São Paulo, sábado, 27 de fevereiro de 2010

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ANÁLISE

Mudou a realidade ou a interpretação?

OCIMAR MUNHOZ ALAVARSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Temos observado no Brasil profundas limitações na forma como os dirigentes de redes públicas divulgam os resultados das avaliações externas, o que pode pôr em risco a própria credibilidade delas. No caso do Saresp 2009 podemos estar diante de tal situação.
Em 2008, a Secretaria de Educação adotou uma divisão de escala em quatro níveis -abaixo do básico, básico, adequado e avançado. Considerava que o desejável era que todos os alunos estivessem em "adequado" e "avançado". Como a maioria dos alunos teve desempenho inferior a este patamar, severas críticas surgiram em relação à política educacional.
Agora, constatamos que os antigos níveis básico e adequado foram agrupados no atual suficiente, o que produz uma alteração profunda na interpretação do desempenho dos estudantes paulistas. A maioria que estava abaixo do desejado tornou-se uma maioria com aproveitamento suficiente, que somado ao desempenho avançado, faz do ensino fundamental paulista um processo no qual a imensa maioria tenha bom desempenho.
Poder-se-ia discutir os critérios para fixação dos níveis e mesmo a possibilidade de alteração dos mesmos de um ano para o outro. Mas não parece adequado ou suficiente fazê-lo de modo que a mudança feita mostra uma alteração tão profunda da interpretação da realidade das escolas estaduais. Ainda mais quando, recentemente, tivemos acesso aos dados das escolas municipais de São Paulo (que são muito semelhantes às estaduais), mediante os resultados da Prova São Paulo, que adota a mesma escala do Saresp, e cuja avaliação foi sensivelmente diferente, pois os critérios adotados indicavam a maioria dos alunos em uma situação insatisfatória.
Para os que julgam que as avaliações externas possam contribuir com a melhoria do processo pedagógico em cada sala de aula, esse tratamento dos resultados levanta obstáculos. Só nos resta removê-los para fazer da avaliação um procedimento a favor dos professores.


OCIMAR MUNHOZ ALAVARSE é professor da Faculdade de Educação da USP


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