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Luciane, do 44 invadido, quer respeito; Isabel, do
44 pago, fim de ocupação
DA REPORTAGEM LOCAL
Luciane Palma, 36, saiu de
uma favela para invadir o "esqueleto" com as quatro filhas,
que têm entre 5 e 14 anos.
Quando entrou no prédio inacabado, havia só 11 famílias no
local (hoje, são mais de cem).
Ela mora num apartamento
improvisado numerado de 44.
Tem porta na entrada, mas
não faz questão de trancá-la.
"Confio em todos aqui."
Antes, vivia "num 3x4". "O
barraco era do tamanho da minha [atual] sala. Além disso, é
muito perigoso criar filho em
favela. Ninguém é confiável."
Para sobreviver, separa
plásticos em um ferro-velho.
Perdeu a mão direita num acidente com uma máquina injetora quando trabalhava numa
fábrica e passou por oito cirurgias para se recuperar. Destra,
aprendeu a escrever com a
mão esquerda.
Seu maior desejo é ser aceita
pela vizinhança, já que se sente discriminada.
A vendedora Isabel Neri dos
Santos, 62, também mora no
apartamento 44, num dos blocos concluídos do condomínio
Central Park Jabaquara. Assim como a vizinha Luciane,
também tem quatro filhos.
Trabalha bastante. Sai todos
os dias de casa para vender
produtos de marcas diversas
(Natura, Avon, DeMillus). "As
pessoas me perguntam o que é
que eu não tenho na maleta.
Mesmo na minha idade, não
dá para ficar parada", afirma.
Quando quer relaxar, costura, borda e pinta quadros, que
enfeitam seu apartamento.
Das janelas da sala e dos quartos, tem vista para os blocos
invadidos. "Ali é um depósito
de lixo, não posso abrir as janelas que a casa enche de moscas. Nesta semana, caiu uma
janela e fiquei com medo que
atingisse alguma criança."
Isabel foi atropelada neste
ano e precisou colocar sete pinos no pé. Mesmo assim, não
deixa de ir à igreja.
Se depender dela, nunca vai
conhecer a vizinha Luciane.
"O que eu mais quero é que
eles [invasores] saiam daqui."
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