São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2001 |
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Maria enfrenta a metrópole feita para quem sabe ler
ANA GABRIELA ROIFFE
Na turma de 35 alunos, Maria é a única que precisa fazer exercícios separadamente para aprender a desenhar as letras. Os outros já tiveram algum contato com a escola e possuem noções básicas de leitura. Maria diz que pode ir a qualquer lugar da cidade. "Sempre tive que depender dos outros, mas eu ando São Paulo toda. Eu só me embanano para andar de trem, porque eles não anunciam os nomes." Só que nem sequer reconhece os números dos ônibus. Decorou apenas o formato das letras de três itinerários. Quando vai procurar trabalho novo, precisa estar acompanhada para andar nas ruas. "A gente fica assim, meio alienada", diz. Além disso, faz compras sempre no mesmo supermercado porque conhece um funcionário que informa o preço dos produtos e evita que ela seja enganada. Na banca de jornal, Maria olha as fotografias, mas tem vontade de ler as revistas de novela "para saber o que vai acontecer e também a história das artistas". Ela diz estar acostumada com as situações do dia-a-dia, mas admite que se sentiu "arrasada" quando não conseguiu emprego por não poder anotar um recado ou assinar o nome para receber tíquetes e cesta básica. Um "ponto forte" dos analfabetos é a matemática intuitiva. Maria mal sabe dar um telefonema, mas não erra trocos ou pagamentos. "Quando usamos objetos concretos, eles percebem que já sabiam muita coisa", diz a coordenadora Eliana. Pouco a pouco os alunos criam projeções de inclusão no mundo letrado. Maria sonha ser enfermeira voluntária e sente os primeiros resultados das aulas. "A gente tem mais liberdade." Texto Anterior: FOLHA TRAINEE/A MANCHA DO ANALFABETISMO Pesquisadores vinculam analfabetismo e economia Próximo Texto: Economistas negam relação direta Índice |
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