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ANÁLISE
Índices são atípicos, mas não catastróficos
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Não há dúvida de que está
chovendo à beça em São Paulo.
Mas estamos ou não, como
querem nossos governantes,
diante de um volume tão atípico de precipitação que nenhuma cidade do mundo estaria
preparada para enfrentar?
A resposta é um caso clássico
de copo meio cheio e meio vazio. Até a manhã de ontem, a estação do mirante de Santana já
registrara, para janeiro, um total de 380 mm. O normal para o
primeiro mês do ano é 240 mm.
E chove acima do habitual
desde o inverno, o que deixou o
solo saturado. O ano de 2009
fechou com 1.885 mm, contra
um normal de 1.370 mm. São
índices atípicos, mas não cataclísmicos. O mirante já viu seus
pluviômetros superarem a
marca dos 400 mm em janeiro
em pelo menos três ocasiões.
A verdade é que as últimas
décadas vividas à sombra da civilização tecnológica com seus
diques, piscinões e outras obras
nos deixaram mal acostumados. Já quase não nos lembramos do pavor ancestral de morrer em consequência da cheia,
de longe a mais frequente das
calamidades naturais. Não é
coincidência que o desastre
fundador descrito na Bíblia seja
um dilúvio e não um terremoto.
Nossa percepção de risco ficou deturpada e não hesitamos
em nos fixar perto de rios.
De tempos em tempos, porém, ocorrem catástrofes como
a do rio Amarelo, em 1931, na
China, que matou entre 3,7 milhões e 4 milhões de pessoas.
Desastres acontecem. Só que
nós não estamos na China de
31, e o Tietê não é o rio Amarelo. Mesmo que seja uma injustiça cósmica, é o eleitor mal acostumado quem decidirá se os
presentes volumes de água escusam ou não os administradores pelo caos vivido na cidade.
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