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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

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CAOS NO RIO

Saída de Bangu 1 ocorreu após reunião entre governadora e ministros da Justiça e da Casa Civil

Beira-Mar é transferido para SP

SABRINA PETRY
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi transferido nesta madrugada do Rio. O avião decolou por volta da 0h30, mas o destino não foi confirmado. A opção mais provável era o presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes (589 km a oeste de SP).
O aeroporto de Presidente Prudente (565 km a oeste de São Paulo), próximo a Presidente Bernardes, informou que estava programada a chegada de um vôo da FAB durante a madrugada.
Segundo a assessoria da governadora Rosinha Matheus, Beira-Mar foi retirado do presídio de segurança máxima Bangu 1 por volta das 23h e levado para a base aérea de Santa Cruz, que também fica na zona oeste.
"Ele [Beira-Mar] era um problema, e resolvemos esse problema", disse Rosinha em entrevista à Globonews, por volta de 1h15 de hoje. Mesmo após a saída do traficante do Rio, a governadora não quis confirmar seu destino final. "Isso é responsabilidade do governo federal."
A transferência foi definida na reunião realizada ontem à noite entre Rosinha e os ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e da Casa Civil, José Dirceu, depois de três dias de ações violentas de narcotraficantes no Rio e em seis cidades da região.
O ministro da Justiça já tinha se declarado simpático à transferência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha pedido a Thomaz Bastos, advogado criminalista, que encontrasse a fórmula jurídica para a transferência, uma vez que a detenção de Beira-Mar no Rio foi determinada pela Justiça.
Na reunião também foi formalizado o pedido de envio de tropas para o Estado. O governo Lula deve anunciar hoje a participação de 3.000 homens das Forças Armadas no patrulhamento do Rio, durante o Carnaval.
Apesar de o governo Lula já ter se declarado contrário a que os militares assumam tarefas policiais, o fato de o pedido de ajuda se restringir ao período do Carnaval pode contribuir para superar essa resistência.
Na campanha presidencial de 2002, depois de ações semelhantes do narcotráfico, o governo de Fernando Henrique Cardoso também liberou 3.000 soldados para reforçar a segurança do Rio. Na ocasião, não houve confrontos entre militares e criminosos.
Nem os ministros nem a governadora deram entrevistas depois do encontro, no Palácio Guanabara, sede do governo estadual. Rosinha entregou a José Dirceu um ofício formalizando o pedido de ajuda das Forças Armadas.
Também participaram da reunião o superintendente da Polícia Federal no Rio, Marcelo Itagiba, o chefe do Comando Militar do Leste, general Luiz Seldom da Silva Muniz, o secretário de Segurança do Rio, Josias Quintal, e o chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins. Na saída do Palácio Guanabara, o carro dos ministros Thomaz Bastos e José Dirceu foi escoltado por oito carros da PF, com policiais armados.

Sem ingerência
Segundo a Folha apurou, o governo federal decidiu atender às reivindicações de Rosinha depois de Lula ter determinado que deveria ficar claro que a própria governadora pedira o socorro.
O presidente teve essa preocupação a fim de evitar a interpretação de que haveria intervenção ou intromissão federal num assunto estadual. Rosinha tem feita críticas ao governo Lula pela dificuldade de receber socorro financeiro ao Estado.
O ministro da Justiça acredita que é preciso promover um reforço das polícias Civil, Militar e Federal para combater a crise de segurança pública do Rio.
Uma atuação específica da Polícia Federal, especialmente no que se refere ao combate ao contrabando de armas, também pode ser anunciada hoje.
Ontem de manhã, Rosinha telefonou diversas vezes para Thomaz Bastos, solicitando uma decisão sobre o destino de Beira-Mar e a ação do Exército. Ele, então, consultou Lula e os ministros Dirceu e José Viegas Filho (Defesa).
Até terça-feira, Viegas Filho resistia à idéia da utilização das Forças Armadas na segurança do Rio. "Se há carência de efetivo de policiais, a resposta é para reforçar o efetivo. E não para substituir com efetivos militares, que não são destinados à função policial", dissera ele.


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