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Em Blumenau, vias são liberadas por tanques do Exército
Na região central, lojas e shopping estão fechados; estádio de futebol recebe desabrigados trazidos por helicóptero
Viagem da reportagem ao "epicentro" da tragédia levou quase uma hora e meia em trajeto que normalmente toma 40 minutos de carro
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BLUMENAU
Tanques do Exército ocupam
ruas de Blumenau para ajudar
na desobstrução das vias. A cidade vive uma espécie de estado de sítio. Ao chegar ao município, a primeira imagem que se
vê e que dá dimensão da tragédia na região é o pouso de helicópteros trazendo desabrigados a um estádio de futebol no
centro esportivo do Sesi.
Em volta, separadas por um
alambrado, cerca de cem pessoas, desesperadas, gritam pedindo informações de familiares desaparecidos. Elas não podem atravessar o alambrado e
entrar no centro, onde desembarcam vítimas de uma região
conhecida como Morro do Baú.
Wilson Oliveira, 34, morador
da localidade, procura a mãe e
três filhos, desaparecidos desde
sábado. Ao cruzar o portão que
vetava acesso aos familiares, a
reportagem é alvo de pedidos
deles. Alguns, chorando, gritam
nomes de familiares e pedem
para checar se há informações.
Lá dentro, cerca de 50 vítimas que acabavam de desembarcar dos helicópteros da Polícia Militar e do Exército iam
em busca de transporte para
abrigos e hospitais. "Foi um dilúvio. Chuva e um mar de lama
desceram do morro", conta
João Gonçalo Bento, 48, com
algumas escoriações pelo corpo. Ele saiu de casa pouco antes
de uma encosta desabar.
Ao percorrer ruas de Blumenau, percebe-se que o cenário é
desolador. A sensação que se
tem é a de que os morros, em algumas partes, simplesmente
engoliram as ruas. Na região
central, lojas e o único shopping estão fechados. Restaurantes também não atendem.
Os carros que estão nas ruas,
necessariamente, estão envolvidos com a tragédia: ou são vitimas dela ou estão ajudando os
mais prejudicados.
O salão paroquial de uma
igreja se transformou em um
abrigo improvisado. Lá, o desembarque de comida, colchões, galões de água, roupa e
medicamentos não pára. Ainda
não falta comida nem água,
mas a chegada de vítimas é
constante. Nesse abrigo, há cerca de 150 pessoas atingidas em
Morro do Baú. Elas recebem
alimentação e têm acesso a medicamento e banho.
O relato de sobreviventes do
Morro do Baú dá a entender
que as piores informações ainda estão por chegar.
Juliano Schwamaech, 28,
morador de Ilhota, conta que
sua casa foi engolida pela terra
na noite de domingo. Ele tentou resgatar a mulher e a filha,
de 11 meses, mas não conseguiu. Estão desaparecidas. "Ela
[mulher] gritava pedindo que
eu a resgatasse, mas estava
"trancada" pela terra. Minha filha foi arrancada de meus braços pela força da água."
A moradora de Ilhota Adriana Day, 34, passou cerca de um
dia esperando pelo resgate de
helicóptero em uma área de
pasto. "Só quero encontrar minha irmã", disse.
Segundo sobreviventes da localidade, a explosão de um gasoduto no domingo piorou
muito a situação que já era crítica desde sábado, quando parte dos morros começou a descer. São unânimes também ao
dizer que ainda "há muita gente
debaixo da terra".
Na cidade vizinha de Gaspar,
o bairro de Belchior foi praticamente destruído. Casas foram
levadas por um "tsunami de
terra", dizem moradores de regiões próximas, após a explosão
do gasoduto.
Em Blumenau, membros de
um Jeep Clube ajudam no resgate e transporte de mantimentos, trafegando onde caminhões não conseguem. O grupo, formado por 30 voluntários, distribui alimentos onde o
acesso está difícil.
A viagem da reportagem ao
"epicentro" da tragédia começou às 10h48 de ontem, com a
notícia da liberação das rodovias que permitem o acesso de
Navegantes a Blumenau. A viagem, que normalmente levaria
40 minutos de carro, demorou
quase uma hora e meia.
Colaboraram SOFIA FERNANDES e
NANCY DUTRA
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