São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Luciane, do 44 invadido, quer respeito; Isabel, do 44 pago, fim de ocupação

DA REPORTAGEM LOCAL

Luciane Palma, 36, saiu de uma favela para invadir o "esqueleto" com as quatro filhas, que têm entre 5 e 14 anos. Quando entrou no prédio inacabado, havia só 11 famílias no local (hoje, são mais de cem). Ela mora num apartamento improvisado numerado de 44. Tem porta na entrada, mas não faz questão de trancá-la. "Confio em todos aqui."
Antes, vivia "num 3x4". "O barraco era do tamanho da minha [atual] sala. Além disso, é muito perigoso criar filho em favela. Ninguém é confiável."
Para sobreviver, separa plásticos em um ferro-velho. Perdeu a mão direita num acidente com uma máquina injetora quando trabalhava numa fábrica e passou por oito cirurgias para se recuperar. Destra, aprendeu a escrever com a mão esquerda.
Seu maior desejo é ser aceita pela vizinhança, já que se sente discriminada.
A vendedora Isabel Neri dos Santos, 62, também mora no apartamento 44, num dos blocos concluídos do condomínio Central Park Jabaquara. Assim como a vizinha Luciane, também tem quatro filhos.
Trabalha bastante. Sai todos os dias de casa para vender produtos de marcas diversas (Natura, Avon, DeMillus). "As pessoas me perguntam o que é que eu não tenho na maleta. Mesmo na minha idade, não dá para ficar parada", afirma.
Quando quer relaxar, costura, borda e pinta quadros, que enfeitam seu apartamento. Das janelas da sala e dos quartos, tem vista para os blocos invadidos. "Ali é um depósito de lixo, não posso abrir as janelas que a casa enche de moscas. Nesta semana, caiu uma janela e fiquei com medo que atingisse alguma criança."
Isabel foi atropelada neste ano e precisou colocar sete pinos no pé. Mesmo assim, não deixa de ir à igreja.
Se depender dela, nunca vai conhecer a vizinha Luciane. "O que eu mais quero é que eles [invasores] saiam daqui."


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