São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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Para especialistas, imprensa errou no caso

DA REPORTAGEM LOCAL

Jornalistas e especialistas em ética no jornalismo avaliam que a imprensa errou na cobertura do caso Escola Base, mas divergem se o episódio serviu de aprendizado.
O jornalista Alex Ribeiro, autor do livro "Caso Escola Base: os abusos da imprensa", afirma que o episódio foi marcado por vários erros de técnica jornalística, como a publicação de informações em "off" sem a checagem com outras fontes.
No caso da Folha, as denúncias envolvendo o caso Escola Base sempre foram acompanhadas das versões dos diretores da instituição. Antes mesmo da conclusão do inquérito policial que os inocentava, o jornal entrevistou os envolvidos no caso e fez um balanço das suas vidas após o episódio.
Em 8 de abril de 94, sete dias após as primeiras reportagens sobre o caso, o jornalista Luis Nassif, em sua coluna na Folha, pôs em dúvida a primeira versão dos fatos e criticou a "cobertura jornalística burocrática que se vale exclusivamente da versão oficial".
No mesmo dia, o delegado foi afastado do caso. "Comecei a acompanhar as declarações do delegado e não havia nenhum elemento comprovatório", lembra Nassif.
Para ele, o episódio foi fruto de um "erro do modo de produção jornalístico". "Todos os veículos que cobriram o caso contavam com repórteres em começo de carreira, que não tinham reputação formada para investir contra a maré. Se o repórter escreve o mesmo que os outros jornais dão, não há cobrança em cima dele. Se ele estiver certo e der o contrário que os outros deram, como a verdade leva um tempinho para aparecer, o repórter é muito questionado. Talvez por uma questão de auto-defesa, todo mundo preferiu errar na companhia dos outros", analisa.
Em editorial publicado em julho de 1994, a Folha tratou do arquivamento do inquérito, do prejuízo à vida dos acusados e da lição que o caso deu à mídia: de que os interesses de informar não devem se sobrepor ao respeito aos seres humanos. Em dezembro do mesmo ano, o jornal realizou um seminário para analisar a cobertura do caso na imprensa.
Na opinião de Mayra Rodrigues Gomes, professora de ética do departamento de jornalismo da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes), os jornalistas, seguindo a "lógica do furo", foram "incautos" no caso da Escola Base.
Para Alberto Dines, editor do "Observatório da Imprensa", a imprensa não aprendeu com o episódio. "Não é que a mídia seja incorrigível. É porque, na corrida, você acha que fulano é uma grande autoridade. E aí você embarca numa canoa errada. É inevitável [esse erro] pelo volume de informação que passa pelas mãos da imprensa."


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