São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Onde os fracos têm vez Em meio à sujeira do rio Tietê, o documentarista Evaldo Mocarzel testemunhou cenas de beleza natural
A CONVIVÊNCIA ÍNTIMA COM OS ODORES, a sujeira e a poluição do rio Tietê ensinou o
documentarista Evaldo Mocarzel a descobrir, ao mesmo tempo, um novo olhar sobre a arte e
uma nova maneira de ver a cidade.
A descoberta levou-o a percorrer,
na noite de segunda-feira, a praça
Roosevelt, até pouco tempo atrás
só ocupada por mendigos, traficantes, viciados e travestis -uma paisagem tão deteriorada como a do
rio que corta São Paulo, mas agora
rodeada de atores e de toda uma
tribo que aprecia o teatro
alternativo. Imagens urbanas desoladas já não surpreendem Mocarzel há muito tempo -aliás, essa é a matéria-prima de seus documentários, nos quais aparecem moradores de rua, catadores de papel e integrantes do movimento dos sem-teto. "A diferença é que, ali no Tietê, aprendi como a arte dá novo significado aos espaços de uma cidade. É como se se transformassem exatamente num palco." Justamente por isso ele estava, na noite de segunda-feira, iniciando as filmagens sobre o grupo Os Satyros, cujo teatro foi decisivo para mudar a paisagem da praça Roosevelt e criar um pólo de arte alternativa. Está previsto para este semestre o anúncio da empresa vencedora de licitação pública para a reforma da praça, cuja vocação é claramente teatral. "Quero mostrar toda essa transformação, na qual a arte remodela a cidade." Foi esse mesmo olhar que Mocarzel projetou no Jardim Ângela, região conhecida, até pouco tempo atrás, como a mais violenta do mundo e cujo cemitério mais próximo, no Jardim São Luiz, era apontado como o local em que havia mais jovens enterrados por metro quadrado. Ele registrou as imagens de jovens -desses que poderiam estar debaixo da terra, vítimas de um tiro-produzindo vídeos. As imagens degradadas paulistanas, mescladas com a redenção da arte, estão levando o documentarista à cidade em que foi criado. Vai documentar o projeto de dança da coreógrafa Lia Rodrigues na favela da Maré. "É incrível o poder luminoso da arte nessa áreas sombrias." gdimen@uol.com.br Texto Anterior: Conservação de corpos intriga especialistas Próximo Texto: A cidade é sua: Falta lâmpada em rua da zona norte de SP, reclama leitor Índice |
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