São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2001

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Economistas negam relação direta

DA EQUIPE DE TRAINEES

A ênfase atual dada à teoria do capital humano não é compartilhada por todos os pesquisadores. Para uma parcela dos economistas que estudam a desigualdade de renda, as relações entre desenvolvimento econômico e educação não são tão diretas, nem pode esta sozinha pode promover mudanças radicais para diminuir a desigualdade.
Segundo Carlos Medeiros, professor da UFRJ, a desigualdade no Brasil tem causas mais complexas, que não podem ser reduzidas a um fator. "(Utilizar o argumento da educação) é muito conveniente para os governos conservadores, porque eles preservam suas políticas econômicas das críticas que enfatizam a concentração de renda", afirma.
De acordo com o economista Paul Singer, da FEA-USP, não adianta apenas fornecer educação e não gerar empregos com o crescimento da economia.
Ele diz que há muitas pessoas que não têm trabalho apesar da alta escolaridade que possuem. Por isso, um aumento no nível de educação apenas deslocaria o problema do desemprego e da má distribuição de renda para uma população mais educada.
Na Argentina, segundo Medeiros, a tese de que a educação garante emprego e renda para as pessoas foi colocada em xeque.
Desde o início do século, esse vizinho brasileiro tem trabalhado para melhorar o nível educacional, o que resultou em uma alta taxa de alfabetização (96,7%). Por outro lado, afirma o professor, isso não se traduziu em empregos. O desemprego atinge 14,7% dos argentinos.
Segundo o professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), para diminuir as desigualdades, deve-se aliar um sistema de ensino gratuito a uma desconcentração de renda. "Não adianta só dar o peixe ao pobre ou ensiná-lo a pescar. É preciso dar o barco."
Os economistas que combatem a tese de que a educação resolve o problema da desigualdade afirmam que o ensino deve ser visto de uma forma mais abrangente.
"A educação é um bem em si e não pode ser justificado pelo ponto de vista econômico", afirma Medeiros. (CM e DV)


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