São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Passei muita humilhação", relata João

DA REPORTAGEM LOCAL

Todo último dia do mês, João (nome fictício), 19, gasta R$ 9,20 em quatro conduções para se deslocar da periferia de São Paulo para o fórum criminal da Barra Funda (zona oeste da cidade) e assinar um termo de compromisso. O ritual, seguido há um ano, só vai acabar em março de 2008.
O crime de João foi uma molecagem, como seu próprio pai define. Em setembro de 2005, ele furtou no supermercado um produto que valia menos do que uma das conduções que toma todo final de mês. Tinha recém completado 18 anos.
João foi flagrado com um pacote de biscoitos no valor de R$ 1,47 escondido na calça. Com um amigo, que levava uma garrafa de cachaça e outra de chá gelado, o furto somou R$ 5,10.
Apesar de ser réu primário, ter endereço fixo, estudar e trabalhar, João ficou um mês na cadeia -primeiro em uma carceragem de distrito policial e depois em um CDP (Centro de Detenção Provisória).
Quando saiu, foi liberado à noite do CDP. Teve de caminhar a noite inteira para chegar em casa. "Passei muita humilhação. E o pior foi ver um playboyzinho, que roubou uma loja de perfumes, entrar e sair no mesmo dia da cadeia", disse.
Segundo a pesquisa da promotora Fabiana Costa Oliveira Barreto, presos por furto que não têm advogado particular ficam quase o dobro do tempo do que aqueles que contratam um defensor.
Em 2006, o processo contra João foi suspenso com a condição de que compareça todos os meses ao fórum.
"Eu procuro não pensar mais nisso", disse ele, que voltou a estudar e a trabalhar com o pai. "Meu medo é que, com o nome sujo, eu não consiga um emprego melhor", disse João, que tenta esconder seu passado dos colegas de escola. (GP)


Texto Anterior: Justiça demora 2 anos para decidir sobre furtos de R$ 1
Próximo Texto: Pena de prisão para furto insignificante tem que acabar, afirmam especialistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.