São Paulo, quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

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ANÁLISE

Índices são atípicos, mas não catastróficos

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Não há dúvida de que está chovendo à beça em São Paulo. Mas estamos ou não, como querem nossos governantes, diante de um volume tão atípico de precipitação que nenhuma cidade do mundo estaria preparada para enfrentar?
A resposta é um caso clássico de copo meio cheio e meio vazio. Até a manhã de ontem, a estação do mirante de Santana já registrara, para janeiro, um total de 380 mm. O normal para o primeiro mês do ano é 240 mm.
E chove acima do habitual desde o inverno, o que deixou o solo saturado. O ano de 2009 fechou com 1.885 mm, contra um normal de 1.370 mm. São índices atípicos, mas não cataclísmicos. O mirante já viu seus pluviômetros superarem a marca dos 400 mm em janeiro em pelo menos três ocasiões.
A verdade é que as últimas décadas vividas à sombra da civilização tecnológica com seus diques, piscinões e outras obras nos deixaram mal acostumados. Já quase não nos lembramos do pavor ancestral de morrer em consequência da cheia, de longe a mais frequente das calamidades naturais. Não é coincidência que o desastre fundador descrito na Bíblia seja um dilúvio e não um terremoto.
Nossa percepção de risco ficou deturpada e não hesitamos em nos fixar perto de rios.
De tempos em tempos, porém, ocorrem catástrofes como a do rio Amarelo, em 1931, na China, que matou entre 3,7 milhões e 4 milhões de pessoas.
Desastres acontecem. Só que nós não estamos na China de 31, e o Tietê não é o rio Amarelo. Mesmo que seja uma injustiça cósmica, é o eleitor mal acostumado quem decidirá se os presentes volumes de água escusam ou não os administradores pelo caos vivido na cidade.


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