São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2008

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Em Blumenau, vias são liberadas por tanques do Exército

Na região central, lojas e shopping estão fechados; estádio de futebol recebe desabrigados trazidos por helicóptero

Viagem da reportagem ao "epicentro" da tragédia levou quase uma hora e meia em trajeto que normalmente toma 40 minutos de carro

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BLUMENAU

Tanques do Exército ocupam ruas de Blumenau para ajudar na desobstrução das vias. A cidade vive uma espécie de estado de sítio. Ao chegar ao município, a primeira imagem que se vê e que dá dimensão da tragédia na região é o pouso de helicópteros trazendo desabrigados a um estádio de futebol no centro esportivo do Sesi.
Em volta, separadas por um alambrado, cerca de cem pessoas, desesperadas, gritam pedindo informações de familiares desaparecidos. Elas não podem atravessar o alambrado e entrar no centro, onde desembarcam vítimas de uma região conhecida como Morro do Baú.
Wilson Oliveira, 34, morador da localidade, procura a mãe e três filhos, desaparecidos desde sábado. Ao cruzar o portão que vetava acesso aos familiares, a reportagem é alvo de pedidos deles. Alguns, chorando, gritam nomes de familiares e pedem para checar se há informações.
Lá dentro, cerca de 50 vítimas que acabavam de desembarcar dos helicópteros da Polícia Militar e do Exército iam em busca de transporte para abrigos e hospitais. "Foi um dilúvio. Chuva e um mar de lama desceram do morro", conta João Gonçalo Bento, 48, com algumas escoriações pelo corpo. Ele saiu de casa pouco antes de uma encosta desabar.
Ao percorrer ruas de Blumenau, percebe-se que o cenário é desolador. A sensação que se tem é a de que os morros, em algumas partes, simplesmente engoliram as ruas. Na região central, lojas e o único shopping estão fechados. Restaurantes também não atendem.
Os carros que estão nas ruas, necessariamente, estão envolvidos com a tragédia: ou são vitimas dela ou estão ajudando os mais prejudicados.
O salão paroquial de uma igreja se transformou em um abrigo improvisado. Lá, o desembarque de comida, colchões, galões de água, roupa e medicamentos não pára. Ainda não falta comida nem água, mas a chegada de vítimas é constante. Nesse abrigo, há cerca de 150 pessoas atingidas em Morro do Baú. Elas recebem alimentação e têm acesso a medicamento e banho.
O relato de sobreviventes do Morro do Baú dá a entender que as piores informações ainda estão por chegar.
Juliano Schwamaech, 28, morador de Ilhota, conta que sua casa foi engolida pela terra na noite de domingo. Ele tentou resgatar a mulher e a filha, de 11 meses, mas não conseguiu. Estão desaparecidas. "Ela [mulher] gritava pedindo que eu a resgatasse, mas estava "trancada" pela terra. Minha filha foi arrancada de meus braços pela força da água."
A moradora de Ilhota Adriana Day, 34, passou cerca de um dia esperando pelo resgate de helicóptero em uma área de pasto. "Só quero encontrar minha irmã", disse.
Segundo sobreviventes da localidade, a explosão de um gasoduto no domingo piorou muito a situação que já era crítica desde sábado, quando parte dos morros começou a descer. São unânimes também ao dizer que ainda "há muita gente debaixo da terra".
Na cidade vizinha de Gaspar, o bairro de Belchior foi praticamente destruído. Casas foram levadas por um "tsunami de terra", dizem moradores de regiões próximas, após a explosão do gasoduto.
Em Blumenau, membros de um Jeep Clube ajudam no resgate e transporte de mantimentos, trafegando onde caminhões não conseguem. O grupo, formado por 30 voluntários, distribui alimentos onde o acesso está difícil.
A viagem da reportagem ao "epicentro" da tragédia começou às 10h48 de ontem, com a notícia da liberação das rodovias que permitem o acesso de Navegantes a Blumenau. A viagem, que normalmente levaria 40 minutos de carro, demorou quase uma hora e meia.


Colaboraram SOFIA FERNANDES e NANCY DUTRA


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