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Paz vigora nas aulas da Febem
DA EQUIPE DE TRAINEES
Às 7h, André, de 16 anos, se
levanta e prepara para ir à escola. Junto com sua turma, ele caminha até onde irá ter as aulas
de quarta série. Para estudar,
André nem ao menos pode deixar o lugar onde vive: a Febem
(Federação para o Bem-Estar
do Menor), onde está internado
há sete meses.
Com ele, estão cerca de 1.100
adolescentes, todos reunidos na
unidade Tatuapé da Febem (zona sudeste de São Paulo). A infração de André foi ter assaltado e, por acidente, incendiado
uma loja em Campos do Jordão
(167 km de SP).
A Escola Oficina Rosmay Kara José, onde ele estuda, funciona numa casa situada em um
local rodeado por árvores, que
lembra mais uma escola pública
convencional do que os prédios
onde explodem com frequência
rebeliões de adolescentes.
André chegou praticamente
analfabeto na Febem. "Eu não
conseguia ler nada direito. Eu
lia gaguejando", conta. Com o
pouco avanço obtido, ele já
consegue ler cartas que seus parentes enviam.
Embalado pelas aulas, seu
cúmplice na infração, Luiz, de
15 anos, já sonha ser um arquiteto quando deixar a Febem.
"Se eu continuar nessa vida, só
tem dois caminhos: ou eu morro ou eu fico paraplégico", afirma o garoto.
Segundo o diretor da escola, o
pedagogo Fernando Gonçalves
Mendes Júnior, a maioria dos
internos que chegam a Tatuapé
são como André e Luiz: têm alguma experiência escolar, mas
não são totalmente alfabetizados. "Há jovens na quinta série
que não conseguem ler uma palavra", diz.
Um levantamentos feito durante o ano 2000 mostra que
8,5% do total de internos da Febem são analfabetos.
Videoteca educativa
As aulas também não se distinguem das de uma escola comum, exceto pelo fato de que os
alunos são levados a discutir
sua própria situação e sobre como abandonar a criminalidade.
Todos os professores são da rede pública municipal.
A escola conta também com
uma videoteca que dispõe de
filmes educativos. Como nem
todos os títulos são dublados,
monitores auxiliam os internos
na leitura das legendas.
A coordenadora dos professores da escola, Rosane Jacino,
diz que não ocorrem episódios
de violência nas salas de aula.
"Até os meninos que não querem assistir respeitam as aulas."
Apenas os internos de 3 das 13
unidades internas (UIs) da Febem Tatuapé têm direito a ter
aulas na escola.
"Pequenas e sem janelas"
Por motivos que vão de falta
de espaço à gravidade da infração cometida, cerca de 800 adolescentes têm aulas dentro das
próprias unidades internas.
De acordo com o gerente de
educação da Febem, o pedagogo João Ribeiro, existem salas
em lugares pouco adequados.
"As UIs 1,2, 5 e 15 têm salas pequenas e às vezes sem janelas."
Um funcionário que preferiu
não se identificar disse que "essas salas são construídas em locais que ninguém mais quer
usar para nada". Ele relata ainda que, na UI-19, existem 25
alunos de primeira à quarta séries unidos em apenas uma sala.
A Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento
Social (que controla a Febem),
através de sua assessoria, disse
que as salas das unidades de Tatuapé não têm problemas.
O andamento das aulas nas
unidades fechadas é prejudicado pela pressão psicológica.
"Na escola, o interno pelo menos dá uma volta ao ar livre e vai
para um lugar mais agradável.
Nas unidades, é como se você
saísse do seu quarto, fosse para
a cozinha tomar café e depois
voltasse para o quarto para ter
aulas", diz Mendes Júnior.
A Folha tentou acompanhar
uma aula no interior da unidade, mas não obteve permissão.
A assessoria de imprensa da secretaria alegou que temia pela
segurança dos repórteres.
(Leonardo Werner Silva)
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