UOL


São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RELIGIÃO

Souza Neto, que serviu na paróquia de Santa Luzia (MG), tem passagens pela polícia e já foi condenado por estelionato

Padre acusa padre de furtar obras sacras

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O padre Leutemberg Souza Neto, 50, é acusado pela paróquia do Santuário de Santa Luzia, em Santa Luzia (região metropolitana de Belo Horizonte), de envolvimento no furto de peças sacras e objetos litúrgicos de igrejas da região. O padre, dono de extensa ficha criminal, foi hóspede e vigário da paróquia entre dezembro de 2002 e junho deste ano.
As acusações são do padre André Luiz Drumond, 39, responsável pela paróquia -a mais tradicional da cidade- há dois anos.
Ele implica o colega no desaparecimento de quatro peças em sua igreja, além de furtos em pelo menos outras três comunidades vizinhas. Souza Neto, por sua vez, nega as acusações.
Segundo Drumond, as suspeitas começaram em maio, após o sumiço de um cordão de ouro que adornava uma imagem de Santa Luzia do século 18, de origem portuguesa. Dois dias depois do roubo, Souza Neto apareceu com a peça, dizendo que havia recebido um telefonema sobre sua localização. Em depoimento à polícia, o padre alegou segredo de confissão e se recusou a fornecer até mesmo o nome do denunciante.
No mesmo dia do aparecimento da jóia, Drumond foi visitado por um morador da cidade, que assumiu o furto. Dias depois, esse morador disse ter confessado o crime a pedido de "uma pessoa importante da igreja".
Outras ocorrências de furtos surgiram na região, em comunidades onde Souza Neto auxiliava ou celebrava sacramentos. Em Crucilândia, sumiram anéis sacerdotais; em Santa Efigênia e São Judas Tadeu, um cálice e uma estola, respectivamente.
Por meio de moradores, Drumond soube também que seu subordinado arrecadava, em velórios na cidade, fundos para a restauração de uma imagem de são João, supostamente do século 18.
A imagem, de procedência desconhecida, foi apreendida e está em poder do Iepha (órgão estadual de patrimônio).
Ordenado em 2000 pela diocese de Ituiutaba (MG), Souza Neto já havia sido preso em abril de 1980, sob a acusação de furto de peças sacras da igreja de São Francisco, em Minas Novas, onde era seminarista. Após responder a inquérito, foi condenado, em outubro de 1983, a dois anos e três meses de prisão em regime aberto.
De seu prontuário constam também duas passagens, em 1987 e 1991, pela Delegacia de Furtos e Roubos de Belo Horizonte, ambas por suspeita de furto.
Em 1996, foi autuado em flagrante por falsidade ideológica e falsa identidade, depois que a polícia localizou cerca de 300 objetos litúrgicos, como imagens, cálices, castiçais e crucifixos, nos fundos de sua casa, em Betim (MG).
Na ocasião, foram encontradas cartas assinadas por ele como padre -título que não dispunha na época- e enviadas a religiosos europeus, em que pedia a doação de peças sacras. O caso foi noticiado pela imprensa local.
Por conta disso, foi processado e condenado, em abril de 2001, a dois anos de prisão em regime aberto por estelionato. Como a pena prescreveu antes que o processo transitasse em julgado (quando não cabem mais recursos), acabou sendo absolvido, em setembro de 2002, pela 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Alçada de Minas Gerais.
Para Drumond, que só soube da vida pregressa do colega no final de novembro, ou seja, quando Souza Neto já havia deixado a paróquia, o religioso também é responsável pelo furto de três peças de prata de sua igreja. "[Além] dos três anos de padre, ele tem mais de 20 anos de roubos documentados", disse. Os furtos estão sendo investigados pela Polícia Civil de Santa Luzia.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Outro lado: Souza Neto nega ter ligação com sumiço de peças
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.