São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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Só 1/3 dos carros de São Paulo circula por dia

Engarrafamentos na cidade poderiam ser piores, pois só 1,5 milhão de veículos da frota vai para as ruas, diz estudo de engenheiro da CET

"A frota registrada no Detran não caberia nas ruas. Mas há uma demanda reprimida. Sempre pode piorar", diz o consultor de tráfego

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em debates técnicos e em conversas de botequim, muita gente imagina que, de tão engarrafada, a capital paulista pode entrar em colapso daqui a alguns anos com a entrada de tantos veículos novos em sua frota -mil por dia, o suficiente para lotar a avenida Paulista em uma semana. Na prática, talvez ela não suportasse nem os que já existem. Bastava que todos fossem para as ruas.
Um engenheiro da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) fez um estudo no qual estima que a quantidade de automóveis circulando por dia no sistema viário da cidade de São Paulo gira em torno de 1,5 milhão. Ou seja, isso equivale a apenas um terço do total registrado no Detran (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo).
Os demais podem ser, por exemplo, veículos de garagem -como o do bancário Maurício Chinaglia, 36, ou o da jornalista Fernanda Silveira, 27.
"Meu carro fica a maior parte do tempo parado, até porque minha mulher não dirige. Só uso para passear e para ir ao supermercado", relata Chinaglia.
O bancário afirma ganhar meia hora em seu trajeto diário da zona oeste ao centro de São Paulo por ir de ônibus para o trabalho -fora a economia com combustível e com estacionamento.
"De carro é mais confortável. Mas, pelo tempo parado no trânsito, não dá", conta Fernanda, que tira seu automóvel da garagem apenas aos finais de semana.
Além disso, o contingente de veículos registrados, mas que não circulam diariamente, pode ser amplo.
Por exemplo, 15% da frota tem mais de 25 anos -são carros antigos, muitos dos quais podem estar quebrados. Sem falar naqueles adquiridos apenas para escapar do rodízio municipal -e que rodam uma só vez por semana.

Bases da pesquisa
A estimativa feita por Carlos Eduardo Paiva Cardoso, que trabalha na CET e é mestre em engenharia de transporte pela USP e doutor em serviço social pela PUC-SP, é baseada na interpretação de alguns dados coletados em pesquisas Origem/ Destino do metrô paulista, a última delas de 2007.
O estudo, ao ver indícios de que apenas um terço da frota de carros circula por dia, pode revelar um potencial imediato de piora dos congestionamentos -que também ajuda a explicar um pouco a instabilidade do trânsito de alguns momentos para outros.
"A frota registrada no Detran não caberia nas ruas nem a pau. Mas há uma demanda reprimida. Sempre pode piorar. É por isso que, em dia de greve no transporte coletivo, os congestionamentos aumentam tanto", afirma Flaminio Fichmann, consultor de tráfego que trabalhou na CET nos anos 1970 e 1980.
Ele concorda com a avaliação de que a expansão do sistema viário, como a ampliação em andamento da marginal Tietê, deve estimular os veículos pouco utilizados a saírem mais das garagens.
"Mas não sou contra. Se fosse assim, não adiantaria fazer mais nada no trânsito, porque tudo que for feito também pode congestionar no futuro."

Particulares
A estimativa do engenheiro da CET está concentrada nos automóveis particulares e não abrange, por exemplo, táxis, motocicletas, veículos de empresas prestadoras de serviços ou aqueles de fora da Grande São Paulo.
Não é à toa que, oficialmente, a companhia divulga um cálculo médio de 3,5 milhões de frota circulante na capital paulista -o número representa 53% do total registrado no Detran.
Nesse caso, são considerados todos os tipos de veículo (não só carros, mas motos, caminhões, ônibus) e também os de fora de São Paulo que estão apenas de passagem -e que, na avaliação do especialista Alexandre Zum Winkel, representam um impacto significativo no trânsito.


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