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Só 1/3 dos carros de São Paulo circula por dia
Engarrafamentos na cidade poderiam ser piores, pois só 1,5 milhão de veículos da frota vai para as ruas, diz estudo de engenheiro da CET
"A frota registrada no Detran não caberia nas ruas. Mas
há uma demanda reprimida. Sempre pode piorar", diz o consultor de tráfego
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em debates técnicos e em
conversas de botequim, muita
gente imagina que, de tão engarrafada, a capital paulista pode entrar em colapso daqui a alguns anos com a entrada de
tantos veículos novos em sua
frota -mil por dia, o suficiente
para lotar a avenida Paulista
em uma semana. Na prática,
talvez ela não suportasse nem
os que já existem. Bastava que
todos fossem para as ruas.
Um engenheiro da CET
(Companhia de Engenharia de
Tráfego) fez um estudo no qual
estima que a quantidade de
automóveis circulando por dia
no sistema viário da cidade de
São Paulo gira em torno de
1,5 milhão. Ou seja, isso equivale a apenas um terço do total registrado no Detran (Departamento Estadual de Trânsito de
São Paulo).
Os demais podem ser, por
exemplo, veículos de garagem
-como o do bancário Maurício
Chinaglia, 36, ou o da jornalista
Fernanda Silveira, 27.
"Meu carro fica a maior parte
do tempo parado, até porque
minha mulher não dirige. Só
uso para passear e para ir ao supermercado", relata Chinaglia.
O bancário afirma ganhar
meia hora em seu trajeto diário
da zona oeste ao centro de São
Paulo por ir de ônibus para o
trabalho -fora a economia
com combustível e com estacionamento.
"De carro é mais confortável.
Mas, pelo tempo parado no
trânsito, não dá", conta Fernanda, que tira seu automóvel
da garagem apenas aos finais de
semana.
Além disso, o contingente de
veículos registrados, mas que
não circulam diariamente, pode ser amplo.
Por exemplo, 15% da frota
tem mais de 25 anos -são carros antigos, muitos dos quais
podem estar quebrados. Sem
falar naqueles adquiridos apenas para escapar do rodízio
municipal -e que rodam uma
só vez por semana.
Bases da pesquisa
A estimativa feita por Carlos
Eduardo Paiva Cardoso, que
trabalha na CET e é mestre em
engenharia de transporte pela
USP e doutor em serviço social
pela PUC-SP, é baseada na interpretação de alguns dados coletados em pesquisas Origem/
Destino do metrô paulista, a última delas de 2007.
O estudo, ao ver indícios de
que apenas um terço da frota de
carros circula por dia, pode revelar um potencial imediato de
piora dos congestionamentos
-que também ajuda a explicar
um pouco a instabilidade do
trânsito de alguns momentos
para outros.
"A frota registrada no Detran
não caberia nas ruas nem a pau.
Mas há uma demanda reprimida. Sempre pode piorar. É por
isso que, em dia de greve no
transporte coletivo, os congestionamentos aumentam tanto", afirma Flaminio Fichmann, consultor de tráfego que
trabalhou na CET nos anos
1970 e 1980.
Ele concorda com a avaliação
de que a expansão do sistema
viário, como a ampliação em
andamento da marginal Tietê,
deve estimular os veículos pouco utilizados a saírem mais das
garagens.
"Mas não sou contra. Se fosse
assim, não adiantaria fazer
mais nada no trânsito, porque
tudo que for feito também pode
congestionar no futuro."
Particulares
A estimativa do engenheiro
da CET está concentrada nos
automóveis particulares e não
abrange, por exemplo, táxis,
motocicletas, veículos de empresas prestadoras de serviços
ou aqueles de fora da Grande
São Paulo.
Não é à toa que, oficialmente,
a companhia divulga um cálculo médio de 3,5 milhões de frota
circulante na capital paulista
-o número representa 53% do
total registrado no Detran.
Nesse caso, são considerados
todos os tipos de veículo (não
só carros, mas motos, caminhões, ônibus) e também os de
fora de São Paulo que estão
apenas de passagem -e que, na
avaliação do especialista Alexandre Zum Winkel, representam um impacto significativo
no trânsito.
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