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RELIGIÃO
Souza Neto, que serviu na paróquia de Santa Luzia (MG), tem passagens pela polícia e já foi condenado por estelionato
Padre acusa padre de furtar obras sacras
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O padre Leutemberg Souza Neto, 50, é acusado pela paróquia do
Santuário de Santa Luzia, em Santa Luzia (região metropolitana de
Belo Horizonte), de envolvimento
no furto de peças sacras e objetos
litúrgicos de igrejas da região. O
padre, dono de extensa ficha criminal, foi hóspede e vigário da paróquia entre dezembro de 2002 e
junho deste ano.
As acusações são do padre André Luiz Drumond, 39, responsável pela paróquia -a mais tradicional da cidade- há dois anos.
Ele implica o colega no desaparecimento de quatro peças em sua
igreja, além de furtos em pelo menos outras três comunidades vizinhas. Souza Neto, por sua vez, nega as acusações.
Segundo Drumond, as suspeitas começaram em maio, após o
sumiço de um cordão de ouro que
adornava uma imagem de Santa
Luzia do século 18, de origem portuguesa. Dois dias depois do roubo, Souza Neto apareceu com a
peça, dizendo que havia recebido
um telefonema sobre sua localização. Em depoimento à polícia, o
padre alegou segredo de confissão
e se recusou a fornecer até mesmo
o nome do denunciante.
No mesmo dia do aparecimento
da jóia, Drumond foi visitado por
um morador da cidade, que assumiu o furto. Dias depois, esse morador disse ter confessado o crime
a pedido de "uma pessoa importante da igreja".
Outras ocorrências de furtos
surgiram na região, em comunidades onde Souza Neto auxiliava
ou celebrava sacramentos. Em
Crucilândia, sumiram anéis sacerdotais; em Santa Efigênia e São
Judas Tadeu, um cálice e uma estola, respectivamente.
Por meio de moradores, Drumond soube também que seu subordinado arrecadava, em velórios na cidade, fundos para a restauração de uma imagem de são
João, supostamente do século 18.
A imagem, de procedência desconhecida, foi apreendida e está
em poder do Iepha (órgão estadual de patrimônio).
Ordenado em 2000 pela diocese
de Ituiutaba (MG), Souza Neto já
havia sido preso em abril de 1980,
sob a acusação de furto de peças
sacras da igreja de São Francisco,
em Minas Novas, onde era seminarista. Após responder a inquérito, foi condenado, em outubro
de 1983, a dois anos e três meses
de prisão em regime aberto.
De seu prontuário constam
também duas passagens, em 1987
e 1991, pela Delegacia de Furtos e
Roubos de Belo Horizonte, ambas
por suspeita de furto.
Em 1996, foi autuado em flagrante por falsidade ideológica e
falsa identidade, depois que a polícia localizou cerca de 300 objetos
litúrgicos, como imagens, cálices,
castiçais e crucifixos, nos fundos
de sua casa, em Betim (MG).
Na ocasião, foram encontradas
cartas assinadas por ele como padre -título que não dispunha na
época- e enviadas a religiosos
europeus, em que pedia a doação
de peças sacras. O caso foi noticiado pela imprensa local.
Por conta disso, foi processado
e condenado, em abril de 2001, a
dois anos de prisão em regime
aberto por estelionato. Como a
pena prescreveu antes que o processo transitasse em julgado
(quando não cabem mais recursos), acabou sendo absolvido, em
setembro de 2002, pela 2ª Câmara
Criminal do Tribunal de Alçada
de Minas Gerais.
Para Drumond, que só soube da
vida pregressa do colega no final
de novembro, ou seja, quando
Souza Neto já havia deixado a paróquia, o religioso também é responsável pelo furto de três peças
de prata de sua igreja. "[Além]
dos três anos de padre, ele tem
mais de 20 anos de roubos documentados", disse. Os furtos estão
sendo investigados pela Polícia
Civil de Santa Luzia.
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