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"Passei muita humilhação", relata João
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo último dia do mês,
João (nome fictício), 19, gasta R$ 9,20 em quatro conduções para se deslocar da periferia de São Paulo para o fórum criminal da Barra Funda (zona oeste da cidade) e
assinar um termo de compromisso. O ritual, seguido
há um ano, só vai acabar em
março de 2008.
O crime de João foi uma
molecagem, como seu próprio pai define. Em setembro
de 2005, ele furtou no supermercado um produto que valia menos do que uma das
conduções que toma todo final de mês. Tinha recém
completado 18 anos.
João foi flagrado com um
pacote de biscoitos no valor
de R$ 1,47 escondido na calça. Com um amigo, que levava uma garrafa de cachaça e
outra de chá gelado, o furto
somou R$ 5,10.
Apesar de ser réu primário, ter endereço fixo, estudar e trabalhar, João ficou
um mês na cadeia -primeiro
em uma carceragem de distrito policial e depois em um
CDP (Centro de Detenção
Provisória).
Quando saiu, foi liberado à
noite do CDP. Teve de caminhar a noite inteira para chegar em casa. "Passei muita
humilhação. E o pior foi ver
um playboyzinho, que roubou uma loja de perfumes,
entrar e sair no mesmo dia da
cadeia", disse.
Segundo a pesquisa da
promotora Fabiana Costa
Oliveira Barreto, presos por
furto que não têm advogado
particular ficam quase o dobro do tempo do que aqueles
que contratam um defensor.
Em 2006, o processo contra João foi suspenso com a
condição de que compareça
todos os meses ao fórum.
"Eu procuro não pensar
mais nisso", disse ele, que
voltou a estudar e a trabalhar
com o pai. "Meu medo é que,
com o nome sujo, eu não
consiga um emprego melhor", disse João, que tenta
esconder seu passado dos colegas de escola.
(GP)
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