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Para especialistas, imprensa errou no caso
DA REPORTAGEM LOCAL
Jornalistas e especialistas
em ética no jornalismo avaliam
que a imprensa errou na cobertura do caso Escola Base, mas
divergem se o episódio serviu
de aprendizado.
O jornalista Alex Ribeiro, autor do livro "Caso Escola Base:
os abusos da imprensa", afirma
que o episódio foi marcado por
vários erros de técnica jornalística, como a publicação de informações em "off" sem a checagem com outras fontes.
No caso da Folha, as denúncias envolvendo o caso Escola
Base sempre foram acompanhadas das versões dos diretores da instituição. Antes mesmo da conclusão do inquérito
policial que os inocentava, o
jornal entrevistou os envolvidos no caso e fez um balanço
das suas vidas após o episódio.
Em 8 de abril de 94, sete dias
após as primeiras reportagens
sobre o caso, o jornalista Luis
Nassif, em sua coluna na Folha, pôs em dúvida a primeira
versão dos fatos e criticou a
"cobertura jornalística burocrática que se vale exclusivamente da versão oficial".
No mesmo dia, o delegado foi
afastado do caso. "Comecei a
acompanhar as declarações do
delegado e não havia nenhum
elemento comprovatório",
lembra Nassif.
Para ele, o episódio foi fruto
de um "erro do modo de produção jornalístico". "Todos os veículos que cobriram o caso contavam com repórteres em começo de carreira, que não tinham reputação formada para
investir contra a maré. Se o repórter escreve o mesmo que os
outros jornais dão, não há cobrança em cima dele. Se ele estiver certo e der o contrário que
os outros deram, como a verdade leva um tempinho para aparecer, o repórter é muito questionado. Talvez por uma questão de auto-defesa, todo mundo
preferiu errar na companhia
dos outros", analisa.
Em editorial publicado em
julho de 1994, a Folha tratou
do arquivamento do inquérito,
do prejuízo à vida dos acusados
e da lição que o caso deu à mídia: de que os interesses de informar não devem se sobrepor
ao respeito aos seres humanos.
Em dezembro do mesmo ano, o
jornal realizou um seminário
para analisar a cobertura do caso na imprensa.
Na opinião de Mayra Rodrigues Gomes, professora de ética do departamento de jornalismo da ECA-USP (Escola de
Comunicação e Artes), os jornalistas, seguindo a "lógica do
furo", foram "incautos" no caso
da Escola Base.
Para Alberto Dines, editor do
"Observatório da Imprensa", a
imprensa não aprendeu com o
episódio. "Não é que a mídia
seja incorrigível. É porque, na
corrida, você acha que fulano é
uma grande autoridade. E aí
você embarca numa canoa errada. É inevitável [esse erro]
pelo volume de informação que
passa pelas mãos da imprensa."
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