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Método de alfabetização concebido nos anos 60 ainda é um dos mais
utilizados no Brasil, mas recebe críticas por sua conotação política
Paulo Freire ainda vive na sala de aula
LEONARDO WERNER SILVA
DA EQUIPE DE TRAINEES
Apesar das críticas e controvérsias que surgiram
nos mais de 30 anos desde a sua criação, o método Paulo Freire de alfabetização é ainda um dos mais
utilizados no Brasil. O pensamento do educador é utilizado tanto
nas aulas do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) quanto naquelas dadas
por algumas universidades participantes do programa governamental Alfabetização Solidária. O
método vigora até na Casa de Detenção do Carandiru.
A coordenadora do programa
Alfabetização Solidária da Unesp
(Universidade Estadual Paulista),
Kathya Ayres de Godoy, acredita
que o método ainda é o que mais
gera resultados em adultos.
"Acho menos adequado utilizar
Freire em crianças", diz.
Para Kelli Mafort, pedagoga do
MST, diz que o método freireano
é importante para mostrar aos integrantes do Movimento a realidade em que vivem. "A luta dos
sem-terra acaba sendo o próprio
material didático das aulas."
A coordenadora científica do
NEA (Núcleo de Estudos Sobre
Alfabetização de Adultos) da USP
de São Paulo, Stela Piconez, diz
que o maior mérito de Paulo Freire foi ter centralizado o processo
de alfabetização no educando.
Incômodo para militares
Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 1921, em Recife (PE). Seu
método ficou conhecido nacionalmente com o trabalho realizado na cidade de Angicos (RN), em
1963, onde Freire alfabetizou 300
trabalhadores rurais em 40 dias.
Por isso, foi chamado por Paulo
de Tarso Santos, ministro da Educação do governo de João Goulart, para fazer uma campanha
nacional de alfabetização. Em
1960, 39,6% dos brasileiros não
sabiam ler nem escrever.
Previa-se a instalação de 20 mil
"círculos de cultura" para 2 milhões de analfabetos em 1964. Em
14 de abril, o programa foi extinto
pelo governo militar.
A técnica educacional crítica e
com influência marxista incomodava os militares.
Ainda em 1964, Freire foi preso
e obrigado a exilar-se na Bolívia e
depois no Chile.
Lá, Paulo Freire escreveu "Pedagogia do Oprimido", obra que o
consagrou em todo o mundo. O
livro analisa o analfabetismo como meio de opressão e mostra o
aprendizado como forma de
transformação política. O educador morreu em 1997.
Doutrinação política
A coordenadora da ONG Alfalit
(Alfabetização Através da Literatura), de São Paulo, Sônia Oliveira, critica o método Paulo Freire
pelo seu uso político. "O método
tornou-se ideologia", afirma.
Para Stela Piconez, a crítica deve
ser feita aos "pedagogos que confundem conscientização com
doutrinação política".
Já a pedagoga Natália de Souza
Duarte diz que "o método está ultrapassado" e lamenta "o fato de
ele ser o mais difundido no Brasil". Ela coordena o programa de
alfabetização do Geempa (Grupo
Sobre Educação, Metodologia de
Pesquisa e Ação), ONG fundada
pela deputada Esther Grossi (PT-RS), no Rio Grande do Sul.
O Geempa usa o método construtivista da psicóloga e pesquisadora argentina Emilia Ferreiro,
que realizou um estudo sobre as
etapas da criação de sentido das
palavras na mente de crianças.
Segundo Moacir Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire em
SP, o próprio educador disse que
seu método apresentaria diferenças se fosse elaborado após os estudos de Ferreiro. "Freire sabia
que o método teria que mudar
com a incorporação de novas
conquistas da ciência", afirma.
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