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TORNEIRA SECA
Bônus por redução de consumo foi adotado para evitar racionamento; engenheiro prevê risco de colapso sem medida
Desconto em conta de água é suspenso em SP
Moacyr Lopes Júnior - 18.mar.2004/Folha Imagem
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Represa do sistema Cantareira, que chegou a ficar com menos de
2% de sua capacidade no final do ano passado |
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das medidas que evitaram
um racionamento de água severo
na Grande São Paulo neste ano será suspensa. Já foram enviadas as
últimas contas com desconto para quem reduziu o consumo. Sem
o bônus, sobe a chance de colapso
no abastecimento, diz o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto, que iniciou ontem mais dois
anos à frente da Fundação Agência da Bacia Hidrográfica do Alto
Tietê, órgão que articula a política
de uso de recursos hídricos na região metropolitana de São Paulo.
Segundo ele, o fornecimento
deve seguir crítico nos próximos
dois anos, e o sistema Alto Tietê,
até agora razoável, corre o risco de
atingir alto nível de degradação.
Primeiro a presidir a fundação,
criada no fim de 2002, César Neto
comanda a articulação das ações
com prefeituras, órgãos estaduais
e entidades civis. Reeleito, tem
mais dois anos para diminuir os
problemas hídricos da região -e
prevê um cenário complicado.
Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Quais foram as principais
ações da fundação nesses dois primeiros anos?
Júlio Cerqueira César Neto - Nossa estratégia foi fazer oficinas sobre os problemas dos recursos hídricos na região metropolitana de
São Paulo e levantar dados que
possam nortear nossas ações a
partir de 2005. Até o fim deste ano
teremos um quadro da situação
dos recursos hídricos na região.
Folha - Quais são os principais
problemas na bacia hoje?
César Neto - Abastecimento de
água e uso e ocupação do solo. Os
demais problemas, como as enchentes, são decorrentes desses.
Folha - No início deste ano, com o
risco de racionamento, o sr. disse
que o colapso no sistema de abastecimento era quase inevitável.
César Neto - O colapso teria
ocorrido se não fosse um imprevisto. A partir de março, começaria a estiagem, mas em abril e
maio choveu muito. Foi sorte.
Além disso, dentro dos estudos
feitos, ficou evidente a existência
de um volume morto de 200 milhões de m3. Com essa reserva, a
situação não ficou tão crítica. Um
terceiro fator foi o sistema de bônus que a Sabesp [empresa estadual] instituiu. Vamos sugerir à
Sabesp que não suspenda esse incentivo, pois a crise não passou. A
situação do [sistema] Cantareira
ainda não é nada confortável.
Folha - Como isso será resolvido?
César Neto - As perspectivas de
ampliação da oferta não são muito grandes. Só teremos mais água
em 2006, com duas obras quase
prontas: as barragens de Paraitinga e de Biritiba-Mirim, do [sistema] Alto Tietê. Mas elas não devem encher antes de 2006. Até lá,
não temos refresco para a região.
E o consumo crescerá porque a
população está aumentando.
Folha - E como o problema do uso
e da ocupação do solo nas áreas de
mananciais será enfrentado?
César Neto - É complexo. Precisamos ter a região metropolitana
de São Paulo criada legalmente.
Essa entidade integraria as ações
de todas as prefeituras da bacia,
pois elas são responsáveis pelo
uso e a ocupação do solo. O comitê não tem essa atribuição, mas,
como integramos todos esses prefeitos, tentamos por meio deles
implantar alguma orientação.
Folha - Que orientação?
César Neto - Um consenso é que
não dá para tirar essas pessoas
desses locais, quase 1,5 milhão. O
que se pode fazer são obras e serviços para que essas populações
não poluam demais o manancial e
impedir que a ocupação continue.
Folha - O sistema Alto Tietê vive
processo de degradação semelhante ao que o Guarapiranga sofreu há
20 anos. Qual a situação geral?
César Neto - A represa de Taiaçupeba [do Alto Tietê] está em nítido processo de ocupação e recebe muita poluição de agrotóxicos.
Ela ainda está longe da situação de
Guarapiranga, mas vai no mesmo
sentido. Guarapiranga já está extremamente impactada, nos limites do que é possível, e a Billings
também. Se não tomarmos providências, o Alto Tietê seguirá o
mesmo caminho. Já os córregos e
rios da região metropolitana são
quase esgotos a céu aberto.
Folha - Como a cobrança pelo uso
da água, defendida pela agência,
pode mudar essa situação?
César Neto - Essa lei está há quase dois anos para votação na Assembléia. A cobrança tem dois
componentes: a [captação da]
água pura -a Sabesp pagará R$
0,01 por m3 e na conta dos usuários isso será imperceptível- e a
cobrança da Sabesp do despejo de
esgoto nos rios. À medida que se
joga água suja, há taxas crescentes. Mas é um ônus da empresa
que lança o esgoto e não irá para o
usuário. A verba arrecadada iria
para projetos e o planejamento da
agência. Por enquanto, trabalhamos na base do entusiasmo.
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