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TRANSPORTE
Recursos foram injetados, desde setembro de 2002, em cinco empresas que estão sob controle da prefeitura
Socorro a viações atinge R$ 46,2 milhões
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um relatório do sindicato das
empresas de ônibus de São Paulo
entregue ao Ministério Público
diz que a SPTrans, órgão da prefeitura que cuida do setor, injetou
R$ 46,2 milhões para socorrer cinco viações desde setembro de
2002.
A verba representa mais de 40%
do total que Marta Suplicy (PT)
planeja gastar nos próximos 24
meses para construir 26 terminais
de ônibus na capital paulista.
Os recursos injetados nas viações não são de verba orçamentária, mas da "conta do sistema" de
transporte coletivo, que agrega as
receitas arrecadadas pela SPTrans
e pelas próprias empresas com os
vales-transporte e passes.
A prefeitura, porém, pode arcar
com esse prejuízo se não conseguir recuperar a verba injetada
(por meio de ações judiciais ou retenções futuras), já que ela é obrigada a prestar contas, no final dos
contratos, às demais operadoras,
que são remuneradas pela verba
da "conta do sistema".
As cinco viações que receberam
os R$ 46,2 milhões representam
em torno de 15% da frota de 10
mil ônibus de São Paulo e passaram ao controle da SPTrans em
razão de rescisões contratuais ou
de intervenções temporárias.
As empresas Parelheiros, São
Judas e a Santa Bárbara -esta
com duas unidades- pertenciam ao empresário Romero Niquini, que teve seus contratos rescindidos sob a acusação de irregularidade na prestação de contas
da arrecadação. Juntas, receberam R$ 27,87 milhões desde 6 de
setembro. As viações América do
Sul e Cidade Tiradentes estiveram
sob intervenção por causa da interrupção dos serviços e receberam, desde 22 de outubro, R$
18,33 milhões. No fim de janeiro,
o dono da América do Sul, Wagner de Almeida Vieira, decidiu
devolver as linhas à prefeitura,
que passou a controlá-la.
O dono da Cidade Tiradentes,
Samy Gelman Jaroviski, está preso sob a acusação de estelionato e
de integrar uma quadrilha especializada em desviar dinheiro de
empréstimos públicos e privados.
No relatório entregue ao Ministério Público, as empresas de ônibus, representadas pelo Transurb
(sindicato das viações paulistanas), apresentam os valores de injeção de recursos para justificar a
situação deficitária do sistema de
transporte. O texto ressalta que
"as demais empresas operadoras
não possuem esse tipo de socorro
financeiro por parte da SPTrans".
Ele também ressalva que os R$
46,2 milhões ainda não foram
corrigidos pela aplicação de índices de correção utilizados em contratos de prestação de serviços.
A Folha apurou que há empresários que vêem com desconfiança os gastos informados pela SPTrans nas viações que estão sob
seu controle. Eles avaliam que os
recursos injetados superam as
projeções de déficit das empresas.
O relatório do Transurb informa, por exemplo, que a viação Parelheiros arrecadou R$ 6,8 milhões e teve despesas de R$ 15 milhões (120% superiores à receita)
entre 6 de setembro de 2002 e 12
de fevereiro de 2003. Na América
do Sul, uma receita de R$ 4,5 milhões, contra R$ 13,9 milhões de
despesas (208% superiores). Na
Cidade Tiradentes, R$ 5,3 milhões
arrecadados, contra R$ 19,8 milhões gastos (274% superiores).
A tarifa reivindicada pelas viações no final de 2002 para cobrir
os gastos dos ônibus em São Paulo era de R$ 1,91 -36% maior que
a antiga passagem, de R$ 1,40, e
12% superior à atual, de R$ 1,70.
Investigação
A SPTrans (São Paulo Transporte) informou ontem, por meio
de sua assessoria, que não iria se
manifestar sobre a injeção de recursos nas cinco viações. Ela alega
que esse tema já está sob investigação do Ministério Público e que
irá prestar todos os esclarecimentos solicitados pelos promotores.
O promotor Sérgio Turra Sobrane começou a investigar primeiramente os repasses à viação Cidade Tiradentes, divulgados
após a prisão de Jaroviski. Nesta
semana, pediu esclarecimentos à
SPTrans sobre todos os recursos
injetados nos últimos meses. Ele
disse que não pode ainda avaliar
se as operações foram regulares.
A Folha apurou que as despesas
da SPTrans nas quatro garagens
de Niquini deverão subir ainda
mais, já que ela não vem pagando
ao empresário nenhuma indenização pela utilização da frota.
O Transurb não se manifestou
ontem sobre os dados entregues à
Promotoria. A entidade disse anteontem que irá à Justiça contra a
licitação dos transportes. A entrega dos envelopes está marcada
para amanhã. A Secretaria dos
Transportes informou que a entrega das propostas da licitação
dos perueiros será no dia 6. As liminares que a impediam caíram.
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