Rio tese de "globalização alimentar"

CRISTINA GRILLO
ENVIADA ESPECIAL A PETRÓPOLIS

Há uma grande "globalização alimentar" em curso, na qual países supostamente menos poderosos também acham seu espaço.
Basta ver que, enquanto muito se fala na invasão das redes de fast food em países asiáticos, alterando seus hábitos alimentares, famílias asiáticas tomam o rumo oposto e invadem a Europa e a América com seus restaurantes -modificando, da mesma maneira, a alimentação nesses países.
A tese da "globalização alimentar" foi apresentada ontem pelo antropólogo Sidney Mintz, autor de "Tasting Food, Tasting Freedom" e professor do Departamento de Antropologia da Johns Hopkins University (Estados Unidos), no 24º Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).
De acordo com Mintz, no mundo de hoje as pessoas já não consomem o que produzem, fazendo com que os elos entre produção e consumo se rompam. Mas, na visão do antropólogo, é um erro imaginar que a transição da auto-suficiência para a interdependência global aconteceu agora.
"A difusão por todo o mundo de alimentos como cana de açúcar, batata, tomate, pimenta e muitos outros não precisou de cientistas, de McDonald's, ou de engenharia genética. Ela começou há 500 anos", disse.
A comida teve, então, um papel vital na história do capitalismo e ajudou a tornar o mundo global muito antes do período em que vivemos, afirma o antropólogo.
Mintz também discorreu sobre as formas de percepção da "globalização alimentar". Na China, disse o antropólogo citando um estudo de James Watson, ir a um McDonald's é um sinal de ascensão social -e também de amor pelos filhos.
Seus frequentadores afirmam admirar mais os letreiros coloridos, os banheiros limpos, a rapidez no atendimento do que a comida.
"O fato de que pessoas de sociedades descritas como conservadoras, principalmente do ponto de vista alimentar, estejam prontas a experimentar comidas tão radicalmente diferentes mostra que os comportamentos relacionados com a alimentação podem ser os mais flexíveis e ao mesmo tempo os mais arraigados", disse.
Mintz apresentou dados que exemplificam as mudanças nos hábitos alimentares em tempos de "globalização alimentar". Citando um estudo publicado em 1997 pelos pesquisadores D. O. Mitchell, M. D. Ingco e R. C. Duncan ("The World Food Outlook", Cambridge University Press), mostrou que desde 1961 o consumo de arroz per capita no Japão caiu de 107 kg para menos de 65 kg por ano. No mesmo período, o consumo de carne per capita saltou de cerca de 5 kg/ano para perto de 40 kg/ano.


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